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  • Foto do escritorDaniela Fernandes

Orquídeas: a exuberância que fascina



Não perca esse post se você quer saber um pouco mais sobre a história, biologia, usos e formas de cultivar!

As Orquídeas são plantas que encantam pelas flores exuberantes e exóticas. Elas são inconfundíveis.

A família Orchidaceae é uma das maiores dentro do Reino Plantae. Ela apresenta 880 gêneros e 27.800 espécies [1] com distribuição cosmopolita, exceto no continente Antártico. Os gêneros Bulbophyllum (2.000 espécies), Epidendrum (1.500 espécies), Dendrobium (1.400 espécies) e Pleurothallis (1.000 espécies) são os que apresentam maior número de espécies descritas. A manipulação do homem entre essas espécies já produziu de mais de 100.000 variedades de orquídeas híbridas, sendo que

este número continua aumentando. A grande maioria das orquídeas encontradas na natureza está sendo cultivada e está disponível para venda. Muitas são exclusivas para colecionadores. A Orquídea mais cara que se tem notícia é um híbrido produzido em laboratório chamado de Shenzhen Nongke Orchid. Cada planta custa em torno de US$ 200.000,00.



Shenzhen Nongke Orchid

A maioria das espécies cultivadas para a ornamentação no mundo é natural de regiões tropicais ou subtropicais, raras são as de clima verdadeiramente temperado. Alguns exemplos são Ophrys apifera, Anacamptis pyramidalis e Dactylorhiza fuchsii, mas atenção essas espécies não se adequam a nenhuma região brasileira.


O nosso clima possui diversas variações, mas de um modo geral se restringem a equatorial, tropical, semiárido, tropical de altitude, tropical atlântico e subtropical. Acreditem... temos espécies de orquídeas naturais para cada um desses climas.

História entre as orquídeas e o homem

Até onde se sabe, a relação entre as Orquídeas e o homem começou na Antiguidade. Além do encanto pela beleza das flores, também se acreditava que elas teriam poderes curativos e propriedades que protegiam de doenças.

A primeira menção das orquídeas que se tem registrada na história do mundo Ocidental data de algo por volta do ano 300 A.C. por Theophrastus, o pai da botânica, no seu livro Historia Plantarum. Esse livro foi traduzido diversas vezes ao longo do tempo e de suma importância para a construção da base dos estudos botânicos, agrícolas e medicinais.


O termo “Orquídea” foi utilizado pela primeira vez por Dioscorides médico e botânico grego que escreveu o livro De Materia Medica no século I D.C., referência indispensável para botânicos e médicos até a Idade Média. Esse livro também foi traduzido por diversas vezes e em vários idiomas ao longo da história.


No mundo Oriental, parecem existir relatos de usos dessas plantas por volta do ano 700A.C. Na Medicina Tradicional Chinesa, as orquídeas são utilizadas para tratamento de doenças como: gastrites, diabetes, catarata, tonturas, infecções, hipertensão e diversos tipos de câncer [2].

Na Grécia antiga o uso medicinal estava associado à virilidade e fertilidade masculina. No grego antigo ὄρχις (orchis), quer dizer testículo já que suas raízes se assemelham a este órgão masculino (ver foto). Eles acreditavam que se uma mulher comesse a flor, estaria apta a carregar um filho no ventre e continuar a tradição familiar. Portanto, seu uso tinha um apelo afrodisíaco.


Os Astecas (México) faziam um preparado com flores da orquídea Vanilla planifolia e chocolate que era fortificante, e já utilizavam esta orquídea como flavorizante em diversas receitas. O velho mundo passou a conhecer a vanilla Asteca, pois o explorador espanhol Hernán Cortés introduziu tanto a vanilla quanto o chocolate na Europa em 1520. Os espanhóis a chamaram de vainilla que significa pequena vagem. Enquanto que os portugueses passaram a levar para europa baunilha (vanilla em português) vinda da África e Ásia no final do mesmo século. As plantas cultivadas na Europa passaram a ser polinizadas manualmente por conta da falta do polinizador natural.

Nos dias atuais, as três principais espécies de baunilha são Vanilla planifolia (México, Madagascar, Ilha de Réunion e em outras regiões tropicais do Oceano Indico), Vanilla tahitiensis (Sul do Pacífico) e Vanilla pompona (Ilhas do Caribe, América Central e América do Sul). A espécie mais é V. planifólia e os maiores produtores estão em Madagascar e Indonésia. Cabe ressaltar que a baunilha é a segunda especiaria mais cara do mercado perdendo só para o açafrão.

Vanilla planifolia e seus frutos verdes e secos.

A espécie Goodyera oblongifolia era usada por índios americanos da região de British Columbia como um protetor e cicatrizante de feridas. Um pedaço da folha era colocado em cima do machucado [3].


Goodyera oblongifolia

As mais diferentes etnias encontradas em Benin no Oeste da África fazem uso tradicional de diversas espécies como Calyptrochilum christyanum. Eles a utilizam para melhorar sintomas de dores da menstruação, Malária, picada de cobra dentre outras [4].


Calyptrochilum christyanum

Já no continente australiano o povo original (Aborígenes) também se aproveitava das propriedades medicinais de espécies nativas de orquídeas como Cymbidium madidum que era utilizada como um contraceptivo oral e também na cura da disenteria. Outras espécies também eram utilizadas na alimentação como Cymbidium canaliculatum [5].

Cymbidium canaliculatum (esq.) e Cymbidium madidum (dir.)

Atualmente, a importância direta dessas plantas para o homem não se restringe à ornamentação pela sua beleza, mas também a fitoquímica, nutracêutica, alimentação, fragrâncias e cosméticos [6], sendo que essas aplicações remetem aos usos tradicionais que foram registrados em todos os continentes que ocorrem [5]

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Os caçadores de orquídeas

Na metade do século XIX os caçadores de orquídeas às popularizaram dentre os horticultores súditos da Rainha Vitória na Inglaterra, mas também devastaram o seu habitat natural com coletas extrativistas, principalmente retirando exemplares da América do Sul. O líder desse movimento foi Frederick Sander (1847-1920) que além da extração também popularizou a hibridização entre espécies, chegando a publicar a primeira lista de híbridos de orquídeas, contida nos volumes de Reichenbachia Orchids (1888-1894). Os avanços na produção de vidros possibilitaram a construção de estufas que propiciaram níveis de temperatura e umidade mais adequados a essas plantas tropicais. Existe uma tradição de cultivo muito forte na Inglaterra que remonta o século XVIII e se perdura até os dias atuais, sendo o Kew Garden uma referência na catalogação tanto de espécies naturais quanto de híbridos.


Frederick Sander

Híbridos calanthes, victoria regina, bella and burfordiense imagem em volume do livro Reichenbachia Orchids ilustrado e escrito por Frederick Sander..

Origem de Orchidaceae na escala evolutiva

Pesquisas estimam que os primeiros vegetais com características da família Orchidaceae surgiram durante o Mesozoico no período Cretáceo, entre 120 a 65 milhões de anos, mas as pesquisas ainda precisam melhorar um pouco de precisão desse surgimento [1,7].

Com base nas interpretações dos dados de biologia molecular ficaram mais claras as relações entre as espécies e grupos de espécies de Orchidaceae, tornando possível agrupá-las de acordo com suas relações filogenéticas.

De acordo com o sistema APG IV (2016) [8] que o sistemas de classificação mais bem aceito para as Angiospermas. Nele a Família Orchidaceae se encontra dentro da Ordem Asparagales e possui cinco subfamílias como pode ser observado no cladograma abaixo que foi construído com base em estudos filogenéticos utilizando DNA de plastídeos e DNA nuclear, e posteriormente estudos de filogenômica. Para maiores informações neste tema consulte diretamente http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/ .


Sub-famílias de Orchidaceae.

Principais características morfológicas

As plantas que compõem a família Orchidaceae são em sua totalidade herbáceas e perenes. Podem ser terrestres, humículas (se alimentam de matéria vegetal decomposta, mas fazem fotossíntese), epífitas (vivem sobre outras plantas apoiadas sem sugarem a seiva), rupícolas (seu substrato é pedra) e raramente saprófitas (se alimentam de matéria em decomposição e não possuem clorofila nem fazem fotossíntese ex. Rhizanthella gardneri).

Seus caules variam entre rastejantes (rizomatosos), eretos (caulescente) e algumas trepadeiras (caule escandente ex. Vanilla spp.).

As espécies epífitas apresentam uma raiz diferenciada chamada velame ela tem capacidade de aderir à planta sobre outro vegetal e é recoberta por um tecido esponjoso que retém água por muito mais tempo. Outras espécies apresentam pseudobulbos (caules aéreos especializados no armazenamento de água e nutrientes), podendo ser epífitas ou terrestres simpodiais. Essas estruturas se encontram na base do caule ou podem ser o próprio caule dilatado e podem durar aproximadamente cinco anos.

As folhas podem ser ou não suculentas com as nervuras paralelas como é comum nas monocotiledôneas. Entretanto, algumas plantas do grupo Vanilloideae apresentam venação reticulada. As folhas podem ser ovais, lanceoladas ou orbiculadas e variam bastante de tamanho. Geralmente, as folhas estão distribuídas de modo alternado no caule e se dobrando na parte central ao longo do seu comprimento. Apresentam sílica, exceto no grupo Orchidoideae, e fibrosas. A estrutura das folhas depende diretamente do tipo de habitat em que vive. Em espécies de locais mais iluminados e secos têm elas são espessas e coriáceas e, as lâminas são cobertas por uma cutícula cerosa para reter o suprimento de água necessário. Entretanto, espécies de sombra têm folhas longas e finas. Quanto à coloração, podem ser verdes dos mais diversos tons ou ter desenhos das venações, manchas ou cores escuras (ex Macodes sanderiana, Psychopsiella limminghei, Phalaenopsis schilleriana, Ludisia discolor). As folhas também podem estar ausentes como as Dendrophylax lindenii e Taeniophyllum spp. que fazem fotossíntese pelas raízes aéreas clorofiladas.


Folhas não convencionais em Orchidaceae.

O botão floral da maioria das orquídeas apresenta uma torção de 180º do pecíolo fazendo com que a pétala dorsal assuma a posição ventral. As flores podem ser isoladas ou em inflorescências do tipo panículas, racemos ou espiga, encontradas de todas as cores, sendo que azuis são raras na natureza e o preto absoluto não ocorre (apresentam cor vinho muito escura parecendo preto). As hastes com as flores podem surgir da base, nas axilas das folhas ou no ápice das folhas. Flores com simetria zigomorfa composta por seis elementos: 3 externos (tépalas) semelhantes a 2 internos (pétalas) e o terceiro interno totalmente distinto chamado labelo. A parte masculina da flor (Androceu) pode ter dois estames férteis ou, mais frequentemente, um que aparece soldado ao estilete formando a coluna. As anteras são bitecas terminais aos filetes. Os estames se fundem aos carpelos. Os grãos de pólen estão agrupados em políneas nas subfamílias Orchidoideae e Epidendroideae. O ovário é ínfero, tricarpelar, uni ou trilocular.


Um pouco da diversidade de flores em Orchidaceae.

O fruto é uma cápsula deiscente por três aberturas longitudinais. As sementes são diminutas, sem endosperma e precisam de uma relação simbiótica com fungos micorrízicos para garantir nutrientes necessários para germinarem. Como a chance das sementes encontrarem o fungo é muito baixa, a planta compensa essa desvantagem produzindo muitas sementes. Uma cápsula pode chegar a conter 4 milhões de sementes.

As orquídeas também são classificadas quando ao modo que se desenvolvem. Existem espécies com crescimento do caule monopodial e outras com crescimento simpodial.

As que possuem crescimento monopodial o caule cresce a partir de uma única gema, e as folhas vão crescendo no ápice verticalmente. Espécies dos gêneros Vanda e Vanilla apresentam esse tipo de crescimento. O crescimento simpodial é horizontalizado. Essas plantas possuem rizoma, caule paralelo ao chão, de onde saem novos conjuntos de folhas e raízes a cada gema e em alguns casos também bulbos. As plantas dos gêneros Ochis, Ophrys e Cattleya são exemplos desse tipo de crescimento.


Polinizadores

Por conta da forma única das flores, não é incomum que cada espécie de orquídea tenha poucas ou apenas uma opção como polinizador. Esses polinizadores podem ser pequenos pássaros como os beija-flores, pequenos mamíferos como morcegos, algumas espécies de lesmas e uma grande diversidade de insetos como abelhas, vespas, borboletas, mariposas, besouros, moscas, dentre outros e polinização por vento. Em diversos casos, as flores liberam odores que são compostos químicos que podem imitar o ferormônio da espécie que a poliniza, sendo assim o principal atrativo. Outras espécies atraem os polinizadores por possuírem nectários repletos de néctar e a cada visita de flor em flor eles promovem a polinização cruzada. E a atração ainda pode ocorrer por mimetismo, sendo relevantes a forma e as cores das flores. Nesse caso, a flor lembra um parceiro do inseto, fazendo com que ele tente a cópula e assim carregue o pólen de flor em flor.




Existem algumas espécies que realizam autopolinização. Elas são mais comuns em locais frios onde os polinizadores são naturalmente mais raros. Os caudículos (apêndice que sustenta polínias) se secam em flores não polinizadas e isso faz com que a polínia caia diretamente no estigma. Em outros casos a antera pode rodar e entrar na cavidade do estigma. Ex: Holcoglossum amesianum.


O naturalista Charles Darwin descreveu diversos volumes sobre a relação das orquídeas e seus polinizadores, mas uma em especifico ganhou grande destaque. Ele suspeitava que a orquídea Angraecum sesquipedale Madagascar só poderia ter como polinizador uma mariposa com uma longa probóscide capaz de adentrar o seu longo receptáculo, mas ele nunca observou concretamente o fato. Anos após a sua morte foi registrada a polinização de Angraecum sesquipedale por Xanthopan morganii praedicta, uma mariposa com uma probóscide de aproximadamente 33cm de comprimento.


Angraecum sesquipedale (orquidea) e Xanthopan morganii praedicta (mariposa).

As orquídeas possuem uma relação simbiótica com formigas. Elas criam câmaras que conferem proteção para esses insetos viverem. Enquanto que as formigas aumentam a acidez do ambiente, pois liberam ácido fórmico, tornando-o mais propício para as orquídeas viverem.

A espécie rara Rhizanthella slateri, que é clorofilada e saprófita, cresce totalmente debaixo do solo e depende das formigas e outros insetos terrestres para realizar a polinização.


Espécies dos gêneros Phalaenopsis, Dendrobium e Vanda podem realizar reprodução assexuada quando produzem novos brotos a partir dos nós dos caules. Esses brotos são chamados popularmente por “Keiki”.


Gêneros mais comuns para ornamentação

Atualmente, o acesso a exemplares de orquídeas nos grandes centros urbanos foi muito facilitado. Encontramos não só em orquidários, mas também em hortos, lojas de plantas e, mais recentemente, nos supermercados. Os gêneros que são mais frequentes são: Phalaenopsis, Cattleya, Oncidium, Vanda, Paphiopedilum, Miltonia, Dendrobium, Cymbidium e Laelia.



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Referências:

[1]- Givnish, T. J., Spalink, D. , Ames, M. , Lyon, S. P., Hunter, S. J., Zuluaga, A. , Doucette, A. , Caro, G. G., McDaniel, J. , Clements, M. A., Arroyo, M. T., Endara, L. , Kriebel, R. , Williams, N. H. and Cameron, K. M. (2016), Orchid historical biogeography, diversification, Antarctica and the paradox of orchid dispersal. J. Biogeogr., 43: 1905-1916. doi:10.1111/jbi.12854

[2]- Bulpitt CJ, Li Y, Bulpitt PF, Wang J. (2007)The use of orchids in Chinese medicine. J R Soc Med., 100(12):558-63.

[4]- Assédé ESP et al (2017), Folk perceptions and patterns of use of orchid species in Benin, West Africa. Flora et Vegetatio Sudano-Sambesica 20, 26-36.

[5]- C.J. Bulpitt; The uses and misuses of orchids in medicine, QJM: An International Journal of Medicine, Volume 98, Issue 9, 1 September 2005, Pages 625–631, https://doi.org/10.1093/qjmed/hci094

[7]- Ramírez, Santiago & Gravendeel, Barbara & Singer, Rodrigo & R Marshall, Charles & Pierce, Naomi. (2007). Dating the origin of the Orchidaceae from a fossil orchid with its pollinator. Nature. 448. 1042-5. https://doi.org/10.1038/nature06039 .

[8]- APGIII (2009)< http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/> Acessado em 20/03/2019.

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