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Semanário Angolense 369 edição (sem password)

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DIRECTOR GERALGRAÇA CAMPOSDIRECTOR ADJUNTOSILVA CANDEMBOKz 250,00EDIÇÃO <strong>369</strong> · ANO VIIWWW.SEMANARIO-ANGOLENSE.COMSÁBADO • 29 De MAiO De 2010GESTÃO DA MEDIA PÚBLICAJúlio Bessaa caminho da TPA Página 4AIRBUS QUER AGORA ACELERARO CRESCIMENTO, MAS COM CAUTELA Página 23Para quem é a tirada de Manino, sobrevivente e ex-integrante do Kudibanguela?«FRACCIONISMOFOI ENGENDRADOPOR ALGUÉMCOM INFLUÊNCIASOBRE NETO»• Páginas 7-11TEMPO máx minSÁB 29°C 18°CDOM 30°C 17°CSEG 30°C 20°CTER 30°C 20°CQUA 27°C 22°CQUI 28°C 22°CSEX 28°C 22°CFutebol nacional remetido à vulgaridadeAngola <strong>sem</strong> representanteem nenhuma grande LigaFMI autoriza novo empréstimo


2 Sábado, 29 de Maio de 2010.em FocoDa palavra aos actosGraça CamposAlei da probidade, paracuja implementaçãoo Governo pôs todoo seu marketing emcampo, deverá entrar em vigornos próximos.Apresentada pelo Executivocomo a referência para o estabelecimentode uma data de corte,se aplicada a rigor a Lei da Probidadevai obrigar a maior partedos titulares de cargos a fazeremuma declaração de bens, quedeve ser depositada na ProcuradoriaGeral da República. Amesma lei obriga a PGR a manteras declarações sob sigilo. Istoé, nos termos da lei ninguém vaisaber se A declarou tudo quantotem ou se sonegou informação.Por essa razão seria bom quea bem de todo «latim» e dinheiroque investiu na preparação daopinião pública, o Governo dessenotícia de quem já fez a respectivadeclaração.Num país que funciona de«cima para baixo» é importanteque quem está ‹‹lá em cima››mostre aos que estão ‹‹cá em baixo»que o que se anuncia não écoisa para inglês ver.Um exercício desta naturezavai ajudar a melhorar a reputaçãodos políticos, a respeito dequal (reputação) o próprio Presidenteda República admitiu emDezembro que não andava nadaboa.Por outro lado, se há o entendimentode que se estabeleceuuma data de corte, ninguémdeve temer absolutamente nada,independentemente da formacomo se tornou rico.É importante, também, quedaqui para diante a InspecçãoGeral do Estado, o Tribunal deContas e o Parlamento assumamuma postura «pró-activa».Já se viu que a evocação da datade corte e a aprovação da lei daprobidade não inibiram os maisassanhados de botarem a mãoao que diz respeito a todos nós.Fazem-no por via do velho expedientedo ajuste directo oude outras artimanhas (o casode Malanje, envolvendo o GrupoA lei da probidadeestabelece o limitepara muitos actos.Mas a sua «ratificação»por parteda população, que,pelos vistos, é umaaposta do PresidenteJosé Eduardodos Santos, dependerádo que for feitoa céu aberto. OGoverno e os seusmembros não perdemnada se nós cáem baixo ficarmosa saber que A, B eC, «colocados» láem cima já declarama «bufunfa»que acumularamDirector: Graça Campos Director-Adjunto: Silva CandemboEditores — Editor Chefe: Severino Carlos; Política: Severino Carlos; Economia: Cristóvão de Sousa Neto;Sociedade: Salas Neto; Cultura: Salas Neto; Desporto: Silva CandemboRedacção: Rui Albino, Baldino Miranda, Adriano de Sousa e Pascoal MukunaColaborades: Sousa Jamba, Fernando Macedo, Kanzala Filho, Manuel Rui,Luís Kandjimbo, Kenneth Muanji, Anastácio Ndunduma, Josué Sapalo, Kajim-Bangala, Peter James, Maurílio Luiele,Adriano Botelho de Vasconcelos e Celso MalavolonekePaginação e Design: Sónia Júnior (Chefe) e Patrick Ferreira Fotografia: Nunes Ambriz e Virgílio PintoImpressão: Lito Tipo Secretária de Redacção: Antónia de AlmeidaAdminstracção e Vendas: Marta PisaterraPublicidade e Marketing: Antónia de Almeida (Chefe) e Oswaldo GraçaAntónio Feliciano de Castilho n. o 103 • Telf. 263506 • LuandaRegistro MCS337/B/03 Contribuinte n. o 0.168.147.00-9Propriedade: Semanário <strong>Angolense</strong>, Ltda. República de AngolaDirecção: direccao@<strong>sem</strong>anario-angolense.com; Edição: edição@<strong>sem</strong>anario-angolense.com;Política: politica@<strong>sem</strong>anario-angolense.com; Economia: economia@<strong>sem</strong>anario-angolense.com;Sociedade: sociedade@<strong>sem</strong>anario-angolense.com; Cultura: cultura@<strong>sem</strong>anario-angolense.com;Desporto: desporto@@<strong>sem</strong>anario-angolense.com; Redacção: redaccao@<strong>sem</strong>anario-angolense.com;Administracção e Vendas: administraccao@<strong>sem</strong>anario-angolense.com;Publicidade e Marketing: publicidade@<strong>sem</strong>anario-angolense.com; sítio: www.<strong>sem</strong>anario-angolense.comAs opiniões expressas pelos colunistas e colaboradores do SA não engajam o Jornal.Gema é sintomático).A lei da probidade estabeleceo limite para muitos actos. Masa sua «ratificação» por parte dapopulação, que, pelos vistos, éuma aposta do Presidente JoséEduardo dos Santos, dependerádo que for feito a céu aberto.O Governo e os seus membrosnão perdem nada se nós cá embaixo ficarmos a saber que A, Be C, «colocados» lá em cima jádeclaram a «bufunfa» que acumularam.Em questões como estabelecimentode confiança entre políticose eleitores mostrar como sefaz coisas é tão importante comomostrar o que se espera fazer.De resto, é isso que prevalece emalturas de campanha, onde, convenhamos,imperam um poucoa promessa e o populismo.Dito tudo isto vamos esperarcom muita expectativa como oExecutivo vai gerir a «segundafase» da sua cruzada contra acorrupção. Aqui no Semanário<strong>Angolense</strong> não há a menor dúvidaem como esta batalha nãoserá ganha apenas com comunicadose promessas.Às vezes parece-nos que apromessa «de se levar à justiçaos que vierem a ser achados culpadosde abusos e excessos» jápassou para as calendas gregas.Seria mau também que a promessade execução à letra dalei da probidade se ficasse pelaspalavras e não pelos actos.Se alguém se esqueceu, convémrecordar que apesar de ter conquistadoa paz, e de ter conseguidohá anos estabilizar aeconomia, a marca principal dopartido que nos governa é a incapacidadede conseguir provarque é possível criar uma classede ricos <strong>sem</strong> aumentar o númerode pobres. ■QUi20MAiOSeX21MAiOSÁB22MAiODOM23MAiOSeG24MAiOTeR25MAiOQUA26MAiOQUi27MAiOFUTUROS DONOSParte dos três mil apartamentos da chamada novacidade do Kilamba Kiaxi e do Zango, com entregaprevista para Julho próximo, será vendida a trabalhadoresda função publica, enquanto as restantes serãocomercializadas por uma empresa. Todos estão expectantes.A ver vamos.NOVO NÚNCIO APOSTÓLICONovatus Rugambwa, o novo núncio apostólico emAngola, já está entre nós. Rugambwa, que foi nomeadopelo Papa Bento XVI em Fevereiro deste ano, substituiDom Ângelo Becciu. Será ele a representar doravante osinteresses do Vaticano no nosso país.EMPATE COM MALAWIDecepção. Esperava-se mais do que um empateno jogo entre as selecções de Angola e Malawi (1-1). Falta de finalização foi o que se viu nos Palancas,nesta que foi a «primeira mão» da eliminatória parao CHAN. Angola vai de pernas bambas para o desafioda 2ª mão no Malawi.MAIS MUNICÍPIOS?A reorganização e divisão administrativa que oMAT está a levar a cabo não fica apenas por Luandae Bengo. Mais províncias terão as suas fronteiras alteradas.Bornito de Sousa disse isso em Benguela, ondeCatumbela foi elevada à categoria de município. Maso MPLA não chumbou?VISTOS PARA ÁFRICA DO SULNão vai ter problemas quem quiser viajar para aÁfrica do Sul e já tiver bilhete para assistir os jogos doMundial 2010. Para estes, a embaixada sul-africanaestá a conceder vistos especiais que serão emitidoscom maior rapidez que os vistos normais. E são gratuitostambém. Vá lá!DIA DE ÁFRICAFaz 47 anos desde que foi criada a Organizaçãode Unidade Africana, antecessora da actualUnião Africana. Desde então a data passou aser considerada como o dia de África. Jornadaoportuna para pensar nos desafios do continentenegro e no legado para as futuras gerações.SUGESTÕES DE SAMAKUVAAs jornada de campo de Samakuva em Luandanos dois últimos meses terão gerado «frutos» para osseus estrategos. Depois de ver como estão bairros einfra-estruturas básicas, o líder da UNITA decidiuapresentar ao GPL um memorando com contribuiçõespara a gestão da capital.KABANGU FORA DA ANNo que depender do comité central da FNLA, NgolaKabangu em breve vai deixar de representar o seupartido na As<strong>sem</strong>bleia Nacional. Essa vontade foi expressano comunicado final daquele órgão após umareunião de preparação do Congresso Extraordináriode Julho.


Sábado, 29 de Maio de 2010. 3em FocoGestão da mídia públicacomeça a ganhar formaAindicação dos conselhos de administraçãodas empresas públicas de comunicação socialpoderá ser sancionada nas próximas horas .Salvo qualquer imprevisto, e nestas coisasde nomeações só se tem a certeza quando os despachossão publicados, Júlio Bessa , antigo ministro das Finanças,é dado como estando a caminho do Conselhode Administração da Rádio Nacional, onde ocuparia ocargo de presidente.A Rádio Nacional de Angola não tem director desde 6de Junho de 2007, altura em que o ex-ministro ManuelRabelais afastou Alberto de Sousa do cargo.Alberto de Sousa tinha sido nomeado a 13 de Janeirodo mesmo.Diógenes de Oliveira, antigo director da EPAL e daCuca, é dado como certo na presidência do Conselho deAdministração da Televisão Pública de Angola.A TPA é gerida por uma comissão de gestão desdeMaio do ano passado, altura em que Manuel Rabelaisafastou o então director, Fernando Torres Vieira Diasda Cunha. Vieira Dias da Cunha tinha sido nomeadono dia em que Alberto de Sousa foi elevado à condiçãoJÚLIO BESSA a caminho do CA da RNAde director da RNA.A TPA é liderada desde Maio passado por uma comissãoque tem à testa Hélder Barber, afastado recentementedo cargo de director do Centro de Documentação eInformação do Ministério da Comunicação Social.A remodelação recomendada pela ministra CarolinaCerqueira poderá colocar Sérgio Santos, na presidênciado Conselho de Administração do Jornal de Angola.Segundo o que apurou o Semanário <strong>Angolense</strong>, oprocesso mais atrasado é o da Angop, que tem comodirector Manuel da Conceição, no cargo há mais de 10anos.Se as propostas que a ministra submeteu ao ministrode Estado para a Economia prevalecerem, a TPA, RNA eo Jornal de Angola serão liderados por actuais membrosdo parlamento pelo MPLA.O formato gizado por Carolina Cerqueira e ManuelNunes Júnior prevê a entrega da gestão administrativaaos Conselhos de Administração que nesta matériaficará acima dos directores. Não é líquido se os directoresterão ou não terão assento nos Conselhos de Administração.■«Houston Express» provocainovações no 4 de FevereiroAexploração, pela Sonairda linha Luanda-Houston, conhecidacomercialmente como«Houston-Express» vai provocarinovações no aeroporto de Luanda,assim como nas ligações entreaquelas duas cidades.Ao fim de mais de 6 meses deconsultas a agência de segurançade transportes dos EstadosUnidos, TSA, e a AdministraçãoFederal para Aviação, FAA, deramluz verde à continuação daexploração daquela por aviões daSonair, subsidiária da Sonangol ,apurou o Semanário <strong>Angolense</strong>junto de fontes afectas à aviaçãocivil angolana.O «agreement» que a TAAGe o INAVIC receberam há cercade dois meses junto da UniãoEuropeia território para onde osaviões da TAAG estavam impedidosde voar melhorou substancialmentea cotação de Angolajunto da TSA e da FAA.Porém, estas duas agências dosEUA mantinham fortes reservasrelativamente à segurança no aeroportode Luanda.Despachados para Luanda parafazerem um levantamento ao aeroportoda capital , os peritos daTSA registaram lapsos traduzidosna circulação arbitrária de váriaspessoas por áreas reservadas, assimcomo a «excessiva» proliferaçãode instituições ligadas à segurança.«Além de um corpo depolícia, há diversas companhiasde segurança, agrupadas de maneiraque numa situação de emergêncianão se distingue a cadeiade comando».Os peritos da TSA conseguiram,em mais de uma ocasião,surpreender as autoridades angolanascom fotografias de áreas reservadasàs quais tiveram acessoilimitado.A questão da segurança foi umdos principais temas debatidosdurante a visita que o sub-secretáriode Estado norte-americanoWilliam Burnes efectuou a Luandaa 21 de Abril. Segundo o queapurou o Semanário <strong>Angolense</strong>,este assunto fez parte das consultasque ele manteve em Luandacom o presidente José Eduardodos Santos.A parte norte-americana voltoua colocar as mesmas preocupaçõesuma <strong>sem</strong>ana depois, poraltura da visita que o ministrodos Transportes, Augusto Tomás,efectuou aos EUA, durante a qualalém de ter sido selada a aquisiçãode dois aviões pela TAAG foi assinadouma acordo de cooperaçãono domínio da aviação.Segundo o que apurou o Semanário<strong>Angolense</strong>, observaçõesfeitas pelo ministro Tomás na alturarelativas aos progressos registadosno aeroporto de Luandaconvenceram os peritos dos EUA


4 Sábado, 29 de Maio de 2010.em Foco■a fazerem nova visita a Angola,que deverá terminar hoje com aremoção da maior parte das restrições.Nas observações que colocaramtanto em Luanda como emHouston, os peritos norte-americanosquiseram saber porquerazão os «VIPs» angolanos nãosão sujeitos ao mesmo escrutínioa que são sujeitos outrospassageiros.Segundo o que apurou o Semanário<strong>Angolense</strong>, a preocupação«não é tanto em relação aos VIP<strong>sem</strong> si, mas da quantidade de pessoasque reclama tratamento protocolar,e que desta se esquivamdo rigor imposto aos passageirose aviões que tenham os EUAcomo destino».Fontes familiares à negociaçãodisseram ao Semanário <strong>Angolense</strong>que em resultado de preocupaçõeslevantadas pelo peritos dosEUA, será reduzido o número deempresas de segurança em serviçono aeroporto 4 de Fevereiro.De igual modo a operacionalidadedo terminal Aéreo Militarserá alterada, sendo certo que a«bagunça» registada na circulaçãode pessoas naquela área seráASonair, subsidiáriada Sonangol,oferece a partirda próxima terça-feiraum novo serviço nalinha Luanda-Houston.Os passageiros que habitualmenteusam os voosda Sonair para a capitaldo petróleo nos EUA serãoconfrontados com umainovação: o velhinho MD11, conhecido pelo confortodas cadeiras e pela sua eficiência,dará lugar a um dosdois Boeing 747-400,especialmenteadquiridos paraservir naquela linha.A inovação põe fim àparceria que a subsidiáriada Sonangol tinha estabelecidohá 10 anos com aWorld Airways. A Sonairestá ligada agora à AtlasAir. A Sonair vai manter astrês frequências <strong>sem</strong>anaisigualmente «corrigida». Em viasde mudança está também o embarqueindiscriminado de civi<strong>sem</strong> aviões militares, questão assinaladacomo sendo uma das razõespara a elevada circulação depessoas naquela área.Estas e outras anomaliaslevaram os peritos da TSA aconsiderar o aeroporto de Luandacomo não apto para o estabelecimentode voos directosentre Luanda e qualquer cidadenorte-americana.As observações feitas por AugustoTomas em Washington, eas constatações que os «experts»registaram em Luanda, resultaramno prolongamento dodireito de exploração da linha,que em princípio deveria expirareste fim de <strong>sem</strong>ana.Segundo o que apurou o Semanário<strong>Angolense</strong> os dois governosestão a considerar o recursoaos serviços da LockeedMartins, companhia que recebeucrédito pelas melhorias registadasnos aeroportos de Accra, noGhana, e de Abuja, na Nigéria.A Lockeed desenvolve trabalhoidêntico no aeroporto de Monróvia,na Libéria. ■Na linha de HoustonSonair muda de parceiroA NOVA AERONAVE da Sonairque ligam Luanda a Hosuton.O uso do Boeing 747-400 permite à Sonair operarcom 10 lugares em primeiraclasse, 143 em Executiva e34 em económica. A aparentedesproporção entre«executiva» e económicaresponde a um pedido dascompanhias petrolíferas,que querem reservar parao seu pessoal tratamentodiferenciado. Esta inovaçãofaz da Sonair a companhiaque mais lugares oferecenesta categoria.O novo avião deverá chegara Luanda este fim de <strong>sem</strong>anae o primeiro voo donovo serviço sairá da capitalangolana terça-feira 1 deJunho.Os voos da Sonair são reservadosexclusivamente acompanhias vinculadas aomercado petrolífero. ■Parlamento transfere poderesdo BNA para o GovernoNa mesma <strong>sem</strong>ana em que o FundoMonetário Internacional emitiu a suaprimeira revisão relativa à execuçãodo programa que acordou com o Governoangolano em Novembro passado e no qualfaz novo apelo a eliminação de procedimentosadministrativos na gestão da economia, o nossoParlamento aprovou uma lei que transfere para oExecutivo poderes até aqui reservados ao BancoNacional de Angola.Aprovada pelos 152 deputados presentes, anova lei coloca o banco central na condição deobservador no que toca à fixação de taxas de juro,gestão e fiscalização das reservas decorrentes davenda de petróleo assim como a realização deOFundo MonetárioInternacional deu oseu «agreement» paraque as autoridadesangolanas possam ir ao mercadointernacional buscar dinheiropara execução das obras que julgamser importantes para execuçãoda sua agenda.Num relatório de 64 páginaspublicado quinta-feira, e noqual faz a primeira revisão doprimeiro programa acordadoem Novembro Angola, o FMIdiz entender as razões evocadaspelo Governo no pedido que fezpara que exceda o limite de 2 milmilhões de dólares acordadosnaquela altura.O argumento do Governo foisustentado numa carta que osministros Manuel Nunes Júniore Carlos Alberto Lopes enviaramao Fundo Monetário Internacionala 16 de Abril, e que oFMI tornou pública na última<strong>sem</strong>ana. Na carta os governantesangolanos admitiam já quea elevação do limite para 6 milmilhões de dólares poderia nãoser suficiente pelo que gostariam«de enfatizar que este tecto deveráser sujeito à revisão constantedevido à flutuação do preço dopetróleo e a aspectos ligadosàs necessidades financeiras doGoverno››.O FMI não comentouesta observação do Executivo.O Governo dizia também queuma parte dos projectos que temem carteira já foram sujeitos aosprocedimentos requeridos poragências de crédito e de seguroassim como pelos organismosdo Estado angolano, entre osquais o Tribunal de Contas. A 10de Maio o «board» do FMI autorizoua libertação de 175 milhõesde dólares, elevando entãopara 514 o montante disponibilizadodesde Novembro, alturaem que chegou a um acordocom o Governo para assistênciana execução de um programapara o qual comprometeu-se a«largar» um total de 1.3 mil milhõesde dólares. A reunião de 10de Maio do «board» ficou aindamarcada pela concordância doFMI em como a economia angolanatinha registado sinais assinaláveis.A revisão oficializada estaquinta-feira retoma as observaçõesa 10 de Maio. No documentolibertado esta <strong>sem</strong>ana oleilões virados para a fixação do valor da moedanacional.Segundo escreve a Reuters, que cita o postuladoda nova lei, « o Banco Nacional de Angola deixaráde determinar a política financeira, monetária,assim como a política sobre moeda externa». Aoinvés, «terá o papel de «participante» ao lado doGoverno.Falando à Reuters, o vice governador do BNA,Ricardo Viegas, disse que o banco central continuaráa ter um papel activo na questões relativas ápolítica monetária.A medida foi tomada nalguns sectores comoum contra-senso . «Bate de frente com o FMI» ereduz a autonomia do banco central››. ■FMI autoriza novo empréstimoFMI diz a propósito da situaçãocambial que o BNA tem limitaçõesna absorção da liquidezque emana dos bancos comerciais.Acrescenta também que apermissão para os bancos mantenhamas reservas nos padrõesque se conhecem dá azo á especulação.Estas e outras nuances levaramo FMI a «subscrever» aproposta do governo de revisãodo Orçamento geral de estado,que segundo o executivo deveráacontecer entre Julho e Agosto.A primeira revisão deveriater lugar em Março, mas antea ausência de na publicação nodiário da república do OGE, oFMI adiou ta procedimento, oque colocou o governo sobrepressão.A revisão do OGE e consequentepublicação no DR comprometeo Governo perante oFMI.No documento que publicouesta quinta-feira o FMI tomanota da promessa do governoem «subscrever» legislação internacionalrelativa a combatera lavagem de dinheiro e o financiamentodo terrorismo. ■


6 Sábado, 29 de Maio de 2010.em FocoFeitas há mais de dois anos!Conselho Superior da Magistratura pode estar afazer «ouvidos de mercador» a queixas contra juízaNão faz muito tempo o antigobastonário da Ordem dos Advogadosde Angola (OAA) denuncioua existência de corrupçãona classe dos juízes, com o que provocouum verdadeiro tsunami na justiça angolana.Por entre trocas de palavras entre asdistintas instituições do poder judicial adenúncia parece ter ficado por isso mesmo,pois nunca mais se ouviu falar do assunto.Agora, mais uma vez, a classe dos juízesangolanos está a ser posta em causa.De acordo com fontes judiciais, o ConselhoSuperior da Magistratura pode estar aignorar queixas chegadas à instituição envolvendoa juíza jubilada Maria ManuelaNovais, que servira na sala de família doTribunal Provincial de Luanda.Em relação à magistrada em causa hámuitas queixas de conduta menos apropriada.Entre as várias acusações contra ajuíza avulta uma de usurpação de estadocivil de outrem e outra de falsificação dedocumentos que deu entrada no ConselhoSuperior da Magistratura há sensivelmentedois anos. Contudo, esta instância judicialnunca deferiu a petição dos reclamantes,que se julgam prejudicados pela inexplicáveldemora em obter uma posição.De acordo com a nossa fonte, que preferiunão ser identificada, e a julgar pela correspondênciarecebida na instituição, os reclamantesesperam por uma posição do ConselhoSuperior da Magistratura, à luz do seuregulamento. «Não esperam propriamenteum processo judicial mas um procedimentodisciplinar, pois parece haver evidênciasmais do que suficientes de que a juíza emcausa teve conduta imprópria», disse a fonte.A nossa fonte disse que o caso, na suaóptica muito grave, pode ter sido «engavetado»o que os deixa a sensação de que hámagistrados acima da Lei que eles própriospretendem fazer cumprir.De acordo com a legislação em vigor,no caso de um magistrado judicial incorrerem comportamento inadequado coma sua posição, há lugar a uma sanção disciplinar(aqui entra o Regime Disciplinardos magistrados judiciais), <strong>sem</strong> prejuízopara eventual procedimento judicial. Naverdade, isto mesmo está plasmado na lei7/94 que define o estatuto dos magistradosjudiciais e do Ministério Público. No seucapítulo II, aliás, define e atribui as competênciasdo Conselho Superior da Magistratura.Fazendo fé na nossa fonte, as queixascontra a juíza Maria Manuela Novais sãomuitas. De tal sorte que podem ter ditadoa sua jubilação há uns anos, eventualmenteum artifício para livrar-se de possíveissanções disciplinares, caso fosse provadoque ela efectivamente agiu fora dos marcosestabelecidos pelo Regime Disciplinar dosMagistrados Públicos.Mas, ao que o Semanário <strong>Angolense</strong>pôde apurar, Maria Manuela Novais não éa única juíza a respeito de quem há queixas.Segundo a nossa fonte, há mais magistradosdenunciados há já alguns anos por motivosque vão desde a suposta condução dejulgamentos em estado de embriaguez atéa recebimento de valores monetários parajulgar a favor de uma das partes litigantes.Apesar de todas essas denúncias, nasquais se incluem as do antigo bastonário daOAA, nunca nenhum magistrado públicofoi admoestado por comportamento inadequado.Pelo menos que seja do conhecimentodo grande público.Para apurar a verdade dos factos, naquarta-feira última, 26, véspera do fechoda presente edição, o Semanário <strong>Angolense</strong>ouviu o secretário-geral do Conselho Superiorda Magistratura, que identificou-secomo se chamando António, escusando-se,entretanto, a dizer o seu sobrenome. Afirmou-nosque no momento não reconheciao nome da juíza em causa, mas que paracasos do género era necessário formalizarum pedido afim em carta endereçada à instituição.O Semanário <strong>Angolense</strong> conta em próximasedições voltar a público com maisinformações sobre o assunto. ■Por falta de condiçõesBombeiros doentesMuitos elementos do corpo de bombeiros do quartel centralde Luanda debatem-se com sérios problemas desaúde decorrentes da sua actividade laboral. As enfermidadesmais frequentes são as do foro respiratório,avultando entre estas a tuberculose, segundo disseram ao nossojornal alguns membros da corporação, que preferiram não ser identificados.De acordo com eles, as doenças decorrem da falta de condiçõesde trabalho, visto que a maioria das máscaras usadas na distintasoperações anti-incêndio não estão em condições e muitas da botijassão levadas para os locais do sinistros <strong>sem</strong> oxigénio.Em face dessa situação, são vários os soldados que ponderam oabandono temendo pela vida, algo que só não acontece em grandeescala porque a maioria dos bombeiros não tem outras profissões.Contudo, alguns poucos já bateram com a porta para não seguiremo mesmo caminho de colegas que foram colhidos por doenças decarácter respiratório.Isto é caso para questionar se em Luanda é assim o que estará aacontecer noutras províncias, onde tudo chega <strong>sem</strong>pre muito maistarde, visto que o ponto de partida é a capital do país? ■Mexidas nas missões diplomáticasOministro das RelaçõesExteriores, Assunçãodos Anjos deve procedera remodelaçõesno quadro de pessoal de algumasrepresentações diplomáticasde Angola, segundo apurouo Semanário <strong>Angolense</strong> de boafonte. As «mexidas» serão ao nívelde cônsules e adidos, já queapenas o Presidente da Repúblicatem competência para exonerarou nomear embaixadores.As mudanças que devemacontecer ainda este ano visamsimplesmente a rotatividade dosquadros, que já completaram otempo de comissão ordináriade serviço. Nesta contingência,no passado dia 13 de Abril osfuncionário visados receberamum aviso afim em que se lhesrecomendavam que «devem estarpreparados para o eventualtermo da comissão de serviço»,algo que foi reforçado num segundoaviso, de 5 do correntemês.Segundo a nossa fonte, sãoseis os cônsules avisados paraarrumarem as malas, sendo quealguns deles eram considerados«intocáveis» por estarem nosrespectivos postos há mais deuma década. A lista é compostapor Mário Leonel Correia (Cidadedo Cabo/África do Sul),Simão Pedro (Houston/EstadosUnidos da América), NarcisoEspírito Santo (Joanesburgo/África do Sul), Manuel LevyCaumba (Mongu/Zâmbia), JúliaAssunção Machado (NovaIorque/Estados Unidos da América),João Alberto da Silva Gaspar(Oshakati/Namíbia), Mariade Jesus dos Reis Ferreira (Porto/Portugal)e Judith da Costa(Rundu/Namíbia).A relação nominal inclui aindauma agente consular e 10adidos (maioritariamente financeiros).A nossa fonte garantiu,porém, que o número de diplomatasa regressar para casa podeser muito maior, na medida emque os nomes constantes nestetrabalho referem-se a uma «ListaII». Por isso, há seguramenteuma «Lista I», a qual a nossafonte não teve acesso.O Semanário <strong>Angolense</strong> soube,por outro lado, que os «avisos»permitiram que algunsvisados tratas<strong>sem</strong> de meter«cunhas» para manterem os cargos,mas ao que tudo indica, oministro, conhecido na politicanacional como «Le Grand» porconta do seu tamanho descomunal,não vai embarcar em tráficosde influência. ■


Sábado, 29 de Maio de 2010. 7Capa27 de MaioManino, ex-integrante do «Kudibanguela» e sobrevivente da purga«O fraccionismo foi engendradolaboratorialmente por alguémque exercia influência sobre Neto»Por altura do 27 de Maio de 1977, página negra deste país cuja efeméride foi assinalada na passadaquinta-feira, Emanuel de Jesus Conceição Costa «Manino» era funcionário do Ministério da Informaçãoe integrante do programa radiofónico «Kudibanguela», que, apesar de ter sido autorizado pelo entãopresidente da República, António Agostinho Neto, foi por este último extinto, por se ter tornado «inconvenientee incómodo» para as autoridades, pois passara a apoiar os ideais de Nito Alves e seus seguidores.Manino, que falou ao Semanário <strong>Angolense</strong> sobre este e outros assuntos correlacionados, não temdúvidas que o «fraccionismo foi um fenómeno laboratorialmente engendrado por alguém que exerciaforte influência sobre Agostinho Neto». Por isso advoga que se constitua uma comissão de verdade e reconciliação,defendendo simultaneamente que se avance com um processo de identificação de valas comunse se confira sepultura condigna aos que foram «vítimas de emoções exacerbadas, desígnios inconfessos,excessos de zelo e vinganças pessoais». É mais um testemunho de um sobrevivente do «27».Pascoal MukunaSemanário <strong>Angolense</strong> (SA) –Completam-se agora 33 anossobre os acontecimentos do 27de Maio de 1977. Já perdoou osseus algozes ou ainda está ressentido?Manino – Penso que, se não todos,a maior parte dos meus correligionárioscomungam do princípiode que tudo está perdoado,mas nada está esquecido. Eu nãofujo à regra. Agora, transportocomigo a convicção de que o perdãoou a ausência dele não têmnada a ver com o ressentimento,que eu ainda preservo. Há 33 anoseu já tinha vida constituída, comgarantia de que os filhos que vies<strong>sem</strong>,dentro das limitações intrínsecas,teriam uma educação <strong>sem</strong>sobressaltos. Hoje, cada dia paramim é um recomeço de vida. Háalturas em que tenho de fazer umaginástica tremenda para suportar,até, despesas do dia-a-dia. Tenhosérias razões para conservar essesressentimentos; acho que não é poresse crime que tenho que ser condenado.SA – Muita gente defende quese constitua uma «Comissão daVerdade e Reconciliação». É damesma opinião?Manino – Sem dúvida. E podeter a certeza de que essa opiniãoé partilhada por não poucos militantesdo MPLA. Note que háespíritos que precisam de ser apaziguados.Há mães, irmãos, esposas,que clamam por consolo moral.Há cidadãos em vida e muitosoutros milhares que, mesmo paraalém do facto de estarem mortos,ainda têm uma reputação, umego, uma dignidade beliscados. Háa necessidade de se ressarcir essescidadãos lesados, quer moral quermaterialmente. Tudo isso podebem ser reposto com a vontade eboa fé das partes envolvidas emtodo esse processo e ninguém sairáa perder. A flexibilidade numanegociação é uma manifestação deperspicácia e inteligência. Da intransigênciae casmurrice só resultamatrasos e desilusões. Acho quedevemos ter pressa, sim, de levar oconsolo e a paz de espírito aos coraçõesdas mães, esposas, filhos eamigos daqueles que deram a vidapor uma causa que ninguém temsido capaz de poder provar quenão terá sido justa.SA – Como define politicamenteNito Alves?Manino – Coerente, corajoso efrontal. Impulsivo, um pouco, ouse calhar, muito. Mas quem, dentreos que fizeram história, querangolanos, quer de outras paragens,não o terão sido, naquelaidade? Todavia, dotado de muitosoutros atributos que faltavam emmuitos políticos do momento e,mesmo assim, a faltar em muitospolíticos de agora.SA – Na sua opinião, quais foramas razões que estiveram nabase do levantamento de 27 deMaio?Manino – Hoje, 33 anos volvidossobre o fenómeno, seria, emmeu entender, como que extemporâneoapontar razões que possamter determinado o levantamentode 27 de Maio. As razões, sendopontuais e de vária índole, poderão,todavia, não reflectir justezanas decisões que cada uma daspartes assumiu. Mesmo porqueem política não há verdades absolutas:cada parte formata, divulgae promove a verdade que lhe convém,e assume-a como bastantepara partir contra a parte beligerante.Eu costumo dizer que asrazões que até agora têm sido esgrimidas,quer de um lado quer deoutro, não constituíram, verdadeiramente,o «leit-motiv» para o levantamento.As que vamos apontandosão simples manobras dediversão. E digo são (porque continuama ser) pelo facto de quemproduziu o fenómeno continuar atirar dividendos da situação.SA - Tais razões subsistem,será que os angolanos terão empobrecidomais?Manino – Uma coisa lhe possoO que quero dizer é que o «fraccionismo» como fenómeno, foinos«impingido» por encomenda. Se calhar, o próprio presidenteNeto deve ter-se distraído!garantir: mais rico, o povo angolanonão está. E é obvio que as razõesque eu tenho como verdadeirassubsistem. De tal forma que setorna cada vez mais evidente queo fenómeno «Fraccionismo» terásido laboratorialmente engendradopor alguém que exercia umainfluência muito forte junto dopresidente Neto. O que quero dizer– e isso é minha opinião – é queo «fraccionismo» como fenómeno,foi-nos «impingido» por encomenda.Se calhar, o próprio presidenteNeto deve ter-se distraído! Neutralizadaa tal corrente opositora,foi apenas uma questão de tempopara se evidenciarem as diferençassociais. Agora, os «coiotes» já podemsair das suas tocas e ostentaras riquezas, como se de pecúlios deguerra se tratas<strong>sem</strong>!SA – Acha possível a economiade um país desenvolver-se enquantoos seus cidadãos se tornamcada vez mais pobres?Manino – Então não acho? Só ofacto de estarmos a viver essa situaçãoevidencia clamorosamente essapossibilidade. E isto não é coisa deoutro mundo, embora seja tambémperda de tempo tentar procurar razões.Amigo: o que não tem remédio,remediado está! ■


8 Sábado, 29 de Maio de 2010.CapaComissões Populares de BairroO rastilho da purga«Sobre os números adiantados pelas autoridades do país, garanto que existe um erro muito por defeito. Mesmo porque eu tinhamais de 200 amigos e conhecidos, noventa por cento dos quais não vejo há 33 anos!»SA – Fale um pouco sobre asantigas Comissões Populares deBairro que também estiveram nocentro das divergências.Manino – Não são antigas, porquese aquelas não tives<strong>sem</strong> sidocriadas, as actuais não existiriam.A CPB do Sambizanga foi criadaem Maio de 1974, na casa da D.Juliana Paim, minha mãe, onde euainda vivia, e não foi nada difícilconvencê-la a aderir ao projecto.Aliás, naquela altura a «velha» sótinha 48 anos. Da direcção da CPBdo Sambizanga nasceu a ideia danecessidade de um órgão coordenadorde todas as CPB’s a nívelde Luanda. Quando as condiçõesestavam totalmente criadas paraa concretização desse desiderato…apareceram os outros «cabeças desérie» a reivindicar o protagonismoda ideia e a liderança do projecto.É aí que a unidade no seio dasCPB entrou em rota de colisão. Eessa rota de colisão terá funcionadocomo um vírus óptimo para aprodução «laboratorial» do «Fraccionismo».Depois, a dis<strong>sem</strong>inaçãodesse vírus era o passo que se impunha.SA – Manino, você integrou aequipa do programa radiofónico«Kudibanguela». Qual terá sidoo papel desse programa, no contextodo levantamento do «27 deMaio», e quais os objectivos?Manino – O Kudibanguela, apartir do momento em que deixoude servir os interesses do MPLA,foi extinto. O Presidente Neto, quehavia «assinado por baixo» quandoa ideia de criação do programalhe foi apresentada, não teve dedecretar a sua extinção: convidoua equipa para um jantar, no decursodo qual anunciou que, a partirdaquele dia… não mais kudibanguela.Ele disse para nós, nesse jantar,cito: «…camaradas, convém aoMPLA que o Kudibanguela nãomais vá para o ar…»Nós, individualmente, éramos(somos) cidadãos comuns, a vivere acompanhar a situação do país.Daí que o papel e participação decada um foi, em consciência, a títuloindividual. Agora, também éverdade que existia cumplicidadedo «Kudibanguela» (e quando digoKudibanguela, posso já dizer dosseus elementos) com o projecto idealizadopor Nito Alves. Logo, haviaalinhamento.O meu papel consubstancia-senaquilo que acabo de descrever.Quer saber o quê, se participei?Não fui morto, mas fiquei privadode liberdade durante 850 dias. Fuipreso no dia 01 de Junho de 1977.Fui voluntariamente entregarmequando deixei de suportar amoléstia e assédio de que era alvoa minha família. Minha esposahavia dado à luz o nosso segundofilho no dia 1 de Maio. De partofresco e eu metido em politiquices,com pouco tempo para a assistir,ela hospedou-se em casa da mãe.A nossa casa, por ocasião do 27de Maio, ficou abandonada, sendopalco de visitas constantes dossenhores da DISA, no intuito deme prenderem. A situação estavabastante insuportável para mim.Sem notícias da família, no meuesconderijo, meditava na formade pôr cobro a tal situação. Fui aomeu local de serviço, onde os colegasme receberam <strong>sem</strong> qualqueranimosidade. Aí, um deles pegouno telefone e passados dez minutos(não mais) apareceu uma «combi»a apanhar-me, para levar-me aolargo Farinha Leitão, à presençado Dr. Rui Monteiro, então directordo D.O.R. e de quem eu dependiana altura.Encaminhado ao Ministério daDefesa, onde ninguém me dissenada, duas horas volvidas apareceuum oficial de alta patente e comvoz de comando na instituição, amandar evacuar todo o «lixo» queali se encontrava, para as instalaçõesda DISA. Aí, por volta das23h00/23h30 apareceu um «chefe»que tomou a decisão de nos evacuar(eu e mais oito ou dez «altamenteperigosos») para a cadeia deS. Paulo, onde permaneci durantedez meses e meio (grande parte dosquais em cela dividida com mercenários),altura em que alguémse lembrou de entrar de cela emcela, para perguntar quem aindanão havia prestado declarações.Em 7 Fevereiro de 1979, fui evacuado(com mais cerca de setentacorreligionários) para o campo derecuperação e produção do Tari,na Quibala, onde permaneci até aodia 29 de Setembro do mesmo ano,data em que me foi passada umaguia de soltura. Foram só 850 dias,não mais.SA – Quem eram os integrantesdo «Kudibanguela»?Manino – Da equipa do Kudibanguelafaziam parte: ManuelNeto (MBala), coordenador e naaltura DG da RNA; Adelino Santos(Betinho); Costa BenjamimNGalangandja; Emanuel Costa(Manino); Rui Malaquias (Ngila);Colosso; Evaristo Rocha; RicardinaRocha (Didina). Na RádioNacional fomos assessorados nasonoplastia pelo Fernando Neves,o Artur Arriscado e o Óscar Gourgel,que em momento algum foramtidos como membros da equipa.Do Kudibanguela mesmo restamosquatro para contar a história.SA – No meio disto tudo, é possívelconhecermos as razõesdo «milagre» que estiveram nabase da sua sobrevivência?Manino – Isso foi, de facto, umaperipécia. Foi uma cadeia de episódiose situações, todos eles encaixando-see formando um elo queculminou nesse «milagre». É claroque milagres só têm um autor. Econhecer toda essa cadeia hoje, eagora, não. Acho que quem operoutal milagre me dará forças paraacabar de escrever o livro ondenarro tudo isso ao pormenor.SA – Por que razão, em sua opinião,terá fracassado o levantamento?Manino – Em minha opinião, eeu já disse atrás, a razão da forçasobrepôs-se à força da razão. Apenasisso. Vejamos o que se passouem Portugal, no dia 25 de Abril de1974. Ali, o exército estava debilitado,enfraquecido, desmoralizado,combalido, e pela incapacidadede encontrar e ditar soluções emtorno das «fissuras» que um poucopor toda a instituição iam aparecendo,as decisões que antes eramsó e exclusivamente tomadas e assumidaspelos senhores da guerra,começaram a ser partilhadas comos jovens revolucionários capitãesmilicianos.Por ocasião do 25 de Abril de1974, eu estava incorporado noexército português, com patentede furriel miliciano. E o que mefoi dado testemunhar é que todosaqueles sargentos, capitães,majores, coronéis, etc. do quadropermanente do exército, ao tomaremconhecimento da situação emPortugal, como que entraram emparafuso. De repente viram-se órfãosnas suas missões e objectivos


Sábado, 29 de Maio de 2010. 9Capae quase que se subalternizavama nós, graduados autóctones, todaviacom patentes inferiores àsdeles. Cada um disputava a nossasimpatia, a nossa atenção, enfim,perante nós, como que se «queimavam»entre eles, apontando estesargento ou aquele capitão comopertencendo à PIDE. Nós testemunhamostudo isso! Aqui, não: aquiestava tudo sob controlo. O país emestado de guerra, logo, um exércitoem constante prontidão combativae, sobretudo, uma retaguarda super-segura,apoiada por «exércitosamigos». É só isso... mais o perdão,que não haveria.SA – A Fundação 27 de Maioassegura que a DISA massacroumais de 80 mil almas, enquantoas autoridades do país reportaram<strong>sem</strong>pre a eliminação físicade «apenas» 200 fraccionistas.Para si, qual poderá ter sido a dimensãodessa chacina?Manino – Não assumo que, provavelmente,haverá erros por excesso,por parte da Fundação. Agora,sobre os números adiantados pelasautoridades do país, garanto queexiste um erro muito por defeito.Bastante crasso. Mesmo porque eutinha mais de 200 amigos e conhecidos,noventa por cento dos quaisnão vejo há 33 anos!SA – Perdeu muitos amigos,pode mencionar alguns nomes?Manino – Perdi «apenas» amaior parte dos meus melhoresamigos. Mbala, Betinho, RuiMalaquias, Agostinho, Estêvão eCondinho Paka, Beto Mwanza,Anelídio Escórcio, Júlio Ndambi,Germano Pais, Kiferro, EliseuBondeka, Palhaço, Adelino, MangurraII, Ginguma, Tick Tack,Gaspar da Conceição, Mulay,Cândido Silva, Paulito, Galiano,entre muitos outros.SA – Muitos sobreviventes têmestado a exigir salários, indemnizações,remunerações extraordinárias,etc.. Qual a sua posiçãoem relação a esta questão?Manino – A minha opinião é deque, se calhar, esses sobreviventes(nos quais logicamente me revejo)estão a pedir muito pouco. Para dizerque nada do que se está a pedirestá fora do alcance de quem tem odever e a obrigação de dar. Aliás,de devolver! 1. Repor a dignidadee o respeito; 2. lavar a imagem,integridade e ego; 3. co-liderar oprocesso de identificação de valascomuns; 4. dar sepultura condignaàquelas pessoas que foram vítimasde emoções exacerbadas, desígniosinconfessos, excessos de zeloe vinganças pessoais; 5. proceder aindemnizações por perdas e danos;6. reconduzir as pessoas aos postosde trabalho que antes ocupavam…Em resumo, são reivindicaçõesque, uma vez cumpridas, entra-sena posse de garantia segura para apacificação de espíritos e da outravertente da reconciliação e unidade,que tarda a acontecer.SA – Onde trabalhava na altura?Manino – Na altura funcionavano Departamento de OrientaçãoRevolucionária (DOR), umórgão do MPLA que substituiu oentão Ministério da Informaçãoe era liderado pelo Dr. ManuelRui Monteiro. Eu estava colocadono CIAM, como técnico deRelações Públicas.SA – Estará o Manino a escreveras suas memórias sobre o27 de Maio, já o fez ou estará acogitar, ainda, fazê-lo? Quandopensa lançá-lo?Manino – Estou, aliás, já fiz referênciaa isso. E, pelo que sei, nãosou dos poucos. Todavia, pensoque deveríamos ser muitos mais«Não foi a plantarcouves que algunsbons cidadãos conseguiramacumularos biliões de dólaresque ostentam nassuas contas bancárias»a escrever. Quanto mais não seja,para tentarmos tornar virtual umfenómeno que, quer queiramosquer não, é parte de nós e há-deviver connosco durante gerações.Essa «criança» já foi concebida hácerca de quatro anos, mas, pelosvistos, não tem pressas de vir aomundo. Verdade se diga, nem opróprio progenitor tem pressa, porquepretende que ela não seja umnado-morto. E também pelo factode estar a tentar escrever três obra<strong>sem</strong> simultâneo. Não sei se tudo vaidar certo. Mas tendo a certeza deque a «criança» vai mesmo nascer.SA – Pode avançar-nos o título?Manino – Embora digam sermau agouro dar-se nome a umacriança antes de ela nascer, o meurebento já tem nome: «850 dias: entrefiguras e figurões». Com essa estaturaaparecerão os personagensdessa obra: os primeiros, elevadosao expoente máximo; os outros, reduzidosà ínfima espécie.SA – A quantos fuzilamentosassistiu, pelo menos nas cadeia<strong>sem</strong> que esteve preso?Manino – A nenhum. Não tenhomemória de ter registado umepisódio que, tenho a certeza, iriamarcar-me para o resto da vida.SA – Está filiado em algum partido,ou política …«nunca mais»?Manino – O senhor jornalistairá encontrar resquícios de umvírus que se chama política noADN de qualquer ser humano.Eu não sou excepção. Sou político,faço política e estou filiado.Acho que política não é bemcomo o futebol. Na política nãose penduram chuteiras. Antes,morre-se com elas nos pés.SA – Onde trabalha, é bem remunerado,vive dignamente coma sua família?Manino – Estou neste momentoa trabalhar com uma pessoa muitoamiga. Concebemos um projecto,para o qual estabelecemos cronogramaspara resultados, que pretendemosescrupulosamente cumprir,sendo que as remuneraçõesvão dependendo desses mesmosresultados. Vivo dignamente coma minha família, se esse conceitotiver a ver com respeito recíproco,amizade, cumplicidade e demaisatributos que contribuem para aestabilidade e harmonia num lar.Nesse aspecto, posso garantir quesou feliz.SA – O que terá perdido com o27 de Maio?Manino – Pergunte-me antes oque não terei perdido. Não perdi avida e a família, e a Deus dou graçaspor isso: a vida, por ser o dommaior que Ele nos concedeu; a família,<strong>sem</strong> a qual, pelo facto de já atermos tido constituído na altura,a vida não teria sentido para nós.Perdi os melhores amigos. Foi-meusurpada a minha casa, com todosos bens que ela comportava: electrodomésticos,móveis e utensílios,bens pessoais (retiraram fotografiasde amigos íntimos, dos meusálbuns de casamento e outros).Perdi uma viatura pessoal (quecheguei a ver a circular em mãos deenergúmenos, em várias ocasiões,após sair da cadeia) e outra que mehavia sido atribuída por inerênciade funções. Perdi o emprego. O quefaltava perder mais? Quando mefoi restituída a liberdade, só merestou começar do zero. Mas, mesmoaí, encontrei muitos e muitosentraves.SA – Após a sua libertação, deualgum passo no sentido de reaveros seus bens?Manino – Mas é claro e doutromodo não poderia ser. Comecei porabordar, junto do DOR, a questãodos salários relativos a 28 meses decativeiro <strong>sem</strong> julgamento e <strong>sem</strong> culpaformada. Fiz uma exposição areivindicar o meu apartamento edemais bens, dirigida ao então ComissárioProvincial de Luanda e hojedeputado, o mais velho Wanhenga-Xitu. Acho que o kota não chegou ater acesso a essa exposição, porqueestávamos a viver a moda das «camaradassecretárias», ou então…terá entendido que o momento nãoera propício para reivindicações. ■Sugestão de Manino«Intolerânciasobre excessos»SA – Acredita na «Tolerância Zero»?Manino – Dou o benefício da dúvida. Mas estou mais tentado aacreditar em algo que definiria como «Intolerância sobre excessos».É como que determinar balizas, estabelecer limites sobre o uso (<strong>sem</strong>abusos) da cousa pública. Entende? Acho que «Tolerância Zero» émuito extremo e as<strong>sem</strong>elha-se um pouco a… «dar um passo maiorque a perna».SA – O combate à corrupção era um dos vossos desideratos em1977. Acha que esse mal social vingou no nosso País? Roubos abancos, promiscuidade entre público e privado, Sonangol…Manino – O que o senhor acha? Que foi a plantar couves que algunsbons cidadãos conseguiram acumular os biliões de dólares queostentam nas suas contas bancárias? Em 1986, se a memória não mefalha, foi criado o estado-maior contra a corrupção. Seria suposto queo estatuto reitor desse órgão observasse já nessa altura, como normae conduta, o recurso à promiscuidade, mormente com relação àquelescidadãos sobre os quais pudes<strong>sem</strong> eventualmente recair suspeitasde enriquecimento ilícito. Que, transparência, honestidade, lisura ebons costumes deveriam ser desideratos «sine-qua-non» nos curriculumvitae de cidadãos propostos para exercer cargos públicos. Masisso não funcionou assim, nem o chefe desse estado-maior estava nadisposição de «exorcizar os espíritos» de ninguém. Para dizer que essacriança que, em 1986, se chamou «estado-maior contra a corrupção»faleceu de morte prematura e nesta sua 2ª encarnação adoptou onome de «tolerância zero». O resto é a história que já todos nós conhecemos:Vira o disco e toca o mesmo…SA - Qual é o seu sonho?EC - O meu sonho é o mesmo de todo o angolano que se preze. Voucontinuando a sonhar com justiça social, com uma distribuição dariqueza nacional que, não tendo necessariamente de ser equitativa,ao menos, que seja menos desequilibrada. Vou continuando a sonharque os meus filhos e os filhos dos outros angolanos como eu possamparticipar de concursos públicos em pé de igualdade e transparênciacom os filhos dos angolanos que não são como nós. Vou continuandoa sonhar com melhores condições de saúde e saneamento básico, comescolas apetrechadas de carteiras e outras condições mínimas para asnossas crianças. Sobretudo, vou continuando a sonhar que um dia,estes nossos dirigentes cairão em si e farão por merecer e ser dignosdeste povo generoso que eles estão a governar. Que um dia, cada ministro,cada embaixador, cada deputado deste País, possa ostentarcom orgulho e dignidade a divisa: «este povo de ama, porque eu souum fiel depositário e porta-voz dos seus anseios e ideais». Este é o meusonho. ■


10 Sábado, 29 de Maio de 2010.CapaOito perguntinhas de bolsoAfinal, o que se passou em 27 de Maio de 1977?«Eles que fiquemcom a taça»1. Tempos livres?Poucos, mas vou tendo alguns, e esses poucos ocupo-os em consultas,leituras diversas e vendo filmes.2. Que Livro está a ler?«Atitudes que nos Tornam Vitoriosos», da autoria de Jonas MendesBarreto, um pastor evangélico brasileiro. Um livro que me foi oferecidopela minha filha primogénita, por ocasião do Dia do Pai.3. Sabe cozinhar? O quê, por exemplo?O meu prato preferido é muamba de ginguba em bragre seco commutetas, que confecciono aos sábados com muito capricho. De resto,a culinária, assim como as demais lides domésticas, não escondemmuitos segredos para mim. Sou uma espécie de… Mário vai a todas.Aprendi com a minha mãe e tenho orgulho disso.4. Filhos?Tenho cinco filhos: de 34 anos, de 30, de 27 e de 16, respectivamente.Três rapazes e duas meninas, aliás, donas de casa. Este é o meu pecúliofamiliar. Também sinto muito orgulho deles.5. Clube? Que papel jogou na criação do Progresso do Sambizanga?Sou do Progresso. Mas estou a deixar o Progresso para aqueles que oquerem açambarcar. Para mim, eles que fiquem com a taça! Não apareço,não dou muito a cara, porque, de há algum tempo a esta parte, vêmaparecendo pára-quedistas a quererem retirar-nos o co-protagonismona criação do clube, e não só. Que fazer? O clube está aí, tipo quemdá mais… me leva. Tenho pena. No Progresso, cada dia vai havendomenos pessoas capazes de convencerem-me a marcar presença assídua.Neste Progresso começo a deixar de me rever.6. Onde passa Férias?«Férias» é uma expressão que oiço apenas pelo facto de ter já netas aestudar. Há muito deixou de fazer parte do meu léxico e dos meus hábitose costumes. Sinceramente, não sei há quanto tempo não gozo férias.7. Sua opinião sobre a poligamia e a poliandria?Gostaria de ter um pouco mais de tempo e espaço para abordar comalguma profundidade esses assuntos. Assim, vou acomodar-me só aconsiderar a sua questão, como tendo sido formulada do modo maissimples. A resposta, muito comodamente, é esta: não concordo.8. Seu B.I.?Emanuel de Jesus Conceição Costa (Manino), filho de Manuel Antónioda Costa e de Juliana Jerónimo da Conceição Paím da Costa, nascidoaos 14 de Dezembro de 1951, em Luanda. Técnico de Contas, casado,residente no Município do Sambizanga, Luanda. ■Uma enorme manchaR. SousaConquistada a independência,a 11 de Novembro de 1975, emAngola foi instaurado um regimemarxista, tendo como Presidenteo médico António AgostinhoNeto, que chefiava, já lá iam doisanos, o MPLA, um dos três movimento<strong>sem</strong>ancipalistas que lutaramde armas na mão contra oregime colonialista português.A independência fora proclamadasob o ardor de uma guerrafratricida que opunha as três formaçõespolítico-militares, cadauma delas com o suporte de paísesda região e de potencias que sedigladiavam no decurso da chamada«guerra-fria».O MPLA, com o apoio dos seusprincipais aliados, Cuba e UniãoSoviética, conseguiu levar vantagemsobre os seus adversáriosdirectos, nomeadamente a FNLAe UNITA que contavam com osuporte da administração norteamericanae do regime do apartheidda África do Sul.Alguns meses após a proclamaçãoda independência, a FNLAviu dissolvido o seu braço armado,o ELNA, enquanto a UNITAfoi resistindo com as suas milíciasdenominadas FALA que se acantonaramdurante anos nas chamadas«terras do fim do mundo»,no extremo sudeste de Angola.O MPLA confrontava-se comdisputas intestinas das suas váriastendências. A facção vitoriosa deAgostinho Neto conseguiu subjugaros seus adversários das RevoltasActiva e do Leste. Esta últimaque era chefiada por Daniel JúlioChipenda, foi completamentedesmantelada da sua componentemilitar, tendo alguns dos seusmembros sobreviventes indo integraras fileiras das FAPLA, doMPLA, ELNA, da FNLA, e FALA,da UNITA.Por seu turno, os principaisdirigentes da facção Revolta Activaforam enviados para os calabouçosda DISA, designação daprimeira política da RepúblicaPopular de Angola (RPA), criadapor Decreto-Lei presidencial de29 de Novembro de 1979. A DISA(Direcção de Informação e Segurançade Angola) era directamentedependente do Presidente doMPLA e da República e orientadasuperiormente pela ComissãoNacional de Segurança do Partidogovernamental.Na facção vitoriosa do MPLAhavia duas alas fundamentais, asaber: a primeira tinha como rostosvisíveis Lúcio Lara, Iko Carreira,Ludy Kissassunda, HenriqueSantos (Onambwe), Carlos Rocha(Dilolwa) e outros membros provenientesmaioritariamente doexílio no Congo-Brazzaville e Argélia;a segunda facção era constituídapor elementos provenientesda chamada primeira regiãopolítico-militar, ex-presidiáriosdos campos políticos do regimecolonialista, funcionários da administraçãopública e intelectuais,e os principais chefes eramAlves (Nito) Bernardo Baptista,José Van-Dúnem, Jacob João Caetano(Monstro Imortal), ManuelBagé e outros.Ambas as facções declaravampublicamente fidelidade a AgostinhoNeto, Presidente do Partido-Estado. O primeiro grupo considerava-seherdeiro dos princípiosconsignados no programa maiordo MPLA, de defesa dos interessesdas camadas mais desfavorecidasda população e o segundoarrogava-se também defensordessa franja da população, mascom base na aplicação rigorosa domarxismo-leninismo na versãopró-soviética.As duas facções tinham poderreal dentro do MPLA e do País. Ogrupo de Lúcio Lara tinha comoprincipal suporte os meios de difusãomassiva (rádio, televisãoe jornal estatais), os órgãos doaparelho central e provincial doEstado e importantes franjas dasForças Armadas e da DISA. Porseu lado, o grupo de Nito Alvesexercia influência sobre as camadasmais jovens das Forças Armadas,segmentos inferiores daDISA, organizações de massas domovimento e sobre alguns governosprovinciais.De ambos os lados eram emitidossinais provocatórios, o quecriava fortes sinais de instabilidadenas áreas sob controlo do Governo,que constituíam mais dedois terços do território nacional.A DISA, cumprindo as directiva<strong>sem</strong>anadas da Comissão Nacionalde Segurança e do Bureau Políticodo MPLA, executava a detençãodos principais elementos civis oumilitares conotados com a facçãode Nito Alves espalhados pelopaís inteiro.Foi nesse contexto que NitoAlves e José Van-Dúnem foramexpulsos d Comité Central do


Sábado, 29 de Maio de 2010. 11CapaMPLA e passaram a conceber anecessidade de mudança da direcçãodo país através de uma insurreiçãopopular que tomaria asrédeas do movimento e do Estado.Com um alegado apoio tácito dospaíses da chamada comunidadesocialista do Pacto de Varsóvia epromessa de não interferência nosassuntos internos de Angola porparte do corpo expedicionário deCuba, a facção de Nito Alves levouuma intentona golpista a 27de Maio de 1977.O «putch» não teve êxito e a facçãode Lúcio Lara, que <strong>sem</strong>pre <strong>sem</strong>ostrara fiel ao Presidente AgostinhoNeto, com o apoio directodas tropas cubanas subverteu asituação, tomando o controlo absolutoda mesma. Como resultadodesse choque de facções, algunsdirigentes políticos, militares edo Governo com posicionamentopróximo a Lúcio Lara acabarampor sucumbir no ardor da refrega.A resposta do governo centralnão se fez esperar e na voz do própriopresidente Neto saiu a ordempara não serem perdoados todosos elementos «fraccionistas»,numa alusão aos adeptos ou simpatizantesdo movimento insurrecionalde 27 de Maio.O pós-27 de Maio de 1977 foia maior desgraça que se abateusobre a terra angolana: famíliasinteiras terão sido dizimadas.Quadros da função pública, militarese paramilitares, estudantes,professores, intelectuais com formaçãosuperior foram presos, torturadose muitos deles fuzilados.Na sua obra autobiográfica intitulada«O Pensamento Estratégicode Agostinho Neto», o falecidogeneral Iko Carreira, ex-ministroda Defesa da RPA e membro daComissão Nacional de Segurançado MPLA, afirmou que do seu conhecimentoforam fuzilados poucomais de duzentos angolanosligados ao «putch» de Nito Alves.Na sequencia daquela tragédiaque se bateu sobre os angolanos,o Presidente cubano Fidel CastroRuz deu a conhecer ao mundo que60 mil compatriotas seus foramenviados a Angola para que estepaís africano pudesse fazer faceàs dificuldades que enfrentava.A declaração do chefe de Estadoda República de Cuba deusubstâncias às informações quecirculavam no mundo de queapós a intentona golpista em Angolateriam desaparecido entre 30mil a 60 mil cidadãos angolano<strong>sem</strong> circunstâncias não esclarecidas.De uma maneira geral, todasas famílias dos principais centrosurbanos de Angola terão sidoafectadas com a perda de um oumais entes queridos após a eclosãodo movimento de 27 de Maio.O tecido social angolano foi assimfortemente abalado no que demais nobre possuía: estudantes,quadros administrativos e político-militares,assim como intelectuaisdos mais variados ramos dosaber desapareceram do mundodos vivos <strong>sem</strong> deixar rasto.Com o esmagamento da oposiçãointerna, o regime do MPLAtornou-se mais agressivo e monolítico,não dando tréguas a qualquervoz dissonante utilizandopara tal os órgãos de repressão,com especial destaque para a suapolícia política, a DISA. Quemexpressasse publicamente opiniãodiferente da do regime incorria nasevera pena atribuída aos crimescontra a segurança do Estado. Eraa época do chamado «delito deopinião». À DISA foram atribuídasfunções como ordem de detençãode qualquer cidadão suspeitoassim como a instrução dorespectivo processo que era maistarde encaminhado para tribunaisque agiam em consonânciacom a polícia política.O preenchimento dos quadrosde pessoal da DISA não careciade qualquer visto ou anotação doTribunal Administrativo, nem depublicação no Diário da República,daí que os seus integrantes nãopoucas vezes agiam ou tomavamdecisões inspirados no livre arbítrio.Apesar do reforço interno doregime, a situação social das populaçõesdeteriorava-se progressivamente,o que terá contribuídosobremaneira para o desenvolvimentoe crescimento da rebeliãoarmada encetada pela UNITA deJonas Savimbi, com o apoio multiformeda administração norteamericanae do então regime segregacionistasul-africano.Muitos combatentes e estrategosdas forças governamentaiscom larga experiência na arte eciência militares haviam sido eliminadosfisicamente na ressacado 27 de Maio, o que terá provocadosignificativas fissuras naestrutura de comando castrenseda República Popular de Angola.As hordas militares da Repúblicade Cuba não combatiam directamentea rebelião da UNITA e sóo faziam em retaliação a qualquerataque às suas posições pelos homenscomandados por Jonas MalheiroSavimbi.Não é por acaso que muitosanalistas de diferentes quadrantesreputam as purgas verificadasapós o movimento de 27 de Maiode 77 como uma das causas dadiminuição da prontidão combativadas forças governamentaisangolanas que em finais de 70 ena primeira metade dos anos 80do século passado permitiram aexpansão da guerrilha do «galonegro», que dos confins do KuandoKubango emergiu para todasas províncias do país, incluindo oenclave de Cabinda.A desconfiança e a intolerânciainvadiram o quotidiano dosangolanos e o tempo encarregousede mostrar a todos que afinalnão foram os seguidores de NitoAlves, os chamdos «fraccionistas»,os causadores de todas asdesgraças que se abateram sobreAngola. Com a derrota dos«fraccionistas» cresceu a delinquência,os crimes de sabotagemeconómica, o garimpo e tráficoilegal de diamantes, a corrupçãogeneralizou-se em todas as áreasda vida nacional e para o cúmulode tudo isso a guerra fratricidaentre as forças governamentaisde Angola as forças militares daUNITA perduraria até 25 anosdepois da intentona golpista de27 de Maio.Conquistada a paz em 2002,ainda não estão inscritas no soloangolano as páginas do maior genocídioqualificado que se abateusobre o Povo de Angola, ocorridona sequência do 27 de Maio. Aindahoje, 33 anos passados desdeos infaustos acontecimentos, opaís inteiro ainda se debate coma problemática da falta de quadrosque nem o recrutamentocontínuo e sistemático de expatriadosconsegue preencher. ■O grupo de Lúcio Lara tinha como principal suporte osmeios de difusão massiva (rádio, televisão e jornal estatais),os órgãos do aparelho central e provincial do Estadoe importantes franjas das Forças Armadas e da DISA.O grupo de Nito Alves exercia influência sobre ascamadas mais jovens das Forças Armadas, segmentosinferiores da DISA, organizações de massasdo movimento e sobre alguns governos provinciais


12 Sábado, 29 de Maio de 2010.PolíticaCarta aberta ao Chefe do Executivo de AngolaExcelentíssimoSenhor Presidente da República,Correndo o risco de esta missivanão chegar as vossas mãos,tomamos a liberdade de a remeter,para divulgação, ao maior númeropossível de órgãos de comunicaçãono nosso país, fazendo-atambém circular via Internet pararepudiar mais uma atitude menoscorrecta do executivo lideradopor V.Exa.Fomos recentemente surpreendidoscom a informação tornadapública por via do Ministérioda Administração do Território(MAT), na pessoa do seu titular,quanto as intenções do executivode reestruturar os limites geográficosda província do Bengo.Como cidadão deste país emunícipe de Icolo e Bengo nãome oponho a qualquer alteraçãoadministrativa que possa ocorrerem todo território nacional desdeque as contrapartidas sejam tambémbenéficas para a populaçãoem geral e não somente para defenderos interesses económicosde alguns.Sr. Presidente,Qualquer alteração administrativanão mexe apenas com aterra; tem outras implicações:envolve pessoas, hábitos, costumes,etc. Qualquer pessoa de bomsenso, teria no mínimo consultadogenuinamente os povos destaregião antes de pretender tomarqualquer decisão em seu nome.Mais ainda, não se coaduna comalgumas das suas orientações dosúltimos tempos, recordo-me, à títulode exemplo, de dois trechosdo seu discurso à nação aquandodo empossamento do Governo deAngola saído das eleições de 2008(Outubro 2008), que passo a citar:«A discussão de alguns assuntoscom os cidadãos destinatáriosda nossa acção e com organizaçõesda sociedade civil e ainda odiálogo e a concertação regularescom os parceiros sociais (empregadorese centrais sindicais) sãovias que garantem uma participaçãoorganizada no tratamento dasquestões e reforçam a compreensãoe a estabilidade política.»«...O combate à fome e a à pobrezaé uma prioridade de primeiralinha...»Estas suas palavras ecoaram emnós como novos tempos de mudançaem que teríamos um novoGoverno eleito por nós e para nós.No entanto, para a maioria de nóscontinua a ser a mesma miragemdo passado. As nossas preocupaçõessão ignoradas. Será que épedir de mais aos nossos decisorespara que connosco conver<strong>sem</strong>conforme vossa sábia orientação?O que nós mais queremos é odesenvolvimento genuíno dasnossas terras. Em vez do retrocessoqueremos emprego, habitaçãocondigna, desenvolvimento económico,escolas, hospitais.Excelência,Hoje que celebramos mais umdia de África, dia que simboliza aconsolidação da vontade expressapor alguns dos melhores filhos docontinente, convém relembrar osenormes sacrifícios consentidospor Angola e por muitos de nóspara alcançar os frutos da Paz.Lembramo-nos de Abdel Nasser,Kwame Nkrumah, Julius Nyerere,Ben Bella, Patrice Lumumba,Amílcar Cabral e todos outrosanónimos que muito se baterampara dignificar os nossos povos.Em Angola também tivemos osnossos heróis e o Bengo, como outroslugares, viu nascer alguns dosseus melhores filhos (José Mendesde Carvalho «Hoji-Ya-Henda»,Deolinda Rodrigues, AgostinhoNeto, Paiva Domingos da Silva,Neves Bendinha, e outros já falecidospara não mencionar os poucosque ainda se encontram emvida) que tudo fizeram para darcontinuidade ao propósito máximoalmejado pelos nossos povosdurante séculos. Será que estesnão merecem paz e sossego? OuSerá que os interesses económicosdevem sobrepor-se aos ideaismais nobres de qualquer nação(Terra, Cultura)?Por vezes, ficamos com a sensaçãoque alguns membros auxiliaresdo seu executivo não nutremo mínimo de respeito nem consideraçãopelos povos desta terra epretendem infringir a última humilhaçãoretirando-lhes a terra.Os argumentos avançados poralguns auto-proclamados «experts»do Executivo em defesada anexação de partes do actualterritório da província do Bengoa Luanda, não faz o menor sentido.Como é do conhecimentode muitos de nós não «experts»mas experimentados com as décadasde «auto-didactismo», umdos problemas da urbanizaçãodesorganizada da Província deLuanda tem que ver com a faltagestão parcimoniosa e racionaldos recursos existentes. Fala-seconstantemente na necessidadede descentralização e desconcentraçãodas decisões ao nível dopaís, contudo esta medida apenasvirá agravar os desafios já existentesna gestão urbana da provínciade Luanda.O pouco que conheço de outrasgrandes cidades, como a cidadede São Paulo no Brasil, o númerode municipalidades, na maiorparte dos casos tem aumentadopara melhor servir os interessesdos seus munícipes.Temos na memória a presençaem Angola do antigo Chefede Estado brasileiro (FernandoHenrique Cardoso), quando dissertavana Escola Nacional de Administração(ENAD) sobre estastemáticas em Junho transacto echamava atenção aos decisores ànecessidade de dialogar mais comas comunidades para que o resultadodas suas acções possam serconduzidas de encontro com asnecessidades dos cidadãos.Sr. Presidente,Será que os Angolanos quevivem fora de Luanda tambémnão podem beneficiar de infraestruturasde referência como umnovo Aeroporto, um novo PortoComercial? Será que nós não nospodemos beneficiar de receitasfiscais e parafiscais de empreendimentoscomo o da Coca-Colaou da exploração de inertes?São muitas as perguntas quecontinuam <strong>sem</strong> respostas dequem de direito.Bem haja a terra que viu nascerestes ilustres filhos do Bengo.Manuel Paulo Mendes de CarvalhoPacavira(Tenente General na Reserva)Icolo e Bengo, 25 de Maio de2010


Sábado, 29 de Maio de 2010. 13PolíticaPrograma Angola Jovem será reavaliadoOprograma de habitação para a juventude, comummente conhecidocomo «Programa Angola», está na iminência desofrer uma transformação de alto a baixo, disseram fontesligadas ao projecto.A reformulação do projecto é resultado, em parte, do «desastre» quefoi o evento realizado recentemente em Luanda, durante o qual 90 habitações,ao preço de 170 mil dólares, foram colocadas à disposição demais de 3 mil jovens que se inscreveram para um sorteio.Além do mal estar decorrente da «decalage» entre procura e ofertao executivo acabou com uma «batata» quente nas mãos decorrente docusto das casas.Foi dito aos jovens que quem fosse confirmado nas rifas teria quedar um «sinal» de 17 mil dólares, correspondente a 10 por cento. Osrestantes 90 por cento, isto é 153 mil, dólares deveriam ser liquidado<strong>sem</strong> 25 anos.Segundo o que apurou o Semanário <strong>Angolense</strong>, o «Programa AngolaJovem» foi objecto de aturada análise durante uma reunião da Comissãopara Política Social do Conselho de Ministros, órgão presidido pelovice-presidente da República. Foram igualmente aprovados o relatóriode balanço e execução do programa de monitorização do sector socialrelativo ao primeiro trimestre de 2010 e o balanço de execução do Programade Investimentos Públicos do sector social.A reunião de 20 de Maio, aprovou o relatório de execução relativo aosprimeiros três meses do ano. ■Direito de Resposta de Adelino António, dirigente da UNITA«Não fui chamado pornenhuma embaixada ocidentalExmo Senhor DirectorNa vossa edição nº 368 de sábado, dia 22 de Maio de 2010, constateio meu nome citado como tendo sido chamado «para um meetingna embaixada de um país ocidental em Luanda», onde supostamenteteria sido discutida uma tal hipotética «refundação daUNITA».Surpreende-me que jornais como o Semanário <strong>Angolense</strong>, quedeveriam contribuir para o debate democrático e aberto de ideias,enveredem pela falsidade e a mentira, inventando encontros nuncaocorridos e montando cenários com os quais não me identifico.Não fui chamado por nenhuma embaixada e nem encetei contactosaludidos no vosso jornal.Eu, Adelino António, sou membro efectivo da Comissão Políticada UNITA, e nesta qualidade não estou incompatibilizadocom nenhum dos meus colegas do partido, muito menos com o seuPresidente, Senhor Isaías Samakuva.A deontologia jornalística recomenda que quando se cita alguém,a mesma pessoa seja contactada antes de se publicar notíciasinventadas, o que teria evitado desacreditar o vosso exercício emprejuízo da credibilidade do vosso jornal.Assim ao abrigo do direito de resposta que me assiste, solicito apublicação desta carta a bem da verdade e da honestidade políticas.Sem mais, por agora, subscrevo-me com subida honra: ■De Vª Excia.Adelino AntónioLuanda, 26 de Maio de 2010.


Sábado, 29 de Maio de 2010. 17OpiniãoDemocracia, Comunicação e Cidadania (II)- A Mídia de Massa e a Nova Arquitectura SocialOs últimos tempos foramférteis em assuntosligados ao tripéque dá título a esteartigo: Democracia, Comunicaçãoe Cidadania. Vejamosalguns destes assuntos que ‹‹esquentaram››a nossa praça públicanos últimos dias: o Governoveio a público dar conta dasua acção nos primeiros 100 diasde governação e, deixou no ar apromessa de tornar mais regularesestes encontros; Manuel RuiMonteiro trouxe para nossa reflexãoo pertinente artigo com otítulo ‹‹Poder e Comunicação››;o Conselho de Comunicação Social(CNCS) deu provimento aqueixas apresentadas pela UNI-TA contra o Jornal de Angola(JA) e pela ONG OMUNGA,contra a Emissora Provincialda RNA em Benguela; o CNCStambém deu provimento à queixaapresentada pela AssociaçãoCultural Chá de Caxinde contrao Jornal de Angola; na seqüência,José Ribeiro, Director doJA e Arlindo Jaques dos Santos,presidente da Associação Chá deCaxinde, trocaram alguns bonsmimos; e, por último, FilomenoManaças e Wilson Dadá, doisconceituados jornalistas da nossapraça, entabularam nos ‹‹mídia››uma interessante discussãosobre jornalismo independenteque, pela profundidade dos argumentosdeveria ser objectode estudo dos nossos estudantesde comunicação social. Estão deparabéns os dois pelo debate.Creio, no entanto, que não deveser debitada ao acaso a emergênciamúltipla destes assuntos, ouseja, não devem ser vistos comocasos isolados, mas, antes entrecruzadose conectados e, muitoprovavelmente, o descortinardestas conexões, permitiria obterum claro entendimento docontexto real em que estes assunto<strong>sem</strong>ergiram. É pensandoassim que decidi partilhar comos leitores do SA esta singelareflexão na esperança de quepossa ser uma lanterna entre asmuitas necessárias para o entendimentoque se faz necessário.Parece-me, pois, que as incongruências que matizam hoje anossa comunicação social decorrem antes demais, da incapacidadede entendermos as mudanças perceptíveis no nosso tecidosocial que evoluem inexoravelmente para uma arquitecturareticular e plural.Em meu entender estes assuntossó são relevantes porque teimosamentese procura manterum paradigma de comunicaçãoabsolutamente deslocado, descontextualizado,ultrapassado e,por isso mesmo, anacrônico. Ovelho paradigma Guttembergianoda emissão-recepção, via <strong>sem</strong>ruídos, unidireccional e verticalque reserva ao receptor umpapel meramente passivo e aoemissor o direito de manipular ainformação a seu bel-prazer, queteve na propaganda da 2ª guerraa sua máxima expressão, já nãofunciona mais. Não funcionaporque é incompatível com sociedadescada vez mais pluraise de crescente complexidade,com categorias de identificaçãosocial múltiplas e superpostasque demandam informação personalizadae o direito de co-autoria,co-criação da informação.Assiste-se, claramente, a passagemdo esquema de organizaçãosocial piramidal para a tendênciareticular, segmentada e numcontexto assim configurado amídia de massa tem que necessariamentese reconfigurar paraatender os diferentes segmentos,mais exigentes e diversificadosque elaboram cognitivamentede forma variada os conteúdosinformacionais. Atender estasdemandas tão diversas pressupõeinteracção com os segmentosdiversificados o que querdizer uma aproximação maiorentre emissor e receptor. Porisso no novo contexto social quese desenha não há lugar parauma mídia encapsulada na lógicada distribuição de conteúdosde informação, unilateralmenteelaborados pelo emissor, massim, aquela que se estrutura nainformação dialógica, partilhadae negociada entre emissor ereceptor, ou seja, assente numalógica verdadeiramente comunicacional.A mídia dos novostempos tem que ser maleável,flexível, plástica, plural e, sobretudoracional. Há, pois, umnovo paradigma de comunicaçãoque decorre do novo desenhosocial reticular e que, aomesmo tempo, alimenta recursivamenteo reticulado social. Éa sociedade da informação. Deonde ela emerge?A emergência da sociedade deinformação deve ser vista comoresultado de uma ‹‹conjunçãocomplexa›› que envolve factoresde ordem social, de mercado etecnológica em permanente realimentação.Do ponto de vistahistórico e de mercado, os estudiososda contemporaneidade,da sociedade pós-industrialcomo Daniel Bell, reconhecema emergência da sociedade dainformação na terceira revolução,caracterizada pela explosãodo sector de serviços e de profissõesliberais que passam adominar a atividade produtiva.Aqui a informação, o conhecimentoe a comunicação geradostornam-se os recursos estratégicose os agentes transformadoresda sociedade. Diante de umfluxo crescente de informação edemandas cada vez maiores emcomunicação a tecnologia geraprodutos adaptados e, ao mesmotempo em que a tecnologiase impõe ao usuário, este realizaa inscrição do social na técnicafruto do tratamento cultural doinstrumento e, enfim, da interseçãode racionalidades. O resultadoóbvio é a composição deum verdadeiro mercado de informação,de comunicação, tidopor muitos como o verdadeirosector quaternário. Do ponto devista social, os estudiosos comoJean-François Lyotard encontramgrande dissonância entre amodernidade e a pós-modernidadeestando aquela dominadapor doutrinas totalizantes querseja a funcionalista, (unicista)ou marxista (dualista) quetendem a homogeinização e aotratamento da sociedade comomassa. Na pós-modernidade,segundo os estudiosos, predominamconcepções ‹‹presenteístas››(que valorizam o presenteem detrimento do futuro) e aheterogeneidade em oposição àhomogeneidade. A heterogeneidadetraz como valor privilegiadoa diferença. Assiste-se assima ampliação da segmentaçãosocial em expressões políticas,culturais, raciais, sexuais, consumistase religiosas conflitivase/ou associativas, isto é, umasociedade mais plural. Numasociedade assim desenhada asclivagens sociais não se esgotamna velha luta de classes (patrão/empregado), tal como delineadaspor Marx, mas, se estendema uma multiplicidade de interessese categorias de identificaçãosocial que só a democracia comseu ideal de tolerância e nãoviolência,pode acomodar. Aacomodação impõe o diálogo, acomunicação, entendida como apermuta de informação entre osdiversos interesses e segmentosque se dispõe assim não mais demaneira vertical, hierarquizada,mas sim, numa nova disposiçãoem rede. Diante deste quadro amídia de massa (impressa, rádioe TV) tem que necessariamenteencontrar um novo modelo deaproximação e abordagem, omais diversificado possível e variadona perspectiva plástica. Sóassim ela pode prestar serviço àdemocracia com todo o sentidode justiça e igualdade que elaencerra.Parece-me, pois, que as incongruênciasque matizam hojea nossa comunicação socialdecorrem antes demais, da incapacidadede entendermos asmudanças perceptíveis no nossotecido social que evolueminexoravelmente para uma arquitecturareticular e plural. Onutriente dessas redes não podeser outro que não a comunicação.Tal como a electricidadealimenta as redes eléctricas,permitindo o funcionamentode diversos sistemas, as redessociais se alimentam de comunicação,mas, ao contrário daelectricidade que pode apenasser distribuída a partir de umponto de geração, a informaçãoque alimenta as redes sociaisdeve ser partilhada, numa lógicacomunicacional, dialógica e,só assim, os diferentes nós queconstituem a rede explicitamos seus estilos e se manifestam,compondo um mosaico socialque, assente na tolerância e nãoviolência,encontra na paz e justiçasocial a sua realização. Asnovas tecnologias de informaçãovêm assumir papel preponderantena tecelagem deste novotecido social. Por isso no próximoartigo me proponho discutira articulação entre este novo sociale a cibercultura. ■Referências:ALDÉ, Alessandra, A Construçãoda Política – Democracia,Cidadania e Meios de Comunicaçãode MassaSILVA, Marco, Sala de AulaInterativaBOBBIO, Norberto, O Futuroda DemocraciaLIMA, Venício A., A Mídianas Eleições de 2006 (Brasil)


18 Sábado, 29 de Maio de 2010.OpiniãoDe Addis Abeba a LuandaMaio de 1963, Maio de 1977Inúmeras são as actividadesdesenvolvidas em torno do25 de Maio. E ainda bem. Éconferência para aqui, encontropara ali, debate acolá, éÁfrica a fervilhar, é Angola a nãodeixar passar em branco umadata, uma efeméride que convémnão seja esquecida, que não podeser esquecida. O 25 de Maio éuma data que se tornou um momentode reflexão: é o passado, opresente e o futuro de África quesão revisitados e perspectivadosnum dia, num mês que se consignouchamar de África. É a memóriade um continente que é revigorada,são as grilhetas que aindao fazem refém do ocidente e de sipróprio que vão sendo quebradas,são os seus povos e países que sãoenaltecidos, é a história que é revisitada.Em Angola é dia feriadoe os feriados não são meros diasde descanso e lazer mas têm umsignificado, um simbolismo queimporta não esquecer.Pois bem, se esta é uma data,um marco da nossa história e ummomento diria até de reconciliação– connosco e com os outros–, e até mesmo de festa, um momentoem que não podemos deixarde assacar, também, as nossasresponsabilidades – as de onteme as de hoje –, de igual modo nãopodemos deixar de reflectir sobrea nossa história mais recente.Sim, porque as efemérides servempara isso. Neste mês de Maio, nãopodemos nós, angolanos, deixarde lado o 27 de Maio.Corria o de 1977, ano de tristememória para Angola e para osangolanos, quando chega o fatídicomês de Maio e, com ele, odia 27 e os que se lhe seguiram.Sim, porque os dias e meses quese lhe seguiram foram dias emeses de terror. Foram aos milharesos angolanos dizimados,são aos milhões aqueles que nãose esquecem. E não se esquecemporque perderam, perdemos,muitos dos nossos entes queridos– entre familiares e amigos.De Cabinda ao Cunene fomosum só povo e uma só nação quechorou pelos seus e que, até hoje,nada sabe sobre os mesmos. Simplesmentedesaparecidos. Milharesforam aqueles que padecerammeses, anos, nas cadeias; dezenas‹‹simplesmente›› desaparecerame, para nosso gáudio, reapareceramanos depois. As suas históriasestão por contar, ainda que,e felizmente, já vêm pontuandoalguns livros sobre este trágicomomento da nossa história. Maltivemos tempo de saborear a independência,e eis que somos assaltadospor esse pesadelo: foi oruir dos nossos sonhos, da utopiado poder popular, de uma sociedadelivre e justa. Passaram-se osanos e os bons e maus momentosque fomos vivendo fazem partede nós, das vidas, histórias e estóriasde cada um num entrecruzarem que cabe a nossa vida pessoale a do país que tanto choramosquanto cantamos – são as nossascicatrizes que a pele nem <strong>sem</strong>prerevela mas que perenemente teimamem acompanhar-nos.Agimos, hoje, dir-se-ia, comose nada se tivesse passado, comose estivesse tudo bem. Não, averdade é que esta é uma feridaaberta cuja memória teima, parae em muitos, adormecer o sonhomau, o pesadelo que insisteem manter-se se não nas nossasmentes, nos nossos corações. Aolongo dos anos, a guerra e as suasconsequências foram ocupandoos nossos espíritos, desviando asnossas atenções, concentrandoos nossos esforços, consumindoo nosso quotidiano. E os anospassaram-se. 33 anos depois,um grupo de cidadãos decidiupromover um simpósio internacional(quando esta crónica forpublicada a conferência já teráacontecido) e fá-lo, certamente,em nome da memória. E fá-lo,provavelmente, por até hoje nãoter encontrado respostas para assuas inquietações, para as suasinterrogações. Se há um livronegro do colonialismo (‹‹Le livrenoire du colonialisme››) da autoriade Marc Ferro, pode bem haverum livro negro do 27 de Maio,da independência de Angola.Defendem, muitos, e eu também,que os europeus e os norte-americanosdevem pedirdesculpas aos africanos pelasatrocidades cometidas pelos primeiroscontra estes últimos. Emais, que os africanos devem serressarcidos. Defendem, ainda,que a igreja católica devia (e fê-lo)pedir desculpas pelas atrocidadesinfringidas aos não católicos e atodos quantos a igreja entendeusacrificar em nome da fé. Parecemelegítimo que, em África, osgovernos (quaisquer que sejam)também eles peçam desculpasaos seus povos pelos crimes cometidoscontra os mesmos. Comisso quero dizer que o governode Angola (e nem digo o MPLA)deve(ria) pedir desculpas ao povoangolano pelas atrocidades, pelohorror que foi o 27 de Maio de1977. Podem não ter feito, ainda,por razões políticas, por entenderemnão ser este ainda o momento;por entenderem que a simplesmenção à data e à ocorrênciapode ser contra-producente porir agitar as águas; ou ainda porentenderem (e espero que nãoseja o caso) que não têm nada queo fazer (a verdade é que temosuma população jovem que poucoou nada sabe do passado, atédo mais recente, e a quem o 27 deMaio nada diz – poderá ser umtrunfo para o governo mas nãoé, seguramente, primeiro para osangolanos e segundo para a história(veja-se o caso mais recentedo governo australiano, e refiromeao pedido de desculpas dirigidoao povo chamado aborígene,entenda-se, autóctone).Num momento em que secomemoram 35 anos de independênciae em que o governoaparece apostado em fazer comque esta efeméride, em 2010, sejamais visível e mais festiva, conviriaque o governo começasse apensar, seriamente, não na comemoraçãodo 27 de Maio (como?)mas em se não fazer mea culpa(afinal, não se pode responsabilizaros actuais governantes peloserros de há 33 anos [ou será quetal é o caso?] mas é ao governoenquanto órgão que deve zelarpelo bem estar dos cidadãos, peloNum momentoem que se comemoram35 anos deindependência eem que o governoaparece apostadoem fazer com queesta efeméride, em2010, seja mais visívele mais festiva,conviria que o governocomeçasse apensar, seriamente,não na comemoraçãodo 27 de Maio(como?) mas pedirdesculpas ao povoe procurar darrespostas sobre otrágico 27 de Maiode 1977)cumprimento da constituição,que compete pedir perdão, pedirdesculpas ao povo e procurardar respostas sobre o trágico 27de Maio de 1977). Ficaria bem ogoverno na fotografia e, sobretudo,apascentar-se-iam enfim, oscorações das mães, pais e filhosque têm suspensas as perguntassobre o paradeiro dos seus entesqueridos e que ruminam azedumesnem se sabe bem em relaçãoa quem! Este seria, também, ummomento de reconciliação entreos angolanos e um exemploímpar no continente africano.E como precisamos de (bons)exemplos…! ■


Sábado, 29 de Maio de 2010. 19OpiniãoInocência Matainocenciamata2009@gmail.comAs armadilhas da percepçãode outras culturas(a propósito do III Fórum da Aliança das Civilizações)Foi ainda no ano passado,em Abril, que eu trouxeàs páginas deste jornaluma reflexão sobre o 2ºFórum das Civilizações i , que serealizou em Istambul, cidade daTurquia cujas designações – Bizâncioe Constantinopla – dizemda sua história feita de complexae diversa geografia civilizacional.Na altura eu disse que a importânciadesse II Fórum era muitosimbólica porquanto ele coincidiacom a primeira visita à Europa dopresidente dos Estados Unidos,que fez questão em incluir no seuroteiro a Turquia, hoje vista peloseuropeus com desconfiança dadaalguma regressão, queremos quetemporária, da secularização doEstado. E isso numa altura emque o Ocidente ainda não se desfezda visão de adversário (inimigo?)em relação a (certo) mundodo Islão – e vice-versa… Note-seque a Aliança das Civilizações,cujo alto-comissário é o ex-presidenteportuguês Jorge Sampaio,foi proposta na 59ª As<strong>sem</strong>bleiaGeral das Nações Unidas porJosé Luis Rodríguez Zapatero,presidente do governo espanhol,em Setembro de 2004, logo apósos atentados de Madrid de Marçodo mesmo ano, e teve o apoio,desde o início, da Turquia.Pois bem, este ano o evento,que termina hoje, 29 de Maio, realiza-seno Rio de Janeiro, Brasil.Ser fora da Europa é importante?É! E porquê?Em primeiro lugar porque aAliança das Civilizações pugnapor um mundo menos etnocêntrico(deveria dizer, no caso,eurocêntrico?), menos monocultural,mais dialogante, maisintercultural, mais assertivo nanecessidade de diligenciar meiosque possibilitem a percepção deoutras culturas, outras margens(género e etnia incluídas) isto é,margens mais subalternas, menosfortes em termos mediáticos.Não admira que o tema destaterceira edição seja ‹‹InterligandoCulturas, Construindo a Paz››.Tal como foi muito significativoque a realização do II Fórum tivesseocorrido na Turquia, por setratar de um fórum que promoviaa compreensão mútua e ummelhor conhecimento interculturale inter-religioso, este III Fórumtorna-se importante porquepromove a diversidade cultural.Em suma, este fórum erige-sea lugar onde se desmonta a peregrinaideia de que a mediatizaçãoestá na razão directa da qualidadee da eficácia como algunscomentadores e analistas constantee perversamente insinuam.Assim, se a primeira edição serealizou em Madrid, na Europa,a segunda na fronteira (geográfica,civilizacional) entre o mundoocidental e o oriental, é significativoque o terceiro se realize naAmérica Latina e, espero, que opróximo se realize na Ásia ou emÁfrica, englobando civilizaçõesmuito diferentes na sua complexidadee na sua localização histórica.E se a presença do presidenteBarack Obama no II Fórum nãose concretizou, apesar de anunciada,nesta terceira edição a adesãodos Estados Unidos (atravésda secretária-adjunta de Estadopara Assuntos de OrganizaçõesInternacionais) vai ao encontroda política do desanuviamentoem curso das tensas e belicosasrelações entre o Ocidente e oOriente em que George W. Bushmergulhou o mundo.Ser no Brasil (e não, por exemplo,na Argentina, no Chile ou naColômbia) é duplamente importante:primeiro porque de entreos países da América Latina, oBrasil é aquele em que, pelo menosdesde o governo de Lula daSilva, através de uma políticaeducativa que visa a promoçãoda integração dos diferentes segmentosque compõem a esteiradas culturas nacionais, se temvindo a ensaiar um diálogo interculturaltendencialmente equilibradodepois de uma história feitade desigualdades relativizadase subalternidades naturalizadasque advêm daquilo a que se podedesignar como a ‹‹cegueira dacor››, doença de quem sofre(ra)m muitos brasileiros, mesmo daelite cultural. Em segundo lugar,porque tendo em conta os outrostemas deste fórum, o Brasil é, defacto, um exemplo de integraçãono que diz respeito à luta contraas desigualdades sociais de que éprova o sucesso da luta contra afome e pela segurança alimentar,assim como pela capacitação daspopulações rurais com vista aodesenvolvimento da agricultura eao incremento de sistemas e programasde auto-sustentação.Porém, apesar de o Brasil seruma nação que se formou de umamulticulturalidade, devo confessarincómodo e desconfortoquanto à ideia da ‹‹exemplaridade››brasileira no que respeita à diversidadeétnica e cultural, o quese pode depreender da expressãode Ban Ki-moon (secretário-geralda ONU): ‹‹Eu celebro que esteterceiro fórum seja realizado noBrasil, um país que é consideradoum crisol de raças››. Primeiroporque poucos são os países quehoje não se podem incluir no tipo‹‹crisol de raças››. Quereis exemplos?Aí ao lado, a Argentina, aColômbia, a Venezuela; os paísesdo Caribe (só para me ficarna zona). Depois porque a ideiade ‹‹crisol de raças›› é hoje umaideia que não responde já aos ideaisde uma equilibrada gestão dadiversidade porque remete parao ‹‹melting pot›› americano: a homogeneizaçãoda diversidade étnica(ou rácica, como quiserdes,aqui), de que os Estados Unidosseriam o paradigma enquantoideal societário, porém bem direccionadopara o ideal WASP ii –hoje bem ultrapassado em termosde proposta. Finalmente, e maisimportante, é que, na contramão,pode-se cair no inverso da apologiade uma outra forma de eugenia,não já de ‹‹raça pura››, masde uma ‹‹raça mestiça››; como sea mestiçagem euro-hifenizadapertencesse a uma concepção detempo, ordem e causalidade e,segundo um ‹‹pensamento mestiço››(Serge Gruzinki, 2000),o mestiço se transformasse em‹‹raça cósmica››, na expressãode Rodolfo Stavenhagen (1993);como se a mestiçagem fosse umfenómeno moderno, que apenassurgiu com a expansão europeiae os colonialismos… europeus!O que faz da mestiçagem euroafricana/asiática/americanaoutraforma de mitificação da relaçãohistórica entre colonizadose colonizadores que transformao colonialismo em ‹‹encontro deculturas›› ! iiiA haver ‹‹crisol››, prefiro denacionalidades e cidadanias! Deresto, prefiro a diversidade.Assim, desse ponto de vista,não me pareceria menos celebrativoque o Fórum fosse realizadonum país escandinavo, que nãoostenta uma história de evidentemulticulturalidade, mas em quehá muito tempo existem políticaspúblicas cuja enunciação visauma sociedade inclusiva e em queos direitos humanos são transversalmenterespeitados – o quenão se pode dizer propriamente,e em consciência, do Brasil! ■iVer: “Barack Obama e a‘aliança das civilizações’: lucubraçõestriviais”. In: “Semanário<strong>Angolense</strong>”, nº 312, 18-24 deAbril de 2009.iiWhite, Anglo-Saxon andProtestant.iiiNão é exagero meu: há tempos,num encontro no CentroCultural da Malaposta (Odivelas- Portugal), ouvi que o colonialismoportuguês, contrariamenteaos outros, teria sido um“colonialismo intercultural” (!!!).Fiquei estupefacta com a aprendizagem!


Sábado, 29 de Maio de 2010. 21Opiniãoafricanos, factos documentadospelos monumentos e invençõesseguintes:O enorme complexo da pirâmidede Gize.Os grandes templos de Karnake Luxor.Os túmulos reais no Vale dosReis.O templo mortuário em Deirel-Bahri e Remesseum.O templo mortuário em AbuSimbel.A construção de barcos paraviagens de longa distância.Mumificação.Estes monumentos e invenções,bem como os princípioscientíficos e matemáticos aí mencionados,servem de base paratodos os princípios da ciênciamoderna. Mesmo com as tecnologiasde hoje, estas estruturasimpressionantes não podem serrepetidas. Estes grandes feitostecnológicos são apenas metadeda equação; a outra metade sãoa sua humanidade e espiritualidade.Desde o início, os antepassadosafricanos incorporaram oque é conhecido como o credoMaathian (Leis da Harmonia)em cada aspecto de suas vidas.Este credo engloba os conceitosde paz, amor, sabedoria, verdadee justiça.Ao contrário de algumas estruturaseuropeias que mais tardeobtiveram o nível de avançotecnológico através da assimilação,nunca os nossos antepassadosoprimiram o povo que visitaramno que diz respeito à suacultura. Isto é evidenciado pelopovo da Índia, China, AméricaCentral e América do Norte, aEuropa. Todas estas civilizaçõescomeçaram no momento em queentraram em contacto com osnossos antepassados.Na cosmologia africana, a ciência,a economia e a espiritualidadenunca estiveram dissociadaspor dependerem uma daoutra. O mundo é um palco desobrevivência. Nunca um povodeve deixar perder a sua estruturacosmológica porque nãoexiste no mundo um povo queatinge o desenvolvimento forada sua estrutura cosmológica.Pois é ela que dá o propósito eo formato da consciência colectiva.Muitos governos africanosinsistem em desenvolver os seuspaíses com base na formaçãode quadros e recursos naturais.Todavia, apesar destes dois elementosserem inegavelmenteimportantes, eles por si só nãogeram desenvolvimento enquantoestiverem fora da suabase orgânica, porque o desenvolvimentotem que ser orgânicoe instintivo, muito embora aciência seja universal.Poderá existir países africanoscom indicadores económicossaudáveis, mas esses indicadoresnão se traduzirão emdesenvolvimento enquanto amente dos africanos estiver forada estrutura orgânica.Se a formação de quadros e osrecursos naturais fos<strong>sem</strong> os únicoselementos para desenvolveros países africanos, então já teríamo<strong>sem</strong> África países desenvolvidosporque o continente jávem formando quadros desde operíodo da colonização. Exemplosvivos desta realidade são aNigéria, Costa do Marfim, RepúblicaDemocrática do Congo,Quénia, etc, que a despeito depossuírem bastantes quadros erecursos naturais não conseguiramatingir o desenvolvimento.E se a consciência africanafosse a mesma que a consciênciaeuropeia – como muitos intelectuaisdefendem este absurdo–, com os quadros que Áfricapossui, associados ao potencialde recursos naturais invejáveis,mesmo estando fora da sua baseorgânica, então já teríamos umaEuropa dentro de África.É preciso não confundir ascoisas. A Europa tem um propósitoe uma consciência colectivaporque não se desconectou dasua estrutura orgânica (língua,usos e costumes, etc.) nem dasua espiritualidade. Criaramseinstituições fortes, como porexemplo a União Europeia, FMI,Nações Unidas, FAO, NATO,etc. Não obstante as diferentesnações que compõem o continenteeuropeu, todas elas se revêemnessas instituições. Tudoisso é fruto das consciênciascolectivas, e as consciências colectivassó surgem quando umpovo não se desconecta da suaespiritualidade.Os países do Oriente Médioe Asiáticos, que também foramcolonizados, não são possuidoresde imensos recursos, mastêm um propósito e uma consciênciacolectiva formatada bemvisível, porquanto continuamapegados aos reflexos deixadospelos seus antepassados.Só os africanos, após terem alcançadoas suas independências,ignoraram o realismo que poderiafornece-lhes um propósito econsciência colectiva preferindoembarcar no eurocentrismo.Em suma, África precisa derebuscar o passado, isto é, asua base orgânica e a sua espiritualidade,para que formate aconsciência colectiva deixandode considerar a Europa ou outracivilização do mundo como basepara o seu desenvolvimento.*Investigador de assuntosafricanos. Texto publicado apretexto do Dia de África,comemorado terça-feira última,25 de Maio. ■


Sábado, 08 de Maio de 2010. 23Edição AngolAAirbus quer agora acelerar o crescimento, mas com cautelaDaniel MichaelsThe Wall Street JournalAgora que acaba de enfrentar amaior crise da indústria da aviaçãoem anos, o diretor-presidenteda Airbus, Tom Enders, se deparacom a difícil tarefa de estimular ocrescimento e, ao mesmo tempo,assegurar que a empresa não seacelere demais.Embora muitas companhiasaéreas no mundo todo ainda enfrentemdificuldades financeiras,a demanda por jatos está robusta.Algumas aéreas querem se prepararpara a retomada do tráfego.Outras querem cortar custos,substituindo os beberrões de combustívelpor modelos mais econômicos.Tanto a Airbus quanto a rivalamericana Boeing Co. anunciaramrecentemente planos de elevara produção dos modelos popularesde apenas um corredor.Nas duas empresas, os executivosdizem também que estão considerandooutros aumentos. Alémdisso, Airbus e Boeing já se mexempara começar ou expandir aprodução de grandes aviões quetiveram problemas no processo dedesenvolvimento.Mas existe uma linha tênue entreaproveitar uma oportunidadee dar um passo maior que a perna,disse Enders recentemente aoWall Street Journal. Entre o momentoem que a Airbus, unidadeda European Aeronautic Defence& Space Co., começa a produçãode um avião e o momento do pagamento,muitos meses depois,podem surgir incertezas em relaçãoà capacidade do cliente defazer o de<strong>sem</strong>bolso. Cada pequenamudança na produção é umaaposta milionária.“É muito importante que nãonos tornemos gananciosos”, disseEnders.O aumento da produção requerrecursos administrativos que jáestão no limite, dizem executivosda Airbus. Alguns banqueiros quefinanciam a produção de aviõesquestionam a decisão de elevar aBLOOMBERG NEWSTom Enders, o diretor-presidente da Airbus: “É muito importante que não nos tornemos gananciosos”produção num momento em queas aéreas ainda dependem de financiamentopara cobrir os trêsanos de aumento dos preços doscombustíveis e queda na demanda.A aceleração da produçãotambém pode pôr pressão sobreos fornecedores, que já estão apertadosfinanceiramente por contade atrasos na produção do superjumboA380, da Airbus, e do 787Dreamliner, da Boeing. Os doisimportantes projetos, assim comooutros menos relevantes, estãoatrasados vários anos em relaçãoao plano original. Enders e o presidenteda Boeing, Jim McNerney,já admitiram que suas empresasforam ambiciosas demais nos últimosanos.Os novos planos já levam emconta lições aprendidas com osproblemas recentes, disse Enders.“É de se imaginar que aprendemosalgo com os erros do passado.”Enders também está atento àBoeing. Jim Albaugh, diretor dadivisão de aviões comerciais daBoeing, disse aos investidores, na<strong>sem</strong>ana passada, que está bastanteseguro de que irá alcançar a Airbu<strong>sem</strong> volume de entregas de aviõe<strong>sem</strong> 2011 ou, certamente, em2012.Enders assumiu o comando daAirbus em 2007, quando a empresaestava se recuperando deanos de turbulências na diretoria,agravadas pelos altos gastose constrangimentos causados porproblemas na produção do A380,de dois andares. O executivo alemão,um ex-paraquedista militarde 51 anos que tinha sido um dosdiretores-presidentes da EADS,alertou os funcionários da Airbusde que eles ainda teriam um trabalhoduro pela frente para colocaro superjumbo nos eixos.“Meu pessoal me criticou e disseque eu estava sendo muito pessimista”,relembrou Enders, sentadono superjumbo entregue na<strong>sem</strong>ana passada à alemã DeutscheLufthansa AG.Os diretores da Airbus dizemque os problemas na produçãodo maior jato de passageiros domundo estão sendo superados eque os pedidos devem crescer esteano. Ainda assim, o projeto vaidemorar vários anos para se tornarlucrativo, dizem executivosda EADS. Em 2006, a meta era deque o A380 se tornasse rentávelem 2010.No começo do mês, a EADSanunciou queda de 39% no lucrolíquido do primeiro trimestre,em relação ao mesmo período de2009, para 103 milhões de euros(US$ 129,5 milhões), com aumentode 6% no faturamento, para8,95 bilhões de euros. Os custosassociados ao A380 e a deterioraçãodas posições de hedge cambialforam citados como as principaisrazões da queda. A empresa reafirmoua projeção de um lucrooperacional anual de cerca de 1 bilhãode euros, já levando em contaum prejuízo de 1 bilhão de euroscom as operações de hedge.Há três anos, quando os pedidosde jatos estavam aumentandoe as perdas com o superjumbo,escalando, a Airbus investiu navenda de modelos mais antigosque estavam saindo da linha deprodução. Mas, ao invés de correrpara atender aos pedidos — comoBoeing e Airbus tinham feito emoutros momentos de retomada —,Enders pediu que fosse colocadoum freio.A Airbus aumentou a produçãode aviões gradualmente e ovolume de pedidos não atendidoschegou a um recorde, equivalentea mais de seis anos de produção.A Boeing seguiu uma estratégia<strong>sem</strong>elhante.Para dar uma margem de segurança,as duas fizeram overbookingde seus aviões — acreditandoque parte da demandainicial desapareceria. No ano passado,a Airbus fez malabarismoscom centenas de pedidos para garantirque todos os aviões que estives<strong>sem</strong>sendo fabricados fos<strong>sem</strong>para um cliente com condições depagar.Agora, a Airbus busca um crescimentomais vigoroso, que podeser ajudado pela recuperação dosfinanciamentos no mercado deaviação.(Colaborou Peter Sanders)


24 Sábado, 08 de Maio de 2010.The Wall Street JournalBombardier faz sua aposta nos grandes aviõesPeter SandersThe Wall Street JournalPierre Beaudoin: CSeries pode acrescentar até US$ 8 bilhões ao faturamentoNum momento em que a BombardierInc. começa a ver sinais derecuperação da indústria aeroespacial,o diretor-presidente da empresa,Pierre Beaudoin, está apostandoseu legado em um novo jatochamado CSeries, que vai colocara fabricante canadense de aviões etrens em competição direta com aAirbus e a Boeing Co.Há seis anos, a Bombardier estátentando lançar o jato — com capacidadepara até 145 passageiros —,mas não tinha recebido os pedidospreliminares necessários para iniciara produção. Finalmente, em2008, a Lufthansa assinou um contratocomo cliente de lançamento ea Bombardier foi em frente. Hoje,a empresa tem 90 pedidos para oCSeries, o maior avião já construídopor ela, que normalmente produzjatos regionais e turboélices.O momento é oportuno para aBombardier, porque a Airbus e aBoeing estão mostrando alguns sinaisde vulnerabilidade, enquantodecidem se devem atualizar os modelosde seus jatos que concorremcom o novo CSeries. Como o CSeriesprovavelmente estará prontopara entrar em operação algunsanos antes dos novos aviões daBoeing e da Airbus, a Bombardierplaneja abocanhar fatia de mercado.É a chance que Beaudoin tempara deixar uma marca na empresaque sua família dirige desde afundação, em 1942. Ele assumiu ocargo em junho de 2008, das mãosde seu pai Laurent, que comandoua fabricante de aviões por quase 42anos e ainda ocupa a presidênciado conselho.Durante a recessão, a empresa,que tem sede em Montreal, viu ospedidos minguar e cortou maisde 4.400 empregos. Beaudoin dizque o clima está melhor e que osnegócios estão sendo sustentadospor encomendas recentes de novosjantos executivos, assim como porum grande pedido do CSeries, feitopela Republic Airways HoldingInc., controladora da aérea americanaFrontier.Em entrevista ao Wall StreetJournal, ele também disse que,para crescer, está de olho na Chinae apostando no reaquecimento dademanda por jatos executivos nosEstados Unidos, à medida que a<strong>sem</strong>presas comecem a afrouxar osorçamentos de viagem.Trechos:WSJ: Que tipo de impacto o sr.espera com o CSeries?Pierre Beaudoin: Acreditamosque ele possa elevar as vendas emUS$ 5 bilhões a US$ 8 bilhões anuais,o que é uma grande coisa parauma empresa com receita anual aoredor de US$ 20 bilhões.WSJ: O seu segmento de jatosexecutivos foi duramente golpeadodurante a recessão e as viagens emREUTERSjatos corporativos passaram a seralvo de revolta pública no fim de2008. Como estão as coisas agora?Beaudoin: Nós reduzimos significativamentea produção na nossalinha de aviões executivos desde2008. O setor não precisava daatenção negativa naquele momento,dada a situação da economia.Cerca de 95% dos aviões executivossão usados por motivos legítimose, à medida que as empresas se recuperem,o uso desses aviões vaiacompanhar o crescimento.WSJ: Como o sr. está conduzindoa empresa durante a recuperação?Beaudoin: Nós continuamos perseguindouma estratégia agressivade desenvolvimento de produto.Na área aeroespacial, temoso jato executivo Lear 85 e o aviãocomercial CSeries, para o qual temosagora 90 pedidos e 90 opções.Na área de transporte ferroviário,temos o nosso trem de alta velocidade,o Zefiro 380, para o qual recentementefechamos um pedidomultibilionário na China.WSJ: A China tem um enormepotencial para a aviação comercial.Como é que a Bombardier estánavegando esse mercado?Beaudoin: Fiz da China umaprioridade. As indústrias chinesasjá fazem partes da fuselagemdo avião [turboélice] Q400 e nósassinamos um acordo com a CorporaçãoIndustrial da Aviação Chinesapara a produção de partes dafuselagem do CSeries. Precisamosentrar nisso com os olhos bemabertos.WSJ: A China é também ummercado importante para o seusegmento ferroviário. Como é queessa parte da companhia se saiudurante a recessão?Beaudoin: Não houve desaceleraçãodurante a recessão. Temosuma joint venture de US$4 bilhões para construir trensde alta velocidade na China e opotencial de crescimento é muitogrande. Estamos também nomeio de um contrato de US$ 11bilhões para substituir trens naFrança. Os Estados Unidos, como tempo, também passarão a representaruma parcela maior donosso negócio de transporte ferroviário.Cerveja oficial da Copa, Bud cede mando na África do SulRobb M. StewartThe Wall Street Journal,de Soweto, África do SulGodfrey Mautloa passou meses preparando seu bar para oinício da Copa do Mundo aqui, em menos de um mês. Ele pediutendas para acomodar o fluxo extra de clientes, e também telõespara exibir os jogos. Mas não vai oferecer a Budweiser, acerveja oficial da Copa do Mundo.“Tentamos, mas as pessoas simplesmente não gostam”, dizMautloa, dono do Masaken, um boteco popular neste subúrbioao sul de Joanesburgo. “A própria Budweiser não parece tão interessadaassim na África do Sul.”A cerveja que se anuncia como a “Grande Lager Americana”pode dominar o mercado dos Estados Unidos, mas sua presençaé pequena num país que se prepara para hospedar várias centenasde milhares de torcedores com sede de cerveja durante ocampeonato mundial de futebol, que dura um mês. É por issoque a marca tomou a estranha decisão estratégica de ceder omando de campo para os concorrentes locais no país africanoem que mais se consome cerveja.A fabricante da Budweiser, a Anheuser-Busch InBev NV, sediadana Bélgica, afirma que está de olho num objetivo maior. Aestratégia da marca é se concentrar na conquista dos milhõesde torcedores que vão assistir aos jogos da Copa do Mundo pelatelevisão, em mercados onde a companhia já tem marcas fortes.Entre esses mercados estão os EUA, a China e a sede da Copaseguinte, o Brasil.“Embora a África do Sul certamente seja importante para asvendas de cerveja, o foco é mais no aspecto global da Copa doMundo”, diz Eelco van der Noll, diretor mundial de esportes eentretenimento da AB InBev.Mas enquanto a Bud adota uma visão mundial, seu maiorconcorrente age localmente.Quando a Copa começar, em 11 de junho, a SABMiller PLCterá peruas climatizadas em locais importantes do país, paraque bares e restaurantes não fiquem <strong>sem</strong> a bebida. A cervejaria,que tem sede em Londres, também quer garantir que os donosdos estabelecimentos tenham um bom estoque de suas marcas,especialmente a popular Castle Lager. A Castle é a patrocinadorada seleção sul-africana.“Tenho certeza que a Castle está bem posicionada para ser aKRISANNE JOHNSONTrabalhadores recolhem garrafas vazias de cervejas da SABMillerem Soweto: a empresa aposta em sua Castle Lagercerveja extra-oficial do torneio”, diz Alastair Hewitt, gerentegeralda marca Castle e da campanha da SABMiller durante aCopa do Mundo. Hewitt diz que a SABMiller deve comercializaro equivalente a mais de 30 milhões de garrafas padrão decerveja durante o torneio, 6% a mais que as vendas normais daépoca.A holandesa Heineken NV, veterana patrocinadora do futeboleuropeu, abriu oficialmente este ano sua primeira cervejariasul-africana. Ela também está ajudando os bares locais amontar o estoque de cerveja para a Copa.A SABMiller, que há muito domina o mercado sul-africano —a SAB foi fundada em Joanesburgo em 1886 e em 2006 formoua SABMiller, depois de ter comprado a americana Miller —, estáaumentando sua produção em sete fábricas no país. O consumoper capita da África do Sul é de cerca de 60 litros por ano,ante uma média africana de 6 litros. Ainda assim, o consumosul-africano está bem aquém do de boa parte da Europa, ondechega a cem litros anuais per capita.Embora o mercado local seja pequeno se comparado aos oceanosde cerveja que circulam nos EUA, na China e na Índia, eletem um apelo especial. Desde o fim da era do apartheid, 16 anosde democracia criaram uma nova classe média negra. A demandade cerveja deve subir ao mesmo tempo em que a renda dossul-africanos aumenta com o desenvolvimento da economia.A Budweiser é a cerveja oficial da Copa do Mundo desde1986. Executivos da AB InBev preferem não informar quantoela gasta com o patrocínio, mas a firma de advocacia britânicaWard Hadaway, que presta consultoria a vários clientes sobreas regras de marketing do evento, calcula que ela gastou cerca


Sábado, 08 de Maio de 2010. 25The Wall Street Journalde US$ 50 milhões na Copa doMundo de 2006, na Alemanha.A Budweiser planeja realizarvárias promoções ligadas àCopa, como um “reality show”na internet chamado de “BudHouse”, em que um torcedorde cada um dos 32 países quese classificaram viajará paraa Cidade do Cabo, onde ficaráhospedado com os outros numacasa enquanto seu país continuarno torneio. A cervejariatambém vai veicular anúnciospara incentivar os torcedores aescolher pela internet o melhorjogador de cada partida, em vezde confiar apenas na decisão daFifa.A aposta da Budweiser é queseus esforços vão atrair atençãoem mercados importantesonde o futebol é cada vez maispopular. Pelo menos 130.000ingressos para os jogos da Copaforam vendidos até agora nosEUA, mais do em qualquer outropaís além da África do Sul. O objetivo,diz Van der Noll, é aproximaros torcedores da Budweiser.“Cerveja e futebol combinammuito bem”, diz ele.Nos mercados em que a Budweisernão tem muita presençaou outra marca da cervejaria éque é mais ligada ao futebol, aAB InBev montou campanhascentradas na Copa do Mundopara promover cervejas como aBrahma, no Brasil, a Harbin, naChina, e a Hasseröder, na Alemanha.Nos países em que muitaspessoas devem assistir ao torneiopela televisão, a BernsteinResearch, de Londres, calculaque o volume total de vendas decerveja vai subir 1% em junho ejulho. Embora o patrocínio oficialdê exclusividade à Budweisernos nove estádios das partidasda Copa, para se concentrarno marketing mundial, a cervejariaabriu mão das vendas emoutros lugares cobiçados, comoas dez áreas para torcedores queserão criadas nas cidades quehospedarem times. A empresaterá de importar cerveja só parasuprir os estádios.Muitos supermercados e baressul-africanos também nãovenderão a Budweiser. SobantuZuba, gerente da luxuosa tavernaSediba, em Soweto, diz quepode comprar algumas Budweiserpara a Copa do Mundo, “casoalguns turistas entrem aqui pedindo”.Enquanto isso, a SABMiller seprepara para encher o copo dostorcedores sul-africanos, mesmoque tenha de fazer isso anonimanenteàs vezes. Sem o direitode patrocinar diretamentea Copa do Mundo, a Castle Lagernão pode ser vendidas nas áreasde torcedores com seu próprionome, mas apenas em latas vermelhasestampadas com “Áfricado Sul”.Steve Stecklow,Spencer Swartze Margaret CokerThe Wall Street Journal, de Fujairah,Emirados Árabes UnidosComércio de petróleo como Irã prospera, discretamenteCampo de Azadegan, no Irã: petrolíferas evitam divulgar negócios com o paísUm petroleiro chamado FrontPage, contratado pela Royal DutchShell PLC, deixou este porto em 17de março e informou que seguiriapara outro porto dos EmiradosÁrabes, e daí para a Arábia Saudita,mostram registros da rota donavio.Mas os registros também revelamque o Front Page fez uma paradanão declarada — na costa do Irã.Lá, foi carregado com petróleo iraniano,segundo registros obtidospor traders e pessoas da marinhamercante.O incidente, dizem alguns especialistasna indústria petrolífera, éum exemplo de como certas empresasestão ocultando seus negócioscom o Irã, mesmo quando perfeitamentelegais porque não estão sujeitosa sanções.Outro petroleiro que parou noIrã em março, que traders dizemter sido contratado pela Total SA,da França, desligou seu transmissorde localização durante a visita,segundo registros sobre a rota donavio.Porta-vozes da Shell e da Totalnão quiseram comentar.Nenhuma das atuais propostasde sanções que circulam na ONUe nos Estados Unidos — inclusiveas mais recentes, acordadas esta<strong>sem</strong>ana por EUA, Rússia e China —afetaria as exportações iranianasde petróleo, que geram cerca demetade da receita do governo. Fazerisso, dizem especialistas, provavelmenteaumentaria a cotaçãomundial da commodity.Autoridades americanas tambémtemem que sancionar as exportaçõesiranianas prejudicaria aeconomia de países aliados que sofreramcom a recessão, como o Japão,que importou 421.000 barrisdiários de petróleo iraniano anopassado, pouco menos que a Chinae a Índia.O resultado é que empresascomo a Shell e a BP PLC continuamfaturando com as exportações iranianasde petróleo. A BP não quiscomentar.“Todo mundo compra dos iranianos— governos, Estados, outra<strong>sem</strong>presas”, diz Mark Ware, portavozda Vitol Group, uma tradingque continua a comercializar petróleoiraniano e é uma das pouca<strong>sem</strong>presas dispostas a falar sobre oassunto. “Não há lei que proíba.”Mesmo assim, devido a toda apolêmica sobre o programa nucleariraniano, muitas empresas senegam a discutir suas compras depetróleo do país.Empresas como a Shell e a BP jáanunciaram que pararam de vendergasolina ao Irã.Mas raramente mencionam quecontinuam a comprar petróleo ederivados iranianos, um negócioque normalmente é muito maior emais lucrativo que a venda de gasolina.O Irã importa cerca de 100.000barris de gasolina por dia. O paísexporta atualmente cerca de 2milhões de barris de petróleo pordia — ante cerca de 2,6 milhões em2008.“É algo que [as empresas] nãoquerem divulgar simplesmente porcausa do estigma”, diz Lucian Pugliaresi,presidente da Energy PolicyResearch Foundation Inc., umcentro de pesquisas de Washingtonque é financiado pelo governoamericano.Um executivo do setor de transportemarítimo de petróleo cogitaque a Shell pode querer camuflarsuas compras no Irã para não passara impressão de que a gasolinaque vende nos EUA é refinada dopetróleo iraniano, uma violaçãoda legislação americana. A Shellé uma das maiores distribuidorasde derivados de petróleo nos EUA.Segundo seu relatório de 2009, aShell vendeu 1,33 milhão de barrisdiários de gasolina, diesel e outrosderivados nos EUA. Não há indíciosde que a matéria-prima dos produtosamericanos da Shell venha doIrã.A informação relativa aos petroleiroscontratados pela Shell e aTotal foi obtida de registros sobrea localização dos navios compiladospela IHS Fairplay, uma firmabritânica que fornece dados paraa marinha mercante mundial, e deoutros documentos.Diante da natureza confidencialdesses negócios, não se sabe a frequênciacom que as petrolíferastentam ocultar suas viagens aoIrã, ou se fazem isso, em parte, porquestões de segurança.A Organização Marítima Internacionalda ONU afirma queo transmissor de localização donavio “<strong>sem</strong>pre deve estar funcionando”,para não pôr em risco asegurança do navio, como quandoele circula em águas frequentadaspor piratas.Segundo registros do porto deFujairah, nos Emirados, que recebecerca de 80 navios-tanque pordia, o Front Page chegou em 16 demarço e partiu no dia seguinte.Como todos os navios de grandeporte, é obrigado por um tratadointernacional a operar um equipamentoeletrônico conhecido comoSistema Automático de Identificação,que transmite informaçõessobre localização, destino e outrasaspectos. Segundo o tratado, o destino“deve ser computado manualmenteno início da viagem e atualizadoquando necessário”.Dados do localizador do navioregistrados por satélites mostramque ele declarou seu próximo destinocomo Jebel Dhanna, outro portodos Emirados. Ele chegou lá em 18de março e passou a noite.Nos próximos quatro dias, continuouinformando que seu destinoera Jebel Dhanna. Mas em 19 demarço deixou o porto e cruzou oGolfo Pérsico para lançar âncora nacosta iraniana perto de Asalouyeh,sede de um complexo de petróleoASSOCIATED PRESSe gás, segundo as coordenadas desua posição. Lá ele ficou durante ospróximos dois dias.Segundo registros obtidos portraders e pessoas a par do assunto,o Front Page foi carregado com umvolume desconhecido de um derivadode petróleo chamado condensadoSouth Pars, um tipo de óleoleve que pode ser transformado emgasolina.Quando partiu, o navio informouque a linha de água do casco caiutrês metros, mais uma prova deque levava alguma carga.Enquanto o navio deixava a costado Irã, o localizador indicou queele mudou o destino para Ras Tanurah,importante porto petrolíferona Arábia Saudita. O Front Pagechegou lá em 23 de março.Um representante da FrontlineLtd., uma empresa sediada nasBermudas que alugou o navio paraa Shell, não quis comentar.No caso do navio contratado pelaTotal, um petroleiro iraniano chamadoSaveh, dados do localizadormostram que ele divulgou seu destinoem 28 de fevereiro como sendoa Ilha Kharg, um terminal iranianode exportação de petróleo. Massatélites pararam de receber seusinal da tarde de 1o de março à manhãdo dia 3.Segundo os registros obtidospor traders e pessoas da marinhamercante, em 2 de março, duranteo blecaute do localizador, o Savehrecebeu cerca de 100.000 toneladasde petróleo leve e 34.000 toneladasde óleo pesado iranianos.Um representante da NationalIranian Tanker Co., a dona do Saveh,que o aluga para empresasinternacionais, disse que “é um negóciolegal e lucrativo”.


26 Sábado, 08 de Maio de 2010.The Wall Street JournalPoder estatal volta com força no petróleoIan BremmerEspecial para o Wall Street JournalQual é a maior empresa petrolíferado mundo? ExxonMobil? BritishPetroleum? Royal Dutch Shell?Na realidade, hoje as 13 maiorespetrolíferas do planeta, de acordocom as reservas que elas controlam,pertencem e são operadas porgovernos. Saudi Aramco, Gazprom(Rússia), Corporação Nacional dePetróleo da China, National IranianOil Co., Petróleos de Venezuela,Petrobras e Petronas (Malásia)são maiores que a ExxonMobil, amaior entre as multinacionais. Coletivamente,as multinacionais depetróleo produzem apenas 10% dasreservas de petróleo e gás natural.As estatais hoje controlam mais de75% de toda a produção de petróleo.O poder do Estado está de volta.Com o fim da Guerra Fria, a crençade que os governos poderiamadministrar áreas da economia egerar prosperidade parecia morta.A China comunista vinha testandoo capitalismo desde 1978. As burocraciasmarxistas da União Soviéticae do Leste Europeu tinhamse curvado ao peso de sistemaseconômicos insustentáveis. O dinamismoe o poder de mercado deEstados Unidos, Europa Ocidentale Japão — alimentados pelo capitalprivado, pelo investimento privadoe pelas empresas privadas — pareciamter consolidadado o domíniodo modelo econômico liberal. Osgovernos privatizaram empresas efundos de pensão num momento emque ExxonMobil, Wal-Mart, Toyotae Microsoft elaboravam de formafebril planos de expansão global.Mas o capital público, o investimentopúblico e a empresa públicavoltaram com força total. Uma erade capitalismo dirigido pelo Estadovoltou a despertar, e nela os governosestão novamente conduzindoenormes fluxos de capital — mesmoalém das fronteiras das democraciascapitalistas — com implicaçõesprofundas sobre o livre mercado e apolítica internacional.China e Rússia lideram o desenvolvimentoestratégico das empresasestatais e outros governos jácomeçaram a fazer o mesmo. Nossetores de defesa, geração de energia,telecomunicações, siderurgia,mineração, aviação e outros, umnúmero crescente de governos depaíses emergentes, não satisfeito<strong>sem</strong> simplesmente regulamentarmercados, está se movimentandopara dominá-los. A atividade da<strong>sem</strong>presas públicas é estimuladapelo surgimento de uma nova classede fundos soberanos, veículos criadospelos governos com um grandevolume de reservas internacionaise que têm como objetivo maximizaro retorno do investimento público.Os governos usam esses instrumentospara criar riqueza quepode ser usada como os dirigentespúblicos quiserem. O principal motivonão é econômico (maximizaro crescimento) mas político (maximizaro poder governamental e aschances de sobrevivência de suas lideranças).Isso pode distorcer o de<strong>sem</strong>penhodos mercados. Empresasestatais e fundos de investimentosofrem com a mesma burocracia,desperdício e camaradagem políticaque assolam os governos (muitasvezes autoritários) que os controlam.Dentro das fronteiras dos paísescapitalistas, empresas e investidoresdescobrem que regras e regulamentosnacionais e locais são cadavez mais voltados para favorecerfirmas domésticas às suas custas.Multinacionais se veem como nuncacompetindo com estatais queestão armadas com substancial suportefinanceiro e político dos seusgovernos.Em dezembro de 2006, o governorusso informou a Shell, a Mitsubishie a Mitsui que tinha revogadosuas licenças ambientais comogerentes do projeto de desenvolvimentode petróleo e gás Sakhalin 2,de US$ 22 bilhões, forçando as empresasa reduzir suas respectivasparticipações à metade e a dar umafatia majoritária à russa Gazprom,que detém o monopólio do gás naturalno país. Isso, instantaneamente,reduziu em 2,5% as reservas mundiaisda Shell. Em junho de 2007, oconsórcio privado russo-britânicoTNK-BP concordou, sob pressão, avender a participação de 63% quetinha na Rusia Petroleum, companhiaque detinha a licença para desenvolvero enorme campo de gásKovykta, no leste da Sibéria, assimcomo uma participação de 50% naEast Siberian Gas Co.Foi dessa forma que a Gazprom setornou a maior produtora de gás naturaldo mundo, com direitos sobrecerca de um quarto das reservasmundiais conhecidas. A Gazpromdá ao governo russo o controle sobreum dos recursos mais valiososdo país. Também oferece ao Kremlinmaior influência política sobrea Ucrânia, pobre em energia, assimcomo sobre outros países vizinhos.A Rússia não tem o monopólioda recente onda de nacionalismoem recursos naturais. Em 2006, oEquador acusou a Occidental Petroleum,dos EUA, de espionageme danos ao ambiente e mandou astropas do exército tomarem possedas instalações dela. Em 2007, ogoverno boliviano nacionalizou oscampos de petróleo e gás do país.O Cazaquistão suspendeu o desenvolvimentodo campo de Kashagan,no Mar Cáspio, até então a maiordescoberta de petróleo em muitosanos. Em 2009, a estatal KazMunai-Gas tinha dobrado sua participaçãopara mais de 16%, tirando ações dosseis principais membros privadosdo consórcio.Nos próximos anos, essa tendência,provavelmente, será repetidadiversas vezes em outros setoresda economia. Em 2009, a Coca-Colaesperava que seu papel de principalpatrocinador da Olimpíada dePequim, no ano anterior, pudesseinfluenciar a posição das autoridade<strong>sem</strong> relação à oferta de US$ 2,4bilhões pela fabricante chinesa desucos Huiyuan. O governo chinêsdecidiu que a proposta violava a leiantitruste e a Coca-Cola acabou demãos vazias.A crise financeira e a recessãoglobal tornaram ainda mais difícilpara os proponentes do capitalismode livre mercado convencer aquelesque não acreditam no sistema. Aforte recuperação econômica chinesa,o alto de<strong>sem</strong>prego americanoe a volatilidade financeira na Europacolocaram em xeque o modelo dolivre mercado.As autoridades americanas podemresponder a esses desafioscom a criação de novas barreirasao investimento estrangeiro, particularmenteo de empresas estatais.E isso pode provocar uma onda denacionalismo entre alguns dessesmercados emergentes. À medidaque sua participação no mercadomundial cresce, os países que contamcom o capitalismo estatal paraampliar sua influência política eeconômica podem começar a fazernegócios quase exclusivamente entreeles, às custas das multinacionais.Os EUA, a União Europeia, o Japão,o Canadá e a Austrália devemter na próxima década a causa comumde se proteger contra os pioresefeitos dessa tendência. Paísesque favorecem o capitalismo estatalvão ampliar os negócios entre si.Esses dois blocos econômicos vãocompetir por melhores relaçõescomerciais e políticas com paísescomo o Brasil, a Índia e o México,que têm elementos dos dois modelos.Serão essas as rivalidades quevão definir a próxima geração dapolítica internacional.Para as empresas americanas, étentador acreditar que elas podemcontar com o acesso a centenas demilhões de novos consumidores naChina e em outros mercados emergentespara a fatia mais substanciosados lucros futuros. Mas elastêm que estar preparadas para umasérie de barreiras inesperadas. Amaioria das multinacionais queopera em países de mercado emergentejá sabe que tem que diversificara sua exposição ao risco — quenão pode apostar tudo em um oudois países. Mas as multinacionaisprecisam estar preparadas casouma mudança nos ventos políticosas levem em direção à porta de saída.Aqueles que acreditam no capitalismode livre mercado precisamcontinuar a praticar o tipo de capitalismoque eles pregam. Nos próximosanos, Washington tambémvai enfrentar tentações protecionistas,particularmente se as taxasde crescimento da China e as estatísticasde de<strong>sem</strong>prego nos EUAcontinuarem altas. Hoje, as ideias,a informação, as pessoas, o dinheiro,os bens e serviços atravessamfronteiras em uma velocidade <strong>sem</strong>precedentes. Mas esse trânsito nãotornou as fronteiras irrelevantes, eninguém esqueceu como os murossão construídos.Ian Bremmer é presidente doEurasia Group e autor de “The Endof the Free Market: Who Wins theWar Between States and Corporations?”(literalmente: “O Fimdo Livre Mercado: Quem Vencea Guerra entre Estados e Empresas?”)


Sábado, 29 de Maio de 2010. 27internacionalEmbaixador do Zimbabweinsulta diplomata americanoOembaixador do Zimbabwenos Estadosunidos da América,Machivenyika Mapuranga,ofendeu o secretário deestado adjunto norte-americano,Johnnie Carson, usando os piorestermos que se pode usar para seatingir um negro norte-americano.Pouco preocupado com oprincípio de boa vizinhançaque norteia o relacionamentoentre embaixadores e figurasdo governo que os acolhe, MachivenyikaMapuranga chamouJohnnie Carson de «house salve»,designação dada aos negrosque no tempo da escravatura tinhamcesso aos aposentos dosesclavagistas.O incidente aconteceu quarta-feiraà noite durante uma recepçãoalusiva ao dia de África.Carson, diplomata de carreiracom larga experiência em África,foi o orador principal. Falou entreoutros sobre os progresso registado<strong>sem</strong> África desde a luta delibertação à proclamação sucessivada independência em váriospaíses.Mapurannga saiu do cantinhoquando o diplomata número paraÁfrica do Departamento de Estadoquestionou as políticas de RobertMugabe em matéria de direitoshumanos. Irado, o diplomatazimbabwano gritou do canto emque se encontrava. «Você está afalar como um escravo de sala».Surpreso, Carlson interrompeubrevemente a intervenção, paraser interrompido logo que a retomou.O diplomata zimababwe atirou-sea Johnnie Carson comuma série de impropérios que lhecustaram algumas vaias. Aparentementeanimado com o facto deter conseguido marcar uma posiçãocontinuou. « Escravo. Tenhaa certeza de uma coisa. Nósnunca seremos uma colónia daAmérica. Você sabe disso». Coma sala em choque, alguns convidadostentaram convencer Mapuragaa abandonar o evento, oque conseguiram a muito custo.Antes disso, levou o troco porparte de Carson.«Você pode-sese esconder na penumbra destasala, mas a luz e a verdade hão-deo encontrar». À porta, já quandotodos sabiam de quem tinha partidoa tirada, ainda teve tempopara ouvir o último recado deCarson. «Quer-nos parecer queesta noite Robert Mugabe temalguns amigos na sala. Aconteceque ao contrário do que se passano Zimbabwe, aqui todos podemfalar <strong>sem</strong> estarem sujeitos a pressões,porque estamos numa demococracia».Os termos usados por Mapuragaprometem agravar a criseentre os dois países. Muparaga retomou,de alguma forma, expressõesusadas por Mugabe que numocasião se referiu à antiga secretáriade estado norte-americana,Condoleezza Rice, nos mesmostermos. Noutra ocasião e referindo-sea Morgan Tsvangirai,líder do maior partido da oposição,Mugabe disse que ele era o«tea boy» de Tony Blair, ou sejao «rapaz que servia o chá» ao exprimeiro-ministrobritânico. ■


PRÉMIO MABOQUE DE JORNALISMO EDIÇÃO 2010REGULAMENTOARTIGO 1º(DEFINIÇÕES)Para efeitos de interpretação do presente regulamento, os termosabaixo indicados, têm os seguintes significados:- Prémio Maboque de Jornalismo – é uma distinção de mérito atribuídaanualmente, ao jornalista de nacionalidade angolana quemais se destaque no exercício das suas actividades profissionais.- Prémio Revelação– é uma distinção de mérito atribuída anualmente,ao jornalista jovem angolano que mais se destaque no exercíciodas suas actividades profissionais.- Prémio Homenagem - é uma distinção de mérito atribuída anualmente,ao jornalista angolano ou equipa de jornalistas que, já nãose encontrando no activo, tenham contribuído para o engrandecimentodo jornalismo angolano.- Prémio Locutor do Ano - é uma distinção de mérito atribuídaanualmente, ao jornalista angolano, cuja a actividade principal é ade locutor e que se tenha destacado durante o ano, no exercício dasua profissão.- Prémio Reportagem do Ano - é uma distinção de mérito atribuídaanualmente, ao jornalista angolano que, no exercício da actividadede repórter se tenha destacado durante o ano.- Prémio Órgão Conceituado - é uma distinção de mérito atribuídaanualmente, ao órgão de comunicação social angolano que se tenhadestacado no exercício da missão jornalística.- Prémio de Fotografia – é uma distinção de mérito atribuída aoautor do melhor trabalho fotográfico, que mereça o reconhecimentodo Júri.- Prémio de Operador de Câmara - é uma distinção de mérito atribuídaao autor do melhor trabalho de imagem televisiva, que mereçao reconhecimento do Júri.- Prémio Língua Nacional – é uma distinção de mérito atribuídaao autor do melhor trabalho jornalístico tratado numa determinadalíngua nacional.- Menção Honrosa – é uma distinção atribuída ao Jornalista angolanoque, não sendo vencedor de qualquer prémio, tenha merecidoo reconhecimento do Júri pelo seu de<strong>sem</strong>penho profissional.- Jornalista – é um indivíduo que faz do jornalismo a sua ocupaçãoprincipal, permanente e remunerada e que seja portador da respectivacarteira profissional ou título provisório devidamente actualizados.- Jornalista jovem – é um indivíduo com idade compreendida entreos 18 ou menor emancipado e os 30 anos de idade, que faz do jornalismoa sua ocupação principal, permanente e remunerada e queseja portador da respectiva carteira profissional ou título provisóriodevidamente actualizados .- Promotor – é a empresa Maboque – Gestão de Empreendimentoscom sede social na Rua Ho – Chi – Min, em Luanda.ARTIGO 2º(OBJECTO)O presente Regulamento tem por objecto, o estabelecimento dostermos e condições que regem a atribuição do Prémio Maboque deJornalismo, bem como a atribuição da Menção Honrosa.ARTIGO 3º(ÂMBITO)O Prémio Maboque é de âmbito nacional, aberto a todos os Jornalistasangolanos, residentes ou não em Angola, que produzame publiquem os seus artigos nos meios de comunicação social nacionais,nomeadamente na Imprensa, na Rádio, na Televisão e emAgências Noticiosas.ARTIGO 4º(TIPOS DE PREMIAÇÃO)No âmbito do presente projecto, aos Jornalistas angolanos que reuniremos requisitos estabelecidos no artigo anterior e que se destaquemno exercício das suas actividades profissionais durante o anoem análise, serão atribuídas as seguintes distinções:- Um Prémio Maboque de Jornalismo;- Um Prémio Homenagem;- Um Prémio Revelação;- Um Prémio de Fotografia;- Um Prémio Reportagem do Ano;- Um Prémio Locutor do Ano;- Um Prémio Língua Nacional;- Um Prémio Órgão Conceituado;- Um Prémio de Operador de Câmara;- Um Prémio de Operador de Som;- Uma Menção Honrosa;ARTIGO 5º(Inabilitação)Os jornalistas que reúnam os pressupostos para concorrer ao PrémioRevelação, ficam liminarmente impedidos de aceder ao PrémioPrincipal.ARTIGO 6º(VALOR DO PRÉMIO)O valor global do Prémio Maboque de Jornalismo é de USD.330.000,00 (Trezentos e Trinta mil Dólares ), assim repartidos:a) USD. 100.000,00 (Cem mil Dólares Americanos), para o Jornalistavencedor, que receberá igualmente um galardão e um brasão;b) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o Jornalistahomenageado;c) Uma viatura no valor de USD. 20.000,00 (Vinte mil DólaresAmericanos), para o Jornalista vencedor do Prémio Revelação;d) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o Jornalistavencedor do Prémio de Fotografia;e) USD. 50.000,00 (Cinquenta mil Dólares Americanos), para umaMenção Honrosa;f) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o Jornalistavencedor do Prémio Locutor do Ano;g) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o Jornalistavencedor do Prémio em Línguas Nacionais;h) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o Jornalistavencedor do Prémio Reportagem do Ano;i) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o ÓrgãoConceituado;j) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o Jornalistavencedor do Prémio de Operador de Câmara;l) USD. 20.000,00 (Vinte mil Dólares Americanos), para o Jornalistavencedor do Prémio de Operador de Som.ARTIGO 7º(ATRIBUIÇÃO À TÍTULO PÓSTUMO)Em caso de um determinado jornalista que, encontrando-se emboas condições de arrebatar algum dos Prémios ou a Menção Honrosa,venha a falecer antes da realização do acto formal de entregadas distinções, deverá ser-lhe atribuída a respectiva distinção a títulopóstumo.ARTIGO 8º(GÉNERO)A actividade jornalística a ser avaliada pelo Júri compreende todosos géneros jornalísticos, não se enquadrando neste âmbito, a informaçãocom carácter institucional ou de propaganda.ARTIGO 9º(PROPOSTAS)1- Os meios de informação, grupos de Jornalistas, Jornalistas individuais,leitores, ouvintes e telespectadores, poderão remeter aoJúri, propostas de nomes de Jornalistas indicando os respectivostrabalhos que, no seu entender mereçam a avaliação do Júri doConcurso.2- As propostas referidas no número anterior, deverão ser remetidasao Júri do Concurso no período compreendido entre 1 de Janeiroe 31 de Julho de cada ano, em envelope fechado para o seguinteendereço:Prémio Maboque de JornalismoCaixa Postal nº 5713 – LuandaOu entregues directamente na Sede do Grupo César & Filhos, RuaHo – Chi – Min, em Luanda.ARTIGO 10º(JÚRI)1- O Júri do Prémio Maboque de Jornalismo é composto por setemembros, sendo um deles, o Presidente.2- O Presidente do Júri detém o voto de qualidade.3- O Júri é constituído por individualidades de reconhecida idoneidade,indicados pelo Promotor do Prémio e um representante deste.4- O trabalho jornalístico de membros do Júri não é objecto de avaliaçãopor este, pelo que os Jornalistas em funções como membrosdo Júri, não podem ser laureados.5- O trabalho jornalístico de membros cessantes do Júri não é objectode avaliação pelo período de um ano a contar da data em quetenham terminado as suas funções.6- Das decisões do Júri não caberá reclamação ou recurso.ARTIGO 11º(AVALIAÇÃO)1-O Júri avaliará regularmente, durante o ano, o de<strong>sem</strong>penho dosJornalistas, através de trabalhos publicados na Rádio, Jornal, Revistas,Televisão, Agências Noticiosas e outros meios de grandecirculação.2- Os trabalhos dos Jornalistas das Agências Noticiosas, quandopublicados por outros meios de comunicação social, só serão consideradosse houver indicação da origem e respectivos autores.3- Serão tidos em conta, trabalhos publicados em Boletins dasAgências Noticiosas.4- A avaliação referida no número anterior tem início, para todosos efeitos, na data da indicação do Júri.ARTIGO 12º(CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO)1- Serão avaliados todos os trabalhados efectuados em língua portuguesa,bem como em todas as línguas nacionais faladas em Angolaque se refiram a pessoas ou factos ocorridos em território nacionalou, se no exterior, a assunto angolano ou com repercussõesna vida nacional, segundo o entendimento do Júri.2- Serão critérios de avaliação, a qualidade, a oportunidade, o valoreducativo, a regularidade da produção e publicação e, o uso dastécnicas jornalísticas.3- O Júri conta com a colaboração de especialistas em línguas nacionais,para a avaliação dos trabalhos efectuados nessas línguas.ARTIGO 13º(ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO)1- Por decisão do Júri, o Prémio Maboque de Jornalismo será atribuídoa um Jornalista.2- No caso dos trabalhos serem assinados com pseudónimo, a suaautoria deverá ser atestada pela Direcção do órgão de comunicaçãosocial que os tenha publicado.3- Todos os trabalhos avaliados ou premiados pelo Júri poderão serexpostos, veiculados ou reproduzidos no acto formal de entrega doPrémio ou do anúncio dos resultados.4- O Júri poderá decidir não atribuir o Prémio se não reconhecerqualidade nos trabalhos publicados.ARTIGO 14º(VENCEDOR)O vencedor do Concurso será formalmente anunciado publicamenteno dia 7 de Setembro de cada ano, em cerimónia solene a serpresidida pelo representante máximo do Promotor do Prémio.ARTIGO 15º(CASOS OMISSOS)Todas as questões omissas neste Regulamento, assim como a interpretaçãodas suas disposições serão decididas pelo Júri, de formasoberana, cujas decisões não serão objecto de questionamentoou impugnação por qualquer das partes envolvidas, inclusive peloPromotor do Prémio que, desta forma, garante total isenção na decisãode atribuição do Prémio.Luanda, 1 de Outubro de 2009.O CORPO DE JURADOSAlves António (Jornalista da RNA) – PresidenteLuís Alexandre (Jurista da Sonangol– Vice PresidenteVictor Silva (Directro Executivo da Multipress) – MembroAna Lemos (Jornalista da TPA) - MembroFrancisco Mendes (Jornalista da RNA) – MembroTandala Francisco (Director do Semanário “A Capital”)Juceline dos Santos - Secretária PermanenteNelson Ventura (Director de Comunicação e Imagem do GrupoCésar e Filhos) – Representante do Promotor


Sábado, 29 de Maio de 2010. 29economiaCompanhia diz que isso passa ser sua estratégiaSoares da Costa anuncia pressãona cobrança da dívida do GovernoAconstrutoraportuguesaSoares da Costaanunciou na <strong>sem</strong>anaque hoje termina tercomo prioridade a cobrança dedívidas atrasadas de clientes que,em Angola e em Portugal, estão aprejudicar a tesouraria da companhia.O chief executive officer (CEO)da Soares da Costa, Pedro Gonçalves,foi na <strong>sem</strong>ana que hoje terminacitado a declarar que a companhiafá-lo-á por formas a nãoter pressão para recorrer aos mercadosde dívida para se financiarem 2010. «O segundo trimestredo ano está a ser pressionado aonível da tesouraria» em resultadodo não recebimento de créditossobre serviços já prestados.Sem querer entrar em pormenores,realçou que o total de dívidade clientes à Soares da Costaascende a 398 milhões de euros(um euro equivale a 115 kwanzas),ou seja mais de metade dadívida líquida que a construtoratem para com terceiros.«Sim, sim», disse o CEO citadopela Reuters, quando perguntadose essa dívida atrasada era sobretudode clientes portuguesese angolanos, notando que casoseja regularizada, a companhiade construção não terá necessidadede novos financiamentos atéfinal do ano, algo que não exclui,no entanto, que a Soares da Costatrabalhe «em instrumentos quetransformem a dívida de curtoprazo em dívida de médio/longoprazo».Isso está aparentemente alinhadocom a decisão do Governoangolano de pagar um cash deapenas 50 por cento da sua a dívidacontraída para com as construtorascom recebimentos preconizado<strong>sem</strong> mais de 30 milhõesde dõlares, convertendo umapercentagem em títulos públicose reescalonando o pagamento deoutra percentagem.Mas parece que não está emconsonância com os compromissosassumidos para com o Governoportuguês, que em fins deAbril anunciou uma ajuda de 500milhões de euros para que as autoridadesangolanas inicias<strong>sem</strong>, jáno início de Maio, o ressarcimentoás companhias lusas de construção.O Ministério português dasFinanças manifestou-se, na <strong>sem</strong>anaque hoje termina, confiantede que dentro de um mês o Estadoangolano terá regularizadoas dívidas às construtoras portuguesasno país, que ascendemao montante de 500 milhões deeuros equivalente ao empréstimode Abril.Uma fonte do gabinete do ministroportuguês das Finanças,Teixeira dos Santos, foi citada peloportuguês Jornal de Negócios arevelar informações do Governode Angokla que diziam que «aregularização dos compromissoscom as construtoras portuguesas,incluindo através do recurso à linhade crédito, terá lugar a muitocurto prazo».Isto significa, segundo a mesmafonte, que «é expectável que aregularização dos compromisso<strong>sem</strong> causa possa vir a ocorrer noperíodo de um mês». ■Operação pode vir a acontecer apenas depois de JulhoRevisão do OGE condiciona emissãointernacional de títulosInformações disponíveis dizem que oGoverno decidiu que a sua anunciadaemissão de títulos públicos sobre oestrangeiro aconteça apenas em Julho,depois da revisão do Orçamento Geral doEstado (OGE).A espera deve-se ao facto de que só a revisãodo OGE é que vai determinar quantoo Governo necessita para financiar a economiadepois de Julho, sendo agora escusadasespeculações quanto a esse facto.Depois de, em Novembro, ter sido anunciadauma emissão do equivalente a quatromil milhões de dólares do Estados Unidos(um dólar equivale a 93 kwanzas), o ministroangolano das Finanças declarou, em finsde Abril, que Angola desistia da soma inicialmenteproposta para a emissão.O governante afirmou, então, que o Governopassava a deter intenções mais modestas,chegando a indicar que o valor daemissão haveria de situar-se em cerca dedois mil milhões de dólares.Naquela altura, o Governo tinha solicitadoa três empresas internacionais de «rating»,a obtenção de uma classificação do«risco Angola», debatendo-se, entretanto,com a expectativa de que a classificação aobter não fosse favorecer a confiança dos investidoresestrangeiros.Na <strong>sem</strong>ana que terminou a 22, trêscompanhias internacional de «rating», aMoody’s, Fitch e Standard & Poor’s, anunciarama atribuição de um «rating» B+, como qual as autoridades parecem ter-se sentidoinclinadas a avançar com a emissão de títulossobre a estrangeiro.Em princípio, a emissão destinava-se acobrir os efeitos da redução do preço do petróleo,a principal exportação angolana,noOGE vigente cotado em 55 dólares por barril,mas uma recuperação do preço do crudepode também explicar o comedimentoanunciado em relação aos resultados dessaemissão e, até, o facto do Governo já não terpressa e ter desacelerado o seu processo.Números na Quinta-feira, 27, avançadospela Reuters indicam que o governo pretendeaumentar os gastos em 19 por centoface ao OGE inicial, cifrando-os, agora, em3.090.000 milhões de kwanzas (uns 36 biliõesde dólares). ■


30 Sábado, 29 de Maio de 2010.economiaHeresia de mapundeiros queveneraram a terraA história de um projecto verde, o Club Fun Resort, Travel & Spa Pululukua, que levará cidadãos do mundo, e com eles a vida, paraum recanto esquecido da terra, com base nos conceitos de um turismo responsável e amigo do ambienteSousa NetoComo o Criador na Génese,eles estão em vésperasde levar vida a umpedaço de terra virgemao qual poder-se-ia chamar umpedaço de paraíso, uma ousadia<strong>sem</strong>elhante à dos hereges que desdeo princípio dos tempos tentaramcomparar-se a Deus-pai-todo-poderoso,com a diferença deque estes não serão imolados naschamas de uma fogueira.Antes pelo contrário, com aaproximação da abertura do Pululukua,já no fim deste ano, naMapunda, arredores da cidadedo Lubango, os dois empresáriosque lideram a implantaçãodeste projecto assente nos maismodernos e sofisticados conceitosde turismo «arriscam-se»a saltar para as luzes da ribaltasob aplausos e o reconhecimentoda critica internacional. O maiscerto é que, em resultado, sob osseus pés venham a correr rios detinta, e também de dinheiro.Pululukua é uma palavra doNyaneka Humbe que significa«senta-te e descansa». A ideia dasua edificação nasceu de uma conversaentre dois empresários sonhadores,Jaime Freitas, dono dasOrganizações Cosal, que em Angolarepresentam a muitas vezescampeã de vendas de máquinase automóveis Hiunday, e CarlosTraguedo, na altura em que se decidirampor esse empreendimento,representante de uma não menosbem sucedida companhia deconstrução civil.Eles são dois «workaólicos»inveterados que construíram assuas vidas a sondar oportunidadese a empreender sobre elas,mas que também aprenderama «descarregar o stress». CarlosTraguedo disse que nunca seperdoaram <strong>sem</strong>pre que o tiveramque fazer fora das fronteirasda Angola que eles conhecem deforma profunda e que sabem perfeitamenteque reúne o potencialpara oferecer um ecoturismo denível superior e único.Uma conversa em que JaimeFreitas confessou a sua inclinaçãopara investir em «algo diferente»e em que insistiu com CarlosTraguedo, durante muito tempoafastado entre Luanda e Lisboa, aregressar às suas origens huilanas- «volta lá p´ra terra» - determinouo que agora se adivinha que possavir a ser uma coqueluche do ecoturismomundial.O Club Fun Travel Resort &Spa Pululukua é, na verdade, umaestância turística de grande selecçãolúdica, para entretenimentoe repouso dos seus hóspedes, umespaço amigo da natureza e depreservação do ecossistema local.Quando abrir as portas, tornar-se-ánum lugar estanque, literalmenteseparado do mundoexterior, o que até já pode ser consideradocomo tal: desde que hádois anos e meio a construção doPululukua foi iniciada, os únicosestranhos ao projecto que pisaramo seu interior foram o jornalistado SA que subscreve esta matériae representantes da uma revistaespecializada portuguesa, na sexta-feira,21.Trata-se de uma preocupaçãoque vai estar presente em todosos procedimentos e atitudes desteprojecto, com o fim único de protegerda agressão do mundo civilizadoo ecossistema que se está aformar naquele recanto.O Pululukua está implantadonuma área de 80 hectares e foiconcebido para que tudo no seuinterior se passe ao redor de umanave principal (foto), a única edificaçãodo local em que se podemter reminiscências, ténues recordações,da selva de betão em quese transformou o mundo exterior,muito particularmente o mundofrequentado pelo público alvo desteresort: a classe média-alta e altadas grandes metrópoles.Um sólido edifício construídoem pedra de uma rocha graníticaúnica e apenas formada naquelaregião do mundo, sobreposta comaderentes especiais depois de partida,cortada e lapidada, forma paredesaltas e vastas que conferem àconstrução a imponência de umafortaleza, mas também conduzema uma firme noção de espaço.Carlos Traguedo declarou aeste jornal ser tal a sua preocupaçãocom materiais amigos do ambiente,que se tornou numa pessoa«adversa ao cimento», um produtoque não se vê, em momento algum,naquele resort.EDIFÍCIO PRINCIPAL do pululukua: Pedra, madeira tratada e aversão a cimentoALDEIA MUHOLO, uma das três que compõem o resortExplicou ao SA que na edificaçãodo Pululukua foram amplamenteutilizados materiais locais,com base em ideias que ele próprioconcebeu e mandou executargraças ao longo período de observaçãoem que se constituíram assuas frequentes viagens aos maioresícones mundiais do ecoturismo,muitos deles localizados empaíses da região austral do continentecomo a Namíbia ou a Áfricado Sul, no que foi ajudado por umexperiente arquitecto português.A nave principal aloja a recepçãodo resort, onde os visitantes seregistarão para ali se hospedaremou serem admitidos no interior daestância. Lá ficarão também instaladosrestaurantes e bares de umaoferta muito diversificada. Ficarãotambém instalados serviços deapoio.A cobertura da nave principal,tendo os traços da pureza que lheconfere um colmo especial tratadona África do Sul, não deixa,também, de ser imponente, tal éo volume desse material aplicadoem grossas camadas até formar


Sábado, 29 de Maio de 2010. 31economiauma massa compacta e impenetrávelsobre o edifício.O piso aqui aplicado é de umamadeira especial e tratada na Áfricado Sul, tal como a cobertura,um material amigo do ambiente euma característica que se espalhapor todo o empreendimento.Ao redor da nave principal, aSul, Sudeste e Sudoeste, ficamlocalizados três aldeamentos debungalôs que imitam as sanzalastradicionais do povo Nyaneka,de facto, o espaço de habitaçõesali disponíveis para alojaros hóspedes.Os materiais utilizados paraas edificar voltam a ser os mesmo<strong>sem</strong> que a preocupação como ambiente envolvente se apresentarelevante: colmo na cobertura,uma argamassa de argilatratada para ser fina e resistenteao formar as paredes e madeiraespecial no piso.Duas dessas sanzalas, a aldeiaZulu e a Aldeia Muhole, foramassim baptizadas pelas característicasdo terreno em que foramerguidas: na aldeia Zulu, os bungalôsestão incrustados numa formaçãode rochas, com o que lhesALDEIA DE SANTANA, AO estilo madeirensefica inerente uma robustez <strong>sem</strong>elhanteà que está associada aos famososguerreiros africanos.A aldeia Muholo é assim chamadapor ter sido encontradae preservada no local em quefoi erguida, uma árvore dessasincrustada num pedregulho,novamente, um símbolo de resistênciada natureza para aliidentificar um lugar.A terceira é uma aldeia madeirensechamada Aldeia de SantAna, com bungalôs construídosao estilo das casas do arquipélagoportuguês da Madeira, emdois andares.O perímetro do Pululukua écruzado por uma linha de águaque foi aproveitada para criar quatrobarragens e três espelhos deágua, os quais se converterão emnovas atracções do local.Os sítios estão todos ligadosentre si por caminhos suspensosconstruídos sobre estacas sólidas episos espaçosos em madeira tratadae amiga do ambiente.Agora, que se espera que esteempreendimento abra ao fim dospróximos seis meses, os promotoresestão empenhados na limpezado local, onde as construçõesocorreram deixando a naturezapraticamente intacta, mas tambémcom o seu povoamento comanimais, peixes e vegetais.Ao definir o Club Fun and ResortPululukua, Carlos Traguedoidentificou-o como um local«dirigido à pessoa que gosta deÁfrica, que gosta do contacto coma natureza», mas, ao oferecê-lo,disse esperar convencer a turistasde todo o mundo «que nós, angolanos,podemos fazer melhor queos namibianos e todos os outros».Ao que parece, mais do que uminocente empreendimento local,estamos diante de uma máquinade vendas com enormes capacidadesde rivalizar as economias maisestruturadas na nossa região, algoa nunca se atreveram os representantesdo sector angolano da indústria,comércio e serviços.Quando o Governo de Angolavolta a solicitar todos os anosderrogações para não aderir aotratado regional de comércio, eisque vem da Mapunda, um localapenas conhecido por uma arcaicaoferta de morangos raquíticos epelo castiço dos seus habitantes, amaior evidência de que os receiosinstitucionais podem já não corresponderao conjunto do mercadoangolano. ■Turismo socialmente comprometidoOs conceitos aplicados sobre oPululukua são os de um turismode pequena escala, mas intensopela oferta de espaços eserviços disponível, ao mesmo tempo quepraticado por pessoas esclarecidas e conscientesdas questões relacionadas com aecologia e menos agressiva em relação àcultura e ao meio ambiente locais.Já a rebentar pelas costuras, aqueleespaço de 80 hectares pode receber algocomo apenas 50 famílias de um únicavez, mas a oferta de serviços lúdicos é tal,que muitos visitantes podem não se cruzarmais do que um par de vezes ao longode uma estadia de uma <strong>sem</strong>ana.Segundo Carlos Traguedo, a estratégiado Pululukua é a de combinar, numaperspectiva comercial, a afeição pela florae pela fauna natural, com o que, apesar dese terem preservado espécies vegetais encontradas,o local está a ser povoado porespécies típicas da região.Contam-se ali espécies vegetais comoarvores de mirangolo, a mivanje, a mulemba,o mucuio e o muhole, para apenasfalar de algumas, todas elas a necessitaremdos cuidados da política ambientaldo Governo para escaparem a extinção.O local voltou a ser povoado por espéciesque em tempos idos o tiveram comohabitat natural, aves e animais como capotas,perdizes e coelhos, mas os promotoresdo Pululukua decidiram incrementaro povoamento com animais trazidos epor trazer de outras regiões.O Pululukua, um perímetro bem servidoem recursos hídrico, aos quais se deuum aproveitamento apropriado ao laser,tem as suas represas e espelhos de águaa serem povoadas por espécies locais depeixe como a kimaia, o bagre e outros,para uma pesca educativa em que ser-se-áinstruído a retirar o anzol aos peixes <strong>sem</strong>os ferir, devolvendo-os à água.Na verdade, esta mentalidade já começoua fazer escola entre os habitantesda área em que o Pululukwa está instalado.Carlos Traguedo conta que quandolá chegou, o instinto das pessoas era o decair à pedrada sobre os animais que lhessurgis<strong>sem</strong> em frente, infligindo-lhes ferimentosou mesmo matando-os.Os habitantes da área passaram, entretanto,a sentir-se também eles donosdo empreendimento, depois de terem 80deles terem sido contratados para trabalharemna edificação do projecto, com aUM ESPELHO DE ÀGUA e um trecho das centenas de metros de caminhos suspesosexpectativa de o triplo disso poder vir aservir quando a estância estiver aberta.Os contratos iniciais foram aliciantes,incluindo a reparação e melhoramentodas habitações de todos eles, o que não éapenas benéfico para esses trabalhadores:para o Pululukua constitui também umagarantia de que a estância não será umailha de prosperidade, rodeada de pobreza.A verdade é que hoje, os habitanteslocais ganharam tanto em educação ambientale estão a enraizar de tal forma acultura de preservação do meio ambiente,que já são capazes de se chegarem a umanimal, mesmo que não seja de estimação,e ao invés de lhe desferirem pedradasou pontapés, fazerem-lhe festas.As questões do fornecimento de águae energia eléctrica também estão programadaspara respeitar o ambiente: a águaserá fundamentalmente fornecida porgravidade, já que o relevo da área constitui-senuma inclinação de 40 metros.A electricidade utilizada para o aquecimentode água e para os termo-reguladores,muito úteis naquela região que à noitechega a registar temperaturas negativas,será gerada por energia solar.O turismo promovido no Pululukua,concluiu Carlos Traguedo, minimiza seupróprio impacto ambiental, patrocina aconservação do ambiente e projectos quepromovam a equidade e a redução da pobrezaem comunidades locais, tal comoaumenta o conhecimento cultural e ambientale o entendimento intercultural. ■SN


32 Sábado, 29 de Maio de 2010.Crónican o 86As asas azaradas da gente!Que se encontrem bem a curtir as eleições que eu agora já votei e que nunca mais ninguém me venha observar que eu também nãoando a observar os outros e como até os bancos grandes caem as primas nunca se devem andar nem em cima nem em baixo de prédiosmuito grandes porque quando caem em cima de nós nem aparece mais a nossa fotografiaEu até podia ter arranjado um atestadomédico para não vos escreverprimas só que estou na brincadeiraporque o compadre do tioestava lhe perguntar se com um atestado demédico podia passar à frente na fila para fazerprova de vida nessa coisa de reforma e otio a ralhar que atestado médico de mentiraera um acto contra-revolucionário e entãoo compadre numa risada que só pode haveracto contra-revolucionário se houverrevolução e que essa já era e por isso é quetem pessoas que se revoltam por causa daausência de revolução e arranjam atestadomédico primas e apareceu aquele meu amigocafunfeiro com duas garrafas de vinhotinto e um queijo daí daqueles molinhos eele abriu-lhe um chapéu em cima para se tirarà colher com pão escuro e então de atestadosfalou que atestados é como os currículosque as pessoas fazem para arranjaremprego mas sugeriu para mudarmos deconversa e só um momento e foi ao carrotinha-se esquecido de um embrulhão compresunto e outro com azeitonas primas queele acabava de regressar daí e de ouvir falarnas mudanças nas linhas aéreas da Agnelaai as primas não sabem quando na Europaque é perto daí eu não sei geografia masoiço ver na televisão Tuga que a Europamandou fazer isto e aquilo acho que é a capitalnão é mas estava-me a perder que omeu na Agnela as primas lembram-se quequando os da Europa deram um bafo paraos aviões das nossas linhas da Agnela nãopuderem aterrar lá aí a nossa Agnela contrabafouque Angola ia reciprocar não sei seé assim o verbo mas quer dizer que tambémos aviões dos da crise não iam entrar aquiprimas o tio nesse dia bateu palmas e falouque mulheres assim com ovários desse tamanhoé que devia haver muitas por aquimas os chefes dela fizeram marcha atrás eos da crise continuaram a voltar para aqui enós nicles na reciprocidade e foi muito tempoaté os que mandaram essa ordem apareceramaqui a inspeccionar se já estava tudobem aparafusado primas porque era verdadeque tinha aviões a voar até <strong>sem</strong> parafusosque apareceram no Roque a cem dólarescada um primas e o meu amigo foi experimentara mudança que entrou no avião eestava tudo lavado nem uma barata primasaté que enfim falou para uma hospedeiramuito sorridente apertou o cinto sentadona cadeira da frente executiva para esticaras pernas quando lhe apetecesse e <strong>sem</strong>mais nenhuma cadeira à sua frente primase a televisão ali defronte dos olhos só compalavras a branco e preto o avião arrancoue já o meu amigo a ouvir aqueles barulhosda cozinha panelas pratos e copos primasno braço esquerdo da cadeira o boneco deuma pessoa sentada e muitos pontinhosele carregava e a cadeira enchia a barrigaempurrando as costas do meu amigo quecarregava noutro e a cadeira metia a barrigapara dentro e as costas do meu amigo searrecuavam e outro começava a deixar-lhecair a cabeça para trás e a levantar os pésparecia cadeira de dentista sim senhor assimé que é desenvolvimento falava o meuamigo agora já sei como subiram nos preçosfaço ideia na primeira primas e lá nosaltos a televisão <strong>sem</strong> mudar e as palavrasque o meu amigo tirou um papel do bolsoPOR FAVOR AGUARDE ENQUANTO OSISTEMA ESTÁ A CARREGAR e ainda SEESTA MENSAGEM PERMANECER PORMUITO TEMPO FAVOR CONTACTARA TRIPULAÇÃO DE CABINE primas e otempo a passar ouviu-se um barulho queum passageiro tinha-lhe caído a cadeira eainda estava a reclamar e cai a outra o meuamigo conhecia um chefe de cabine antigoque era assim o pessoal que gosta das linhasbem se esforçava mas depois passavam poraquela vergonha agora com dez administradoresque a malta tinha começado bemna tolerância zero mas depois era o que sevia então veio a janta depois do espumantefrango passado por ovo com macarrão primaspintado com aquele molho de tomatedoce e feijão verde de lata primas o meuamigo disse que era comida muito pior doque os cabrités daqueles com pelo bedume tudo primas por isso as baratas não aparecerempor nem elas tanchariam aqueladescomida ele fazia ideia que se calhar naeconómica o macarrão estaria melhor e euacho que sim fazendo um refogado de alhoe cebola o frango já cortado aos bocadinhose temperado depois tomate rodelas dechouriço e carne de porco salgada já cozidaprimas e com grão de bico fica uma comidaque se apresenta e aquele jantar do frango<strong>sem</strong> antes uns aperitivos de castanha decaju nem nada era aí no maltratar o clienteque estava a tolerância zero e o tio estigouvejam lá se eles para pouparem combustíveldesligam os motores nas descidas todos nosrimos e o compadre contra estigou você éque não desligue o motor na subida primase afinal não é que compraram mais quatroaviões dos mais modernos e que levam buéde passageiros o meu amigo disse que no taljantar o que se safou foi mesmo o vinho tintoe uma miniaturas de uísque velho o restonem com muita fome e ele queria dormire as letras <strong>sem</strong>pre na mesma pensou que osistema devia estar a carregar bué de coisase era melhor do que em terra quando estavam<strong>sem</strong> sistema ainda pensou em taparos olhos com aquela máscara que oferecemmas não aguentava isso dava-lhe falta de armexeu nos botões todos para a televisão esó aí reparou que não tinham distribuídoauscultadores primas que agora falam auricularesera demais parecia nas torturas deGuantanamo as primas sabem isso melhordo que eu então tudo às escuras e aquiloali defronte perguntou ao amigo assistentede bordo como é que era ele respondeuque estava cheio de vergonha pois do que setratava era de uma avaria e a culpa era dosde terra no toca a andar mas que raio deexecutiva é esta chiça vocês nem merecema Agnela que eu conheço e ainda me lembrodela toda elegante de chapéu carambae ainda o meu amigo nem me trouxe nemum perfume nem uma água colonial ai primasse enganei na colónia é isso e de antesporque nas linhas da malta não vendemnada primas aí falei que o pessoal de bordopodia muito bem zungar ir nas compras nobarato lá fora e vender dentro do avião e otio lembrou que no tempo da revolução elechegou a entrar num avião com um zaicóartilhado com uma térmica a vender gasosacerveja e xandúlas com óleo de lata dechouriço e outro com uma aparelhagemgrande em cima das pernas e a puxar umasungura em alto e bom som primas vejamsó que isto já não é do nosso tempo mas apáginas tantas o meu amigo viu a senhorana frente das cadeiras do meio a falar sozinhazangada porque continuava escrito queo sistema estava a carregar e se a mensagemdemorasse muito tempo para contactar atripulação de cabine primas já voavam hámais de quatro horas estava aceso para nãodesapertarem cintos por causa dos solavancosnaquele céu mas a dona levantou-se iapara procurar uma hospedeira e chocoucom ela no cortinado por favor quero dormirmas assim com isso em cima dos meusolhos diga-me só como posso descarregare a hospedeira apontou-lhe a casa de banhoe a senhora empurrou a porta entroue fechou-se primas vejam só até que o meuamigo quando de<strong>sem</strong>barcou cinco horasda manhã o guichet dos palop estava maisuma vez fechado e só tinha dois fronteiras aatender e a abrir a boca de sono que foi umsalo de uma hora para passar a fronteira eas primas cuidem-se quando vierem e recebamum sistema todo carregado de beijosdesta vossa ■25/5/2010


Sábado, 29 de Maio de 2010. 33CrónicaTia Fefa está a aprender Inglês (II)Há palavras e gestoscujo efeito pode levaras pessoas visadas areagirem de uma formainesperada. Quando imaginouum diamante a remexer porcima de um barril de petróleo,depois de fugir ao diálogo dizendo«Não tenho tempo a perderconsigo!», Joanna atirou umolhar de arrependimento para océu; e, teve uma ideia brilhante,que a fez mudar radicalmente deatitude.Desde a infância, fora educadaa vencer hostilidades, dominaro mundo e competir com outrosconcorrentes, em pé de igualdade,para merecer um lugar. Viajandocomo especialista em questõessociais, obedecia a estratégias geopolíticas.O seu olhar ficou porisso em chamas quando se«Vi nos teus gestos muitas dasatitudes que eu própria tomeidesde a infância, em momentosde aflição, vencendo barreiras nopercurso da minha vida». Fez estejuramento quando o gelo já estavaquebrado.A tia Fefa também não queriaque a amiga morresse em desculpase mostrando que era boa alunae excelente companheira, respondeunum inglês afinado pelomais perfeito violino de Atlanta:«Oh, darling ki é yshtu?! Eudigo o mesmo de ti…». Joannaestava orgulhosa com as palavrasque ouvia. Era religiosa, sim, masnão acreditava em milagres. Seestava a haver algum milagre eraa eficácia do seu método inovador,ao qual chamava mínimo de«30 by 30», ou seja, trinta minutosde estudo, o máximo de veze<strong>sem</strong> trinta dias consecutivos commuita atitude, disciplina e rigor.Era esta a Chave do Milagre datia Fefa cuja ansiedade em andarpor Nova Iorque <strong>sem</strong> dependerde ninguém, fê-la assimilar, emtempo recorde, tudo o que tinhade aprender! Mostrando-se emocionadacom o sucesso, Joannacolocava agora a amiga entre asmelhores maravilhas do mundo.Brevemente, teria de lhe entregarum valioso prémio.Estavam agora juntas numadiscoteca, na baixa da cidade, edançavam sob o calor da madrugada.Joanna nem se apercebeucomo a sua desconfiança tipicamenteamericana se tinha esfumadoem tão poucas <strong>sem</strong>anas.«Ladjum! Ladjum, ladjum jáestá cheio!Ladjum já está cheio… estepaís num tá dar...Num entra mais ninguém nonosso seio…Ladjum, ladjum!»,Dançava agora ao sabor de sátiraspopulares. O ambiente eraensurdecedor e estava totalmenteexcitada com a magia coreográficado dançar africano. Era a Áfricados seus manuais de estudomas também dos seus antepassados,há largos séculos amarrado<strong>sem</strong> caravanas pelas mãos e pelospés. Só os mais fortes tinham sobrevividoe ela aqui estava, recordandoo que sabia sobre o impactoda negra escravatura.A última <strong>sem</strong>ana antes da viagempara Nova Iorque foi desoladora.Joanna sentiu que ia perdera preciosa companhia, mas a tiaFefa nada podia fazer para adiara viagem. O casamento do sobrinhoestava marcado e, como veioa saber, os convidados iam de várioscantos do mundo.Organizou uma festa de arrombapara a despedida, e caprichounos detalhes dos convites:rolos do mais fino papel recicladocobertos por pedaços de bambusobre os quais vinha gravado onome do casal, a rua e o númeroda residência: «Jorge e Fefa convidam-lhepara uma noite informal,no dia…»Com 89 anos e muita energiapara vender, a avó Mariana, mãedo tio Jójo, era uma das presençasmais notadas na festa de despedida.A senhora era uma bibliotecaviva e não passou despercebidaao olhar clínico e atento deJoanna que tudo queria registarnaqueles instantes. Depois dasapresentações - «mãe esta é a Joannade que tanto te falei; Joannaesta é a minha querida sogra»- desfizeram-se as formalidades.Nada mais era «weird», esquisito,para Joanna, ou para imitarmelhor, «shkizeetoo», como tambémlhe ensinava agora a tia Fefanuma intimidade que deixou deser despropositada.«A avó não tem mais nenhumfilho, além do Jorge?», perguntou.«Tenho o Júlio que é aindamais bonitão, mas está casado ebem casado, minha filha…».«Oh, que pena! E eu que queriatanto ter um marido angolanoe ser tua nora», confessou Joanna,naturalmente que buscandoo melhor ambiente para as suaspesquisas no país das mil oportunidades.Cogitava. Se há maisde um mês tinha usado palavrasrepressivas contra a anfitriã nãofoi porque não gostasse dela, massimplesmente porque não a conheciatão perfeitamente comoagora.Foi quando a tia Fefa bateupalmas, a música parou e se fezsilêncio. Em sua própria casa, Tijójópedia autorização a 49 convidadospara fazer um breve discursode despedida… ■


34 Sábado, 29 de Maio de 2010.SociedadeA propósito de uma alegada má gestão na Imprensa NacionalO outro lado da questãoRui AlbinoDepois da substituiçãode José Gomes, na direcçãoda ImprensaNacional, por alegadamá gestão e defraudação dosfundos da empresa, e quando seesperava que as denúncias na comunicaçãosocial que acabarampor dar origem à mudança fos<strong>sem</strong>parar, elas continuaram.Assunção Barros, o novo presidentedo Conselho de Administraçãodesta empresa pública,foi acusado em várias ocasiões deser igual ou pior que o seu antecessor,quando se esperava que ascoisas mudas<strong>sem</strong> para melhor.As queixas giravam à volta dossalários, tidos como baixos poralguns, na falta de assistênciamédica e medicamentosa, promoçõesduvidosas, dificuldadesna transportação dos trabalhadoresde e para o serviço, etc.,etc..Diante disso e porque tambémfizera coros dessas lamúrias,o Semanário <strong>Angolense</strong>resolveu pôr-se em campo paratentar compreender o que efectivamentese está a passar por lá.Constatou-se então que partedas denúncias só faria sentidona «era» de José Gomes, emque, por exemplo, pessoas com amesma função auferiam saláriosdiferentes. Ainda não tinha sequer«aquecido» o posto e já AssunçãoBarros levava por tabela,ao que soubemos, por alegadamá fé de um grupo restrito detrabalhadores, empenhado emdenegrir a nova direcção da empresa,provavelmente a carácterde só contrariar por contrariar.Segundo fontes deste jornal,este grupo de trabalhadores estápreocupado com o processo dereorganização implementadopela nova direcção da empresaque, em apenas seis meses, teráfeito mais que a equipa de JoséGomes em 15 anos.Ao contrário do que se dizia,logo que assumiu o leme, AssunçãoBarros começou por ajustaros salários com base no qualificadorde função, ordenando a revisãoda tabela salarial, melhorouas condições de trabalho, tendoainda empreendido esforços narecuperação de todo o equipamentoda empresa, além de tertraçado um plano trienal de desenvolvimento.Dizem as nossas fontes que onovo PCA da Imprensa Nacionalmanteve e promoveu os quadrosque já encontrou, <strong>sem</strong> deixar derecrutar especialistas no mercadonacional, no sentido de montaruma equipa de trabalho forte.Neste âmbito, todos técnicos médiosde 3.ª classe foram promovidospara técnicos médios de2.ª classe e, com isto, os saláriosmelhorados. Ou seja, foi feitoum nivelamento dos salários. E éneste ponto que os trabalhadoresqueixosos faltam com a verdade.Por outro lado, soubemos aindaque as condições de trabalhoforam melhoradas, apesar de nãoter sido feito, nesta primeira fase,a um nível que conseguisse já satisfazera todos.Hoje, a Imprensa Nacional actuacomo facilitador junto dosbancos para que os trabalhadoresque o queiram possam usufruirde créditos a descontar no saláriode cada um.É particularmente relevanteo facto inédito de todos os chefesde sector, de áreas e algunstécnicos superiores terem sido«contemplados» com meios delocomoção (viaturas) ajustado àfunção e categoria de cada um.No passado, lembram as nossasfontes, haviam muitas viaturasno parque, mas só José Gomes,um outro administradorese o director financeiro é que tinhamacesso a elas, o resto andavaa pé.Há também progressos nodomínio das novas tecnologias,sendo exemplo disso a introduçãode equipamentos para usopessoal (computadores) dos chefesde área, coisa que não aconteciaaté há seis meses atrás.Num sentido mais alargado,houve também a preocupação dese modernizar o sector fabril daempresa, já com resultados prático<strong>sem</strong> relação à feitura do Diárioda República, que já não registaos atrasos de meses que se verificavamantes.O novo PCA da Imprensa Nacional,que é formado em Economia,não quis conceder umaentrevista ao Semanário <strong>Angolense</strong>,prometendo fazê-lo empróxima ocasião. Mas, numabreve abordagem, disse que as lamúriasou sinais de insegurançapor parte de trabalhadores maiscépticos podem ser derivados daactual fase transitória de umacultura empresarial para outratotalmente diferente, que visapotenciar o homem e responderaos desígnios do Estado com profissionalismoe maior empenho.«Isto só pode ser alcançadocom a união dos trabalhadorese criação de um novo espírito defamília entre todos aqueles que seidentificam com a causa da ImprensaNacional», rematou. ■


Sábado, 29 de Maio de 2010. 35SociedadeMiqueias Moche, chefe da Impressão e EncadernaçãoApontamento«A situação melhorou»Depois de muitos «bailes»,por não estar autorizadoa falar à imprensa,Miqueias JunqueiraMoche, funcionário da empresahá sete anos, na qual ocupa a funçãode chefe de Impressão e Encadernação,disse que por aquilo quese viveu com a antiga direcção, aactual, em seis meses, mostrouque muito em breve o futuro seráseguramente melhor.Miqueias Moche esclareceu quechegou à Imprensa Nacional emFevereiro de 2003, após ter concorridonuma selecção altamenterigorosa em que se saiu bem, tendoido parar à área de impressão.Em 2008, ainda na era José Gomes,foi promovido para chefe dosector de impressão e encadernação,algo que diz ter conseguidopor mérito próprio. Após a promoçãonão viu o seu salário reajustadoem função do posto quepassou a ocupar, mas nunca baixouos braços.«É importante que se diga averdade, e eu sou uma das pessoasque não vejo comparação possívelentre a antiga e a nova direcção.Vejamos: na antiga direcção haviamuita desigualdade na tabelasalarial, os chefes de sectores ede áreas não tinham privilégios,nem regalias de acordo com a função;os diários eram publicadoscom atraso de seis meses e haviamuita reclamação dos clientes.Actualmente, a tabela salarial foinivelada, cada um tem um saláriode acordo com a sua função,já não existem técnicos médiosprincipais com salários diferentes,nem chefes de sectores. O cartãodo Jumbo que era restrito a umgrupo, hoje todos nós temos <strong>sem</strong>qualquer excepção», referiu.«Em resumo, posso dizer que anova direcção, depois de ter assumidoas suas funções, criou condiçõesde trabalho, equipou todasas áreas, melhorou os salários dostrabalhadores, eliminou as desigualdadesque existiam na tabelasalarial, o que para mim é o maisimportante», adiantou.No que se refere a alegada falênciatécnica, Miqueias Mocheassegurou que não existe esse problema,apesar de ter admitido que,numa empresa como a ImprensaNacional, é normal que haja umafalha aqui ou acolá. «Neste momentotenho todos os equipamentosa funcionar, com excepção deum que requer manutenção. Temhavido, de facto, ruptura de stocks,porque o desalfandegamentode mercadorias no país ainda temas dificuldades que conhecemos,mas isso só se verifica porque hámuita produção de matéria legislativaresultante da nova Constituição»,assegurou.■Esperara hora certaApropósito do assunto que hoje trazemos à liça, deu pararecordar o episódio ocorrido com um dos mais brilhantescérebros da Inglaterra, Winston Churchill: quandoainda jovem, e após haver pronunciado o seu primeirodiscurso na Câmara dos Comuns, um velho colocou-lhe as mãossobre os ombros e murmurou: «Meu jovem, você cometeu um graveerro: fostes demasiado brilhante neste seu primeiro discurso. Istoé imperdoável! Devias ter evitado mostrar toda esta sapiência. Seriapreferível gaguejar um pouco e ficar um pouco mais à sombra.Com o que acabastes de demonstrar, terás conquistado, seguramente,umas dezenas de inimigos. O talento assusta, rematou o velhosábio».De facto, em algumas áreas, a competência ainda é combatida ea mediocridade continua a reinar, <strong>sem</strong> que alguém ponha travão aesta «pandemia» que grassa o país.Não sendo, porém, tão fácil desalojar os medíocres que se enraízamou se enraizaram em lugares chaves – eles geralmente sabemdefender as suas posições com destreza, formando muralhasintransponíveis para os mais capazes e talentosos -, os inábeis sãogeralmente fortes em ocupar os vazios que gente competente e demaior experiência não os ocupa. E não os ocupa, se calhar, por faltade «prática» nestas andanças por corredores de compra de simpatiase tachos. Em geral, os capazes descansam confiantes de que osconhecimentos e sabedoria que possuem são suficientes para a promoção.É este espaço vazio que os medíocres geralmente assaltam elá ficam anos a fio, agarrados à custa de subornos e bajulações, tudofazendo para «queimarem» depois os mais competentes.O caso da Imprensa Nacional poderá ser um paradigma a referenciar.Ficou claro, que em anos seguidos, um gestor não foi capazde realizar o que outro realizou em escassos meses do mandato.As mudanças que agora ocorrem poderão trazer ao de cima outrospontos fracos da antiga gestão de José Gomes. Será que haverá genteapostada em criar um clima de insatisfação no seio dos trabalhadorespara impedir a progressão das medidas que a nova direcçãopretende levar a cabo?A ver vamos nos próximos tempos. Não nos devemos deixar levarpor denúncias que focalizem apenas aspectos do balanço social,como factor de ponderação único para a avaliação que se pretende.O que preocupa é saber da diferença entre os resultados económicosde desenvolvimento da própria instituição no seu todo, e não apenaspela diferença de viaturas ou salários, que, como se conhece naciência da gestão, em pouco ou nada concorrerão para o estímulo àprodução e para o aumento da produtividade, se não forem promovidasacções de formação séria, de introdução de tecnologias maisavançadas de organização de um sector de logística eficiente.Enfim, não se deve aceitar que os mais lúcidos continuem a serrepudiados pelos medíocres, nem que sejam pervertidas as regrasda promoção e despromoção, transformando-se a inteligência e otalento dos cidadãos numa espécie de desvantagem perante o país.Clarifiquemos as situações, para que, também noutras paragens,trabalhadores descontentes ou sindicalistas aliciados nãoactuem impunes, como verdadeiros predadores da inteligênciaalheia, a coberto de falsas acusações e calúnias infundadas. Épreciso não pactuar com o preço baixo e traiçoeiro da falsidadepara a reconquista fraudulenta de benesses perdidas, em detrimentoda mudança para melhor. Por isso, colocamos hoje umponto final ao caso, para darmos tempo ao tempo, e permitir-nosentão uma futura avaliação mais justa, na hora certa. Temos dito.■Rui Albino


36 Sábado, 29 de Maio de 2010.SociedadeAlunos de Direito da «Gregório Semedo» seriamente preocupadosSem Latim, nem MétodoBaldino MirandaOs estudantes de Direitoda Universidade GregórioSemedo estãopreocupados com ofacto do currículo do curso nãoconter cadeiras essenciais comoas de Latim e Metodologia de InvestigaçãoCientífica, tidas comoferramentas indispensáveis paraum seu bom de<strong>sem</strong>penho no futurocomo técnicos, soube o Semanário<strong>Angolense</strong>.As nossas fontes dizem queestas cadeiras não constam emnenhum dos cinco anos do cursode Direito, ao contrário do queacontece em outras instituiçõesuniversitárias, nas quais figuramlogo nos dois primeiros anos.Os estudantes estão preocupadosporque consideram que afalta destas duas cadeiras terá repercussõesnegativas na sua formação,que pretendem integral.Para piorar, da reitoria da universidadenão vem qualquer sinalno sentido de se suprir esta clamorosafalha, que terá a mesma«idade» da própria instituição.«Em outras universidades,estão implementadas estas cadeiras,uma vez que elas são importantespara os futuros juristase advogados», disse um dos estudantes.A cadeira de Metodologia deInvestigação Científica, que pornorma é ministrada no ano propedêuticoou nos primeiro e segundoanos do ensino superior,tem grande finalidade na vidados estudantes, uma vez que elaprocura dotar neles as ferramentasda investigação em termosgerais, sendo um elemento fundamentalpara o seu de<strong>sem</strong>penhono futuro enquanto académicosou especialistas neste ou naqueledomínio do saber.«É que a cadeira de Metodologiade Investigação Científica, emespecial, visa criar um espírito deinvestigador nos alunos, ensinarnoscomo se elabora um projectocientífico ou uma obra científica,bem como os passos a dar na alturada dissertação», disse umoutro estudante com quem falámos.Segundo ele, há universidadesque não esperam por ordenspara leccionarem um cadeira tãoimportante. «No caso da ‘GregórioSemedo’, parece que só umaordem da Secretaria de Estadodo Ensino Superior a obrigará atal. Mas, que tem de criar, tem decriar, para que o nosso futuro nãofique hipotecado», sublinhou.O Latim é também consideradouma cadeira fundamental emalgumas universidades do país,sobretudo nos cursos de Direito.A Universidade Católica de Angola,a Universidade Independentede Angola e a UniversidadeMetodista não abrem mão dela.E é da Universidade Católicade Angola que nos chegou umaopinião sobre a importância doLatim na vida dos juristas. SegundoIrineu de Olim, finalistado curso de Direito da UCAN, osestudantes deste curso que nãoestão a dar «Latim jurídico» encontrarãoimensas dificuldadesno seu trabalho futuro.«Existem alguns termos ou expressõe<strong>sem</strong> Latim muito usadasnos meios jurídicos, como ‘nulapena sine lege’ - não há pena <strong>sem</strong>lei, ou ainda ‘ubi societae ibi ius’- não há sociedade <strong>sem</strong> lei’, quetêm de ser conhecidas pelos juristas.E isto aprende-se na cadeirade Latim jurídico», disse Irineude Olim.Disse ainda que o Latim temsido <strong>sem</strong>pre prestigiado pelos juristas:advogados, procuradores ejuízes costumam inserir, nos seusescritos, expressões latinas, como objectivo de mostrar erudição,impressionar o leitor e conferirum certo charme ao documento.A meio desta <strong>sem</strong>ana procuramosouvir a Reitoria da UniversidadeGregório Semedo apropósito do assunto, mas não oconseguimos.■Makulo Valentim, professor de MIC«É um atentado»Para Makulo Valentim,professor de Metodologiade InvestigaçãoCientifica, na UniversidadeIndependente de Angola,todas as universidades a nível dopaís tinham que implementar estacadeira, não importa o curso. Elediz que a universidade que nãolecciona esta cadeira estará mesmoa cometer um atentado contrao futuro dos seus alunos.O especialista disse que o métodocientífico (do grego méhtodos- caminho para chegar a um fim)é um conjunto de regras básicaspara desenvolver uma experiência,a fim de produzir novo conhecimento,partindo daí a importânciada cadeira que lecciona.De acordo com Makulo Valentim,os estudantes universitáriostrazem consigo muitas debilidadesdo ensino médio, sendo quemuitos deles não conseguem fazerinvestigação sobre um determinadotema. Às vezes, sequer conseguemescrever correcta e cientificamente.«Os nossos estudantes têmenormes debilidades. Não têmo espírito de leitura, limitam-sesimplesmente nos subsídios dadospelos professores, o que é totalmenteerrado. E porque a cadeiratem como objectivo incutir nosestudantes métodos ou metodologiasde elaboração de um projectocientífico, espirito de investigaçãoe a cultura de leitura» explicou ■Kalumbondja-Mbondja, professor de LatimPara o professor universitárioKalumbondja-MbondjaTrindade, docente de«Latim Jurídico» na UniversidadeIndependente de Angola,as universidades angolanas, especificamentenos seus cursosde Direito, têm de implementaresta disciplina, atendendo até ànatureza do nosso ordenamentojurídico. É, aliás, um imperativo.«O nosso ordenamento jurídidcoé romanogermânico, oque significa que muitos institutostêm origem em Roma,«É um imperativo»berço da civilização e que tinhapor idioma o Latim. Os brocardosjurídicos, ou seja, as máximaslatinas são imprescindíveispara qualquer jurista, pelo queé importante estudá-los», atestou.Segundo o especialista, acredibilidade dos brocardos jurídicosserve de orientação parao intérprete, no momento decompreender e aplicar a norma.Ele salienta que, com a faltade cadeiras como o Latim jurídico,algumas universidadespodem proporcionar muitasdesvantagens aos seus estudantesno mundo do Direito, principalmentetendo em conta otráfico jurídico que se vive nes<strong>sem</strong>undo globalizado. ■


Sábado, 29 de Maio de 2010. 37Por: MakiadiCriatura estranhaencontrada no CanadáCasaanty-rouboTudo indica que umacriatura estranha encontradaeste mês noCanadá seja um visonamericano (Mustela vison), umcarnívoro de pequeno tamanhoe corpo alongado, que é encontradono Canadá e grande partedos Estados Unidos.De acordo com o site ‹‹LiveScience››, o investigador LorenColeman publicou sobre o assuntoum artigo no site Cryptomundo(especializado em desvendare identificar criaturasbizarras). Em Big Trout Lake(norte da província canadianade Ontário), onde foi descobertoo corpo da estranha criatura,o animal foi descrito comouma criatura de 30 centímetrosde comprimento, com uma cara‹‹quase humana››.As fotografias mostram umcorpo alongado e uma cara pálida.Mas nota-se ausência decoloração dos olhos.Alguns dos indígenas maisvelhos estão convencidos queo animal é um mensageiro demás notícias. Dizem que os seusantepassados o chamavam ‹‹OFeio›› e que, quando aparece,acontece algo mau. ■Ocasal de ingleses Eileen e Jelle Mijlof construiu uma casaque fica a 15 metros do solo, na Cidade do Cabo (Áfricado Sul). A moradia não tem grades, alarmes ou portões,mas é totalmente segura, tal como os proprietários garantem.Eileen e o marido foram assaltados várias vezes antes de mudarempara a nova casa. A ideia de fazer uma casa no alto, em formatode Y, surgiu quando Jelle estava no jardim e observava esquilos epássaros no alto das árvores.Depois de alguns rabiscos, a planta da nova moradia ficou prontae o casal começou a construção. Os alicerces da casa, com seis metros,são bastante sólidos para suportar a base de 15 metros e os doisandares.O dono da casa garantiu ao ‹‹Telegraph›› que o casal possui desde2000 a moradia mais segura da África da Sul. A casa está agora a servendida por mais do equivalente a 1,5 milhão de dólares americanos.■Professor multado por <strong>sem</strong>asturbar na sala de aulaPode ir presa por ter feitosexo com prisioneiraAguarda prisional Barbara Dixon (de 30anos), que trabalha numa cadeia em Cleveland(Ohio, EUA), foi acusada de fazersexo com uma prisioneira de 23 anos,dentro da prisão.A investigação demonstrou que a guarda teverelações sexuais com a prisioneira, pelo menos trêsvezes. Foi afastada dafunção até ao julgamento.De acordo com a estaçãode televisão ‹‹19Action News››, Barbarapode ser condenadaa até 16 anos de prisão,já que é consideradocrime o envolvimentoíntimo entre guardas epresos. ■Oprofessor de músicaDaniel James DuPuis(de 28 anos), que foidetido em Abril, acusadode se ter masturbado dentroda sala de aula, foi condenado aum ano de prisão condicionale terá que pagar 500 dólares demulta (49 mil kwanzas).Segundo o jornal ‹‹GrandRapids Press››, DuPuis acedeutambém demitir-se da função deprofessor. Acusado de exposiçãoindecente, corria o risco de condenaçãoa até dois anos de cadeia.O professor foi detido depoisde um contínuo ter encontradono caixote de lixo da sala, umlenço de papel que cheirava aesperma. Quando ouvido pelapolícia e pelo director da escola,DuPuis admitiu ter-se masturbadona sala de aula, sozinho, emcinco ocasiões. ■Cães surfistas exibem-sena CalifórniaNo passado sábado, 60 cães participaramna prova anual de Loews Coronado, quereúne animais de diversas partes dos EstadosUnidos na Praia Imperial, em SanDiego (Califórnia). A prova atrai milhares de surfistase curiosos.De acordo com o jornal “Daily Mail”, um dos destaquesdeste ano foi Buddy,um terrier que passou10 dos seus 12 anosde vida acompanhandoo dono nas ondas maisradicais da Califórnia.O cão adora surfar. Surfatrês vezes por <strong>sem</strong>anae anda quilómetrospara ficar em formapara competições comoa da Praia Imperial. ■Destrói vestido de noivapara se vingar pelo abandonoUm americano encontrou uma maneiradivertida de se vingar damulher que o abandonou após 12anos de união: mostrar 101 maneirasinusitadas de usar um vestido de noiva.Quando a ex-mulher fez as malas e saiu decasa (em Tucson, no Arizona), Kevin Cotterdeu conta que ela se tinha esquecido do vestidode noiva. Como ela lhe disse depois parafazer dele o que entendessa, Kevin transformouos muitos metros de tecido em tapetepara ginástica, pano de loiça, pano para engraxarsapatos e até protector do chão parapingos de tinta. Está tudo exposto num sitena internet.A vítima da brincadeira afirmou a um canalde televisão que não guarda rancor ao exmaridoe espera que ele seja feliz. ■


38 Sábado, 29 de Maio de 2010.CulturaInaugurado na última quinta-feirawww.buala.org – um novo portalde cultura africana contemporâneaUm novo portal de culturaafricana contemporâneafoi inauguradona últimaquinta-feira, segundo um «pressrealese» dos seus mentores, aoqual o Semanário <strong>Angolense</strong> teveacesso. www.buala.org – é assimque se designa o portal, ainda emfase experimental por um períodode 30 dias, sendo permeável asugestões, correcções e novas colaborações.É um projecto de uma equipamultidisciplinar, que tem trabalhadonas mais diversas áreasartísticas no continente africanoe conta com a colaboração de váriosagentes e actores da culturacontemporânea africana, comapoio da Casa de África (Brasil)e da Fundação Calouste Gulbenkian(Portugal), instituiçõesque tornaram possível a sua concretização.«Buala», que significa casa,aldeia ou a comunidade onde sedá o encontro, é o primeiro portalmultidisciplinar de reflexão,crítica e documentação das culturasafricanas contemporânea<strong>sem</strong> língua portuguesa, com produçãode textos e traduções emfrancês e inglês.A geografia do projecto respondeao desenho da proveniênciadas contribuições, certamentemais nómada que estanque. Alíngua portuguesa, celebrada nadiversidade de Portugal, Brasil eÁfrica, dialoga com o mundo.Este novo portal de culturapretende inscrever a complexidadedo vasto campo cultural africanoem acelerada mutação económica,política, social e cultural.Entendemos a cultura enquantosistemas, comunidades, acontecimento,sensibilidades e fricções.Políticas e práticas culturais, e oque fica entre ambas.Pretende também problematizarquestões ideológicas e históricas,entrelaçando tempos e legados.«No fundo, desejamos criarnovos olhares, despretensiosos edescolonizados, a partir de váriospontos de enunciação da Áfricacontemporânea», lê-se na apresentaçãodo projecto.Desde o dia da sua inauguração,o site concentra e disponibilizamateriais, imagens, projectos,intenções, afectos e memórias. Éuma plataforma construída paraas pessoas. Uma rede de trabalhopara profissionais da cultura e dopensamento: artistas, agentes culturais,investigadores, jornalistas,curiosos, viajantes e autores, todosse podem encontrar e habitarnesta «buala».O portal surge de uma necessidadefundamental de conhecero terreno em profundidade e saberquem são os protagonistas dacultura africana contemporânea,quais as suas acções e qual a suageografia de actuação.«Sentimos que o discurso queé feito sobre a criação contemporâneaafricana é tendencialmenteproduzido no mundo ocidental.Existe a necessidade de descentralizaresta tendência e promovera reflexão crítica, teórica e artísticaa partir de vários criadorese pensadores do continente e dadiáspora», sublinham os mentoresdo projecto.«O facto de estarmos muitopróximos de uma rede de contactosprivilegiados, criadores eestudiosos, africanos ou interessadosna cultura africana, cujotrabalho seria muito interessantedar a conhecer, leva-nos a desenvolverum portal de grande enfoquemultidisciplinar e de grandealcance de participação», acrescentam.O «Buala» constitui-se numaoportunidade para fazer convergirpropostas já desenvolvidas emdiversas áreas e, ao mesmo tempo,desenvolver novas perspectivas,estabelecendo uma ponte entre oscampos académico, artístico, jornalísticoe a sociedade civil.A diáspora cultural no mundoé, <strong>sem</strong> dúvida, a grande temáticadeste projecto, factor que pretendeextravasar um qualquer enfoquegeográfico.Os seus principais objectivossão: 1) Promover a informação,reflexão e questionamentoprovindas dos vários lugares deenunciação da cultura africana;2) Promover uma rede de trabalhode agentes e pensadores dacultura Africana; 3)Promover o desenvolvimentode parcerias com projectos públicose privados com o objectivocomum de difundir a culturaafricana contemporânea; 4) Fixare tornar acessíveis textos e imagens,estudos africanos dispersosalargando o potencial da suaprodução e acessibilidade; 5) Provocarencontros entre as váriasáreas de expressão artística: dasartes plásticas, literatura, música,arquitectura, artes performativas,cinema; 6) Envolver agentestanto culturais como económicosnos vários países no sentido depromover a internacionalizaçãode eventos e obras; 7) Contribuirpara o aprofundamento da cooperaçãocultural e artística internacional;e 8) Estimular o diálogointergeracional entre artistas firmadose emergentes. ■Uma verdadeira equipa de pesoAequipa do «Buala» é constituídapor Marta Lança, Marta Mestre,Francisca Bagulho e GuilhermeCartaxo.Marta Lança é licenciada em EstudosPortugueses e tem pós-graduações em LiteraturaComparada e Edição de Texto pelaUniversidade Nova de Lisboa. Jornalista,tradutora, editora e produtora, têm-se dedicadoà cultura africana desde 2004. Já viveuem Angola, onde leccionou na UniversidadeAgostinho Neto. Trabalha actualmentecomo jornalista e pesquisadora para documentáriossobre o contexto angolano.Marta Mestre é doutoranda em «culturacontemporânea e outsider-art» na UniversidadeNova (Lisboa) e EHESS (Paris). Temtrabalhado regularmente em projectos culturaise de curadoria, dedicando-se ainda àcrítica de arte contemporânea e exposições.Francisca Bagulho é formada em Designde Comunicação pela Universidadede Alcalá (Espanha) e mestre em gestãode empresas e instituições Culturais pelomesmo centro de ensino. Actualmente frequentao Mestrado em Estudos Africanos,ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.Em Angola, trabalhou na produção da PrimeiraTrienal de Luanda, entre os anos de2004 e 2007, e fez a produção executiva doPavilhão Africano na 52ª Bienal de Veneza,com a exposição «Check List-Luanda Pop».Desde 2008 que tem trabalhado como produtorafree-lancer colaborando com artistase instituições de Portugal e Angola.Guilherme Cartaxo é formado em Arquitecturapela Faculdade de Arquitecturada Universidade Técnica de Lisboa em2001, tendo exercido actividade profissionalcomo arquitecto em Lisboa, Díli, Copenhagae Barcelona. Desde 2004 exerceactividade regular na área do design webe novos media, com destaque para o sítiooficial do Turismo de Timor-Leste na Internet,o CD-ROM multimédia «escubra aMais Jovem Nação do Mundo» distinguidocom o Gold Award da Associação de Turismoda Ásia e Pacífico. ■


Sábado, 29 de Maio de 2010. 39CulturaAna Mafalda Leite, professora de Literatura da Universidade Nova LisboaEstá na forja um corpus críticopara a literatura angolanaCláudio FortunaAmoçambicanaAnaMafalda Leite, professorade literaturaafricana na Universidadede Lisboa em Portugal, é aconvidada de hoje do Semanário<strong>Angolense</strong> para o ciclo de abordagensque tem vindo a fazersobre a literatura angolana. Tivemoso seu ponto de vista sobreas dificuldades e possíveis saídaspara a produção literária angolana.Como <strong>sem</strong>pre a conversa tevecomo pano de fundo o centenáriode Óscar Ribas, pelo que a vida ea obra deste vulto da literaturaangolana foram também chamadosà liça neste pequeno frente-afrentecom Ana Mafalda Leite.Semanário <strong>Angolense</strong> (SA) –Que opinião tem do estado actualda literatura angolana?Ana Mafalda Leite (AML) – Eujulgo que a literatura angolana, talcomo a literatura moçambicana,têm uma geração mais jovem. Ouseja, autores que actualmente têmentre os trinta e quarenta anos,que têm tido obviamente mais dificuldadesde publicação em faceda privatização das editoras. Digamosque é uma geração que vemda guerra, em que os interessesculturais e a vida cultural foramdiferentes. Portanto, a literaturaangolana está atravessar uma fasede desenvolvimento, mas que nãoé tão perceptível assim, em que osnomes ainda não se ambientaram.Há a possibilidade de publicaçãode muitas obras, obviamente sefalarmos de autores com nomesjá feitos, como Pepetela, como LuandinoVieira ou como UanhengaXitu. Digamos que ela mostra queos autores continuam a ter umaprodução significativa, actualizandoos temas e diversificando asáreas temáticas. Julgo, enfim, queé uma literatura muito promissoraa literatura angolana.SA – Comparativamente aosanos 80, altura em que havia claramenteuma produção literáriabastante significativa, com aUnião dos Escritores Angolanose a Brigada Jovem de LiteraturaCIRCUNSTÂNCIA em que Ana Mafalda Leite conversava com o jornalistaAngolana no papel de charneiranesse período, de resto foi da Brigadaque saiu grande parte dosescritores que hoje compõem omosaico literário angolano, nãoteme que se esteja a cair num decréscimode produção literáriaem Angola?AML – Não! Julgo é que nadécada de 80 havia outras condiçõesde publicação, e os escritoresjovens eram estimulados atravésdas publicações da União. Nãoquer dizer que hoje não sejam,mas digamos também que o papeldo intelectual, do escritor, talvezfosse valorizado de uma outraforma. Hoje em dia os jovens têmoutras apetências como a Internet,os Medi, e outras áreas culturaisque não necessariamente apenasa escrita. De modo que me parecetambém que há um défice de leitura.Então, digamos que há umamaior dificuldade também na escrita,algo que acontece tambémem Moçambique.SA – Há uma outra questão,para a qual gostaríamos de tera sua opinião autorizada, quetem a ver com a crítica literária.Parece-nos que ela tem sido meiaintermitente, não regular. Qualé avaliação da professora?AML – Mas não será assimeternamente. Estão a formar-sepessoas, estão a surgir pessoas quevão ter intervenção crítica na área.A Universidade está a formar gentena área da literatura e há outrosque estão a estudar fora que vãoregressar. De modo que é uma situaçãotransitória. Nós temos quever as coisas dentro do seu contextocronológico, porque em 33 anosde independência formaram-se asprimeiras gerações, licenciaramse,doutoraram-se, mestraram-seas primeiras pessoas nesta área.Durante o período de guerra, aUniversidade praticamente estevefechada, então digamos quehá um corpus intelectual que vaicom o tempo crescer naturalmente.Se, por um lado, este corpuscrítico não é muito pujante, poroutro lado, no campo editorial,nós verificamos que nos últimosanos houve um grande crescimentoeditorial. E hoje em dia há umaactividade que nós verificamos nosjornais e em diversas áreas quenão apenas a literatura, como oteatro, a dança, a declamação emLuanda e noutras zonas do país.Há uma diversificação cultural.SA – Falou da faculdade deLetras, que pode fornecer ferramentasindispensáveis para osfuturos estudiosos da literaturaangolana. Quais são os meiosque estes poderão utilizar parase tornarem de facto nos mestresda crítica literária em Angola?AML – Ler, ler muito e ler diferentesliteraturas, não apenas aafricana, para poderem teruma capacidade de apreciaçãoanalítica e comparativa. Ler notempo. Esta geração mais jovemquer tudo muito rapidamente,mas ler é um ofício demorado.Quer dizer, para se ler, não se podever televisão o dia todo, ou estarna Internet todo dia.SA – Olhando para a figura deÓscar Ribas, qual a importânciada sua produção literária para aliteratura angolana?AML – Naturalmente que temuma grande importância. Aliás,o recente encontro em torno da figurade Óscar Ribas vai permitir areedição das suas obras, o que farácom que as pessoas leiam e tenhamcontacto com a grandiosidade dasua escrita, a transição que ele fazda cultura oral para a cultura escrita,que me parece fundamental.SA – Uma crítica que hoje se fazao Óscar Ribas é relativamenteàs dedicatórias que geralmentese encontravam nas suas obras,supostamente favoráveis ao regimecolonial. Que comentáriose lhe oferece fazer sobre este aspectoem concreto?AML – Ontem houve um depoimentomuito interessante, de umsenhor que trabalhou com ele muitosanos, que o ajudava a transcrevere que ia fazer as entrevistas.Esse depoimento mostra queÓscar Ribas era um homem queao lutar pela sua cultura estavaa lutar pela identidade e unidadenacionais. Por outro lado, ele <strong>sem</strong>presalvaguardou com coragem aimportância da cultura angolana,e nunca fugiu a isto, através doconhecimento e da divulgação dosaspectos ligados à língua e à culturakimbundu e não só. De modoque certo tipo de frases dedicatóriasde modo nenhum comprometeo texto de Óscar Ribas com o regimecolonial.SA – Segundo Michel Laban,Óscar Ribas teria tido a intençãode reeditar «Nuvens quePassam», a sua primeira obraliterária, mas tal não aconteceu.Do seu ponto de vista, acha queteria sido oportuna fazer-se umareimpressão, numa espécie decolectânea, para a posteridade?AML – Sim, desde que o autorconheça bem a obra dele, e quetenha a responsabilidade de fazeruma antologia.SA – Numa só palavra, comoé resume este encontro sobre ocentenário da vida e obra de ÓscarRibas?AML – Acho que foi um encontromuito importante. Porque é oreconhecimento da obra de umamemória histórica da literatura,de um homem que simultaneamentetrabalhou com uma mão naliteratura oral, e outra na literaturaescrita. E é muito importantetambém porque toda a literaturaafricana vive nesta fronteira. ■


Sábado, 29 de Maio de 2010. 41Riscos corridos por HervéEmpate caseiro complica acesso ao CHANAspirações angolanascomprometidasSilva CandemboÉóbvio que nada aindaestá perdido e pelasua qualidade, aliada àgrande ambição do técnico,Angola pode fazer melhordentro de uma <strong>sem</strong>ana em Lilongwe,quando disputar a segundamão. Mas, apesar de o históricodos embates entre ambas as selecçõester registado já uma vitóriadas «Palancas Negras» no terrenodesse adversário, é preciso reconhecerestá tudo muito complicadopara a equipa nacional chegarao Sudão’2011As «Palancas Negras» hipotecarampraticamente grande partedas possibilidades de chegar à fasefinal do CHAN, depois do empatecaseiro a um golo diante do Malawi,em partida disputada Sábadopassado, 22, no estádio 11 deNovembro, referente à segunda«mão» da última ronda eliminatóriada zona VI qualificativa paraa prova.Como escrevêramos na ediçãopassada na projecção do desafio,apesar da superioridade teóricados angolanos a vitória na partidacom o Malawi não seria favascontadas. E efectivamente nãofoi. De tal sorte que o empate foialcançado a duras penas e a selecçãode Angola só não perdeu pormuita sorte, visto que fez muitopouco para alcançar o triunfo.Depois da sólida exibição frenteao México, esperava-se que aselecção nacional «arrasasse» oMalawi. Mas como nunca há doisjogos iguais, isso não aconteceu.A equipa comandada pelo francêsHervé Renard foi incapaz dechamar a si a vitória. E a incapacidadedemonstrada nesse jogofoi absolutamente confrangedora,na medida em que foi completamentecontrolada pelo astuto econfiante adversário que teve pelafrente.O que aconteceu é que praticamentena única vez em que foià baliza angolana com perigo, oMalawi marcou. Depois disso,controlou a partida e com umadefesa bastante bem colocadaanulou todas as investidas deAngola. Esta, por seu lado, tevepouca perspicácia na procura dogolo de empate e de outros quepoderiam garantir-lhe a vitória e,eventualmente, um resultado quelhe permitisse encarar a segunda«mão» <strong>sem</strong> sobressaltos.Renovada em quase 70%, aformação de Angola nunca conseguiuencontrar-se em campo.Nem parecia que dias antes tinhabatido o pé ao México, que nãoconseguiu mais de uma raquíticavitória de 1-0, apesar do seu «status»de mundialista e de selecçãomais forte da CONCACAF, aconfederação que reúne os paísesdas Caraíbas, e Américas centrale do norte.Em boa verdade, pelo menosdo meio campo para a frente erampoucos os jogadores que já tinhamjogado juntos e que conheciam.Logo, os automatismos nãoestavam devidamente afinados e,por isso mesmo, nunca chegavamà baliza contrária com o perigoque se esperava. Se quisermos serrigorosos, mesmo o golo de empateda equipa angolana não foifruto de uma jogada devidamenteestruturada, tendo sido mais obrado acaso porque o lance em si nãoera de todo perigoso.Com isso, sábado próximo, 5de Junho, as «Palancas Negras»vão encarar a segunda «mão»deste última eliminatória algofragilizadas, visto que terão pelomenos de marcar um golo, sequiserem chegar à fase final. Depoisdisso, terão de tentar mantera vantagem e mesmo que soframo tento de empate têm <strong>sem</strong>pre apossibilidade de decisão atravésde pontapés da marca da grandepenalidade.Se a partida de Luanda foi dificílimapara os angolanos, pormaioria de razão será ainda maiscomplicado quando disputaremo fecho da eliminatória em Lilongwe,cidade onde a altitudepode ter grande influência. Deresto, o histórico dos embates,que não são poucos, entre ambasas selecções não regista nenhumavitória da nossa selecção nacionalfora de portas. Em rigor,em casa do Malawi o melhor queAngola conseguiu foi um empate<strong>sem</strong> golos. ■Sempre que se contrata um novo técnico para a selecção nacionalde futebol, as esperanças de uma prestação melhoradarenascem. E isto é mais evidente quando o treinador é estrangeiro,não se sabe se por algum complexo de inferioridade –quantas pessoas pensam que só o que vem de fora é que é bom?! –, algoque aconteceu muito recentemente, quando Hervé Renard assumiu ocomando das «Palancas Negras».Todos estavam esperançado em como o novo técnico pode operarmilagres, principalmente depois que a selecção esteve razoavelmentebem no «amistoso» com o México há sensivelmente duas <strong>sem</strong>anas. Sóque o resultado com o Malawi – nunca antes o «onze» nacional tinhadeixado de ganhar em casa a este adversário, havendo inclusive registosobre uma goleada de 5-1 em 2003 para as eliminatórias do CAN’2004– deixa claro que há ainda muito caminho a percorrer.Pelas declarações que tem feito na mídia, é fácil perceber que o novoseleccionador é bastante ambicioso e quer ir longe. Pelas suas opções,torna-se claro que ele pretende renovar a equipa, o que é de todo legítimo,visto que é algo que se impõe há já muito tempo. Nesta casa, porexemplo, defendemos que este processo deveria ter começado ainda em2008, no Ghana, tendo em atenção a fase final do CAN que o nosso paisacabou organizando em Janeiro do corrente ano.Mas esta renovação tem muito que se lhe diga. A oportunidade damesma não está em causa. Antes pelo contrario, é imperioso que se faça.O que se questiona é a dimensão desse processo. Com excepção da defesa,onde os centrais praticamente se conhecem muito bem e já jogaramcom um dos laterais (o esquerdo), do meio campo para a frente as mudançasforam muitas, equivalendo a qualquer coisa como 60%.Este valor pode ser muito ou pouco, consoante os objectivos de Angolano CHAN. Sendo que para a próxima edição da prova o númerode selecções a participar na fase final subiu de oito para 16, é lógicoque Angola, enquanto pais que se pode considerar da segunda linhaimaginária do futebol africano – a primeira é o Top 10 –, deve marcarpresença na etapa derradeira desta competição. Em vários pronunciamentospúblicos, aliás, os dirigentes da Federação Angolana de Futebol(FAF) fizeram constar que gostariam de ver as «Palancas Negras» noSudão em 2011, quando se disputar a fase final do CHAN. Não poderiaser, aliás, de outra forma.Ora, sendo assim e mesmo se lhe reconhecendo doses industriais deambição, Hervé Renard não precisaria fazer grandes mudanças. Afinal,ele está entre nós há muito pouco tempo e ainda não conhece suficientementebem os jogadores, não só do «Girabola» como os poucos queactuam no estrangeiro. Mas ele correu o risco – calculado, diga-se – enão se deu bem. Pelo menos na primeira metade da eliminatória.É óbvio que nem tudo está perdido e é bem possível que a selecçãonacional passe a presente ronda eliminatória. De resto, no futebol nem<strong>sem</strong>pre a lógica impera e o que num dia é verdade no outro pode nãosê-lo. Com mais 90 minutos pela frente e com um conhecimento melhoradoda equipa de que dispõe, é provável que vá fazer boa figura e nofinal de contas sair com um largo sorriso.Nestes casos, porém, a prudência, que não faz mal a ninguém, aconselhaque a renovação seja paulatina. Foi assim que aconteceu, porexemplo, com Oliveira Gonçalves, quando esteve à frente das «PalancasNegras». Quando chegou ao comando da equipa nada pode fazer senãoaproveitar a estrutura deixada pelo brasileiro Ismael Kurtz e fazer asadaptações que se impunham, sendo que em algumas ocasiões inclusivamenteabdicou de determinados postulados da sua filosofia de jogo.No final, quando disputou o CAN’2008 já quase não tinha ninguémque tinha começado com ele a caminhada em 2003 e até tinha-se desfeitode algumas unidades que foram fundamentais na campanha quelevou Angola ao «Mundial’2006», na Alemanha.O mesmo aconteceu praticamente com Manuel José. Como sabia quenão dispunha de tempo para «inventar» e só tinha seis meses até aoinício do CAN’2010 mudou muito pouco no que a jogadores diz respeito.Mexeu, isso sim, na estrutura de jogo, passando do 4X4X2 parao 3X5X2, esquema a que a generalidade dos nossos jogadores da defesae do meio campo não está habituada. No final de contas, não se saiu tãobem como era desejável.É óbvio que dois jogos são insuficientes para se julgar o trabalho deum técnico. Também é lógico que nada nos garante que se a renovaçãode Hervé Renard não fosse tão profunda para já o resultado da primeira«mão» seria outro. Mas pelos muitos exemplos que vão surgindo umpouco por todo o Mundo, em regra as reformas radicais não costumamdar muito certo. Pode ser, entretanto, que o francês consiga efeito contrário,pois só se jogou ainda uma parte da eliminatória. ■


42 Sábado, 29 de Maio de 2010.DesportoFoi o mais baixo desde os anos 60Número de angolanos nas Ligas portuguesas«dizem» bem da qualidade dos nossos jogadoresSilva CandemboHá duas <strong>sem</strong>anas terminoua temporada futebolistaem Portugal,durante muito tempoo «eldorado» dos jogadores angolanosque pretendes<strong>sem</strong> emigrarpara outras paragens, algo queacontece ainda desde o tempo daProvíncia de Angola. A época lusaora finda revelou indicadores preocupantespara o futebol do nossopaís, na medida em que aquelepedaço de chão representava aesperança para os poucos que sedestacas<strong>sem</strong> entre nós continuaremas respectivas carreiras a umnível já mais avançado, competitivamentefalando.Ao contrário do que aconteciaem tempos idos, o número de angolanosnas duas principais Ligasde Portugal era razoavelmentebom. De tal sorte que o nosso paísjá chegou a ter durante uns bonsanos a maior «legião estrangeira»dessas duas provas, depois,naturalmente, da representaçãobrasileira, que é a maior em quasetodos os campeonato do Mundo.Por isso, os nossos «portugueses»,maioritariamente dos escalõesDJALMA CAMPOS foi dos poucos que esteve bem na última época lusasecundários, dominavam numericamentea selecção de Angolaem termos de representatividade.No «onze» nacional chegou inclusivamentea ter jogadores de clubesdesconhecidos da maioria dosangolanos como os Caçadores dasTaipas ou o Anadia FC.Há uns para cá, porém, o númerotem baixado substancialmentee na época terminada nopassado dia 16, foi o mais baixode <strong>sem</strong>pre, inferior inclusivamenteaos tempos do monolitismoem Angola, quando o regime nãopermitia que ninguém jogasse noestrangeiro. Mais do que o exíguonúmero de angolanos nas duasprincipais Ligas portuguesas, oproblema é que praticamente nãohouve destaque nenhum, sendoque os melhores estiveram só umpouco acima da média se comparadoscom todos os outros jogadoresdessas competições.Além disso, houve inclusivamentejogadores que sequer jogaramdurante toda a temporada,sendo o caso mais flagrante ode Pedro Mantorras, «herói» dacampanha que deu ao Benfica deLisboa o título português de 2005,quando foi o melhor marcador daequipa. Os outros são o lateraldireito Marco Airosa, do Nacionalda madeira, ele que esteve noCAN de 2008 e no «Mundial» de2006 com as cores da selecçãonacional, Stélvio Cruz e SantanaCarlos. Estes dois últimos afivelaramas malas e retornaram aAngola.Santana Carlos voltou à casaantes ainda do início da temporadalusa – não conseguiu imporseno Guimarães –, ao passo queStélvio Cruz regressou na reaberturado mercado, mais ou menosno meio da época. Estes dois casosdos «regressados» não deixam deser preocupantes, principalmenteo de Stélvio Cruz que já passoupelo Sporting de Braga, visto queambos os jogadores são relativamentejovens e podiam tentar osucesso noutros emblemas portuguesesou fora da lusa pátria. Mas,ao regressarem, fica a impressãoque não terão demonstrado valorbastante para actuar em Ligasbem mais competitivas do que aangolana que acabou sendo umaespécie de «bóia de salvação».Os pouquíssimos destaquesangolanos nos dois principaiscampeonatos portugueses foramEdson SilvaNome a reterEdson Silva é um nomeque pouquíssimos angolanosconhecem porrazões óbvias. Primeiroporque ele é jovem e depoisporque não joga em nenhumaequipa sénior de Portugal. Masé alguém que pode ser tido emconta para a selecção nacional,já que tem demonstrado grandeevolução.Defesa central do Benfica deLisboa na categoria de juniores,este jovem nascido em Luandahá 17 anos, mais precisamentea 10 de Setembro de 1992, já representoua selecção portuguesade juniores (Sub-19 A).Chegado ao Benfica em 2006,ele pode representar a selecção deAngola se assim o entender, poisas regras da FIFA permitem issomesmo. Para tanto ele não deverájogar na selecção AA de Portugal.Três abalaram e dois não jogaramQuem foi quem nas Ligas portuguesasQuando começou a temporada ora finda em Portugal, estavam inscritos 10 jogadores – o mais baixo desde os anos 60 – estavam inscritos 10angolanos nas duas principais Ligas lusas, sendo sete na primeira e três na segunda. Mas no final de contas, quatro abalaram para outros campeonatose dos seis que permaneceram, dois não jogaram. Segue a lista dos que começaram a época:Nome Idade Posição Clube Divisão Jogos MinutosMantorras 28 Avançado SL Benfica I 0 0Djalma Campos 23 Avançado Marítimo SC I 28 2066Mateus Galiano 25 Avançado CD Nacional I 12 528Marcos Airosa 25 Defesa CD Nacional I 0 0Carlos Fernandes 30 Guarda-redes Rio Ave FC I 28 2431Santana Carlos 26 Avançado SC Guimarães I 0 0Stélvio Cruz 21 Médio U. Leiria I 0 0Hernâni 30 Defesa Sta. Clara II 12 998Capucho 23 Avançado GD Chaves II 12 590Valdinho 20 Avançado Freamunde II 0 0


Sábado, 29 de Maio de 2010. 43Desportoo guarda-redes Carlos Fernandes(Rio Ave) e o atacante DjalmaCampos (Marítimo da Madeira).Estes jogaram com grande regularidadee estiveram em quasetodos os principais momentosdas respectivas equipas, chegandomesmo a brilhar em muitosdesafios. Geralmente muito utilizadoantes, Mateus Galianonão o foi na temporada finda porconta de usa lesão que inclusivamenteo tirou da fase final doCAN’2010.Feitas as contas, apenas sete angolanosestiveram inscritos na IDivisão portuguesa, denominadaLiga Sagres, sendo que quatro delesjamais foram utilizados tantono campeonato como na Taça dePortugal. Na II Divisão, tambémconhecida por Liga Vitalis, quejá foi um grande «fornecedor» daselecção nacional, estavam inscritossomente três. Contudo, doisacabaram emprestados (ler caixa),com um a perder-se nos escalõesterciário de Portugal e outroa vir para o InterClube de Angola.O único que competiu aqui foiHernâni, ele que foi ensaiado naposição de lateral direito por ManuelJosé mas não esteve entre os23 que participaram na fase finaldo CAN’2010.Por mais curioso que possaparecer, a «salvação» da honraangolana nos campeonatos portuguesesesteve no «banco». Ouseja, estiveram em bom planodois treinadores angolanos. Trata-sede Lito Vidigal, que durantegrande parte da época orientoua União de Leiria, da I Divisão,depois de ter deixado o Portimonense,do escalão secundário. Ooutro é Lázaro Oliveira, técnicodo Penafiel, onde substituiu quaseno início da temporada o portuguêsBruno Cardoso.Lito Vidigal, 40 anos, fez umbelíssimo trabalho, ocupando onono lugar da Liga Sagres, comuma equipa praticamente <strong>sem</strong>«estrelas». Foi por pouco que nãoconseguiu um lugar na Liga Europa,o equivalente europeu daTaça da Confederação em África.Por seu turno, lutando com dificuldadesde toda a ordem, LázaroOliveira assegurou muito cedo apermanência do Portimonense,ficando na sétima posição da LigaVitalis. Em cada uma das competiçõesparticiparam 16 formações.Como se sabe, ambos (principalmenteLito Vidigal) foramdurante largos anos jogadoresda selecção nacional de futebol,tendo participado na fase finaldo CAN’98, no Burkina-Faso.Os dois já fizeram dupla técnicado Estrela da Amadora há algunsanos e quando Justino Fernandese pares procuravam técnico paraas «Palancas Negras», estranhamentenunca foram tido em conta,eles que conhecem muito bemo futebol angolano, com o qualmuito se identificam por razõesóbvias. ■Os que saíram de PortugalDe cavalo para burro...Além do abaixamento do número de angolanos em Ligaseuropeias, o futebol angolano da actualidade, cujaexpressão concentrada é a selecção nacional, houve umoutro problema igualmente preocupado. A saída de jogadoresseleccionáveis para campeonatos bem menos competitivo doque os deixados para trás.Assim, além dos casos de Stélvio e Capucho, saídos de Portugalpara o «Girabola», bem como o de Kali, saído do Arles-Avignon(França), há ainda o de Zé Kalanga, que deixou o Dínamo de Bucarestepara vestir a camisola do Recreativo do Libolo.Por outro lado, é de assinalar a saída de duas «palancas» da I Divisãolusa para campeonatos mais fracos. São designadamente EdsonNobre, que foi ao Chipre representar o Achnas e antes de terminara temporada veio para o Recreativo do Libolo. O outro é Dedé, quedecidiu-se pela Liga da Roménia, onde representa o Poli Timisoara.Em termos práticos, ninguém deu um salto qualitativo nas mudançafeitas na temporada ora finda na Europa. Isto é caso para dizermosque quase todos saíram de cavalo para burro, passe a rudezada expressão neste caso concreto. ■Quase ninguém...No Benfica de LisboaQuem temos (mais) na Europa?Como referimos, Portugal <strong>sem</strong>pre foi o «eldorado» dos futebolistas angolanos. Várias razões, sobretudo deordem cultural ditaram a tendência. Nem mesmo em França, que tem a maior legião mundial de jogadoresafricanos os angolanos conseguiram lá chegar em número considerável. Doutros países do chamado velhocontinente... nem pensar. Eis, entretanto, a curtíssima relação de angolanos noutros países da Europa quenão Portugal:Nome Idade Clube DivisãoLuís Delgado 30 Guingamp (França) FaseDominique Kivuvu 22 NEC (Holanda) PrimeiraDedé 28 Timisoara (Roménia) PrimeiraTiti Buengo 30 Châteauxroux (França) PrimeiraManucho desceu com o ValladolidAngola <strong>sem</strong> representanteem nenhuma grande LigaÉ o fim da picadapara Mantorras...Um dos jogadores mais acarinhados pelos adeptos e massaassociativa do Benfica de Lisboa, Pedro Mantorras estápraticamente com os dois pés fora da Luz, pois o técnicoJorge Jesus não conta com ele para a próxima temporada,altura precisamente em que vence o seu contrato.O avançado, de 28 anos, foi submetido a duas intervenções cirúrgicas(uma delas mal feita) ao joelho direito, que o condicionaramgrandemente e, ainda assim, foi o «jogador talismã» do Benficacampeão em 2005, tendo sido o melhor marcador da equipa.Se quiser continuar a jogar, Mantorras que se transferiu do AlvercaFC para o Benfica em 2001, ano em que foi campeão africanode juniores, terá de ir para outro clube, apesar de o presidente LuísFilipe Vieira ter dito que só sairia se quisesse em resposta ao angolanoque tinha manifestado o ano passado interesse em continuarde águia ao peito.Mantorras, que sequer apareceu nos festejos do título benfiquistadeste ano, tem de ser submetido a trabalho específico caso decidacontinuar a jogar, mesmo fora do Benfica, onde a versão oficial é queo jogador foi dispensado para tratar de assuntos pessoais. ■É consabido que as grandes selecções a sul doSahara só o são porque fazem recurso aos seus jogadoresque actuam nas principais Ligas da Europa.Angola, bem ou mal também tinha lá os seus jogadores,embora muito poucos lograram passar peloscinco campeonatos mais competitivos do chamadovelho continente, designadamente os da Espanha,Inglaterra, Itália, Alemanha e França.Com todos a generalidade dos campeonatos europeusjá terminados, o balanço para os jogadoresangolanos é francamente mau. Por exemplo, Manucho,o único que actuava numa das mais importantesligas da Europa acabou por descer de divisão como seu Valladolid. E pelos visto, dada a sua prestaçãoapenas mediana, muito dificilmente sairá para umclube da I Divisão.Freguês da selecção nacional nos últimos quatroanos – esteve no «Mundial’2006» e nos CAN’s de2008, e 2010 – Rui Marques acaba de ser dispensadodo Leeds United, da Inglaterra, que este ano subiu daIII para a II Divisão do futebol daquele pais europeu.Aos 37 anos de idade e praticamente já <strong>sem</strong> elasticidadenenhuma, o polivalente jogador já não encantao técnico, sendo muito provável que vá pôr termoa sua carreira ou... regressar a Angola como está aacontecer com muitos atletas já entrados na idade.PELO menos no Benfica Mantorras não fica


Sábado, 29 de Maio de 2010. 44AguinaldoJaimeOrganizaçõesKabuscorpRaulDuarteJoséJanotaPolíciaNacionalMinistériodo InteriorÉ possível que quandolá chegou, o projecto deinformatização de contactosentre a Agência do InvestimentoEstrangeiro eos potenciais interessado<strong>sem</strong> cá montar negócios jáestivesse em curso, mas éa Aguinaldo Jaime a quemcabem os louros pela suaimplementação plena. Aoque se sabe, a ANIP fezuma aposta séria no domíniodas novas tecnologiasde informação, que passa apermitir-lhe a obtenção demaior proximidade comos potenciais investidoresestrangeiros, que agora nãoprecisam mais de se deslocarexpressamente a Luandapara tratarem do processode apresentação daspropostas de investimento.E com isso, é o país quemganha. E de que maneira! ■Ao mesmo tempo emque a sua equipa de futebolconseguia preciosa vitóriano Huambo, diante daCaála, estando agora emboa posição no Girabola,o presidente das OrganizaçõesKabuscorp tambémsomava mais pontos nasua cotação, ao dar continuidadeao seu projectode apoio à juventude, quelhe tem valido aplausos dasociedade, por um lado, edo partido dos camaradas,a serviço do qual estará,por outro. No Huambo,Bento Kangamba tratou deoferecer kit’s de trabalhopara jovens engraxadores,pedreiros e sapateiros, que,reunidos em grupos de 60,beneficiaram ainda de seismil dólares não reembolsáveis.Ah, se mais Kangambashouves<strong>sem</strong>… ■Depois de andar a papartudo na «bola ao cesto» cádo burgo, na qual parecianão ter mais (e praticamente)concorrentes, nosentido lato do termo, o 1.ºde Agosto passou a ter agoramotivos de preocupaçãoem relação à conquista dasprincipais competições.Para já, ficou <strong>sem</strong> a Taça deAngola, na qual foi batido,algo surpreendentemente,pelo Recreativo do Libolo,uma equipa emergente,que tem dado cartadas, superandoos antigos rivaisdo clube militar. Se aindahaviam dúvidas, o Libolotratou de desfazê-las,ao dar uma «cabazada» aLutonda e companhia, emjogo do campeonato. Etudo isto se deve essencialmentea um homem: RaulDuarte. ■Decididamente, num funeral,não se deve ir vestidocomo se vai para a discotecaou para a praia, com roupasde cores berrantes ou assim.Contudo, foi precisamentevestido assim que o conhecidocantor José Janota, oZecax, se apresentou nofuneral de Vate Costa, dequem seria até amigo, mandandoàs urtigas a discriçãoque o carácter da cerimóniaexigia, em claro desrespeitoà memória do falecido. Hágente que gosta de dar nasvistas a todo o custo. E sequis dar nas vistas, Zecaxo conseguiu. Só que muitopela negativa. Grande partedos presentes ficou aborrecidacom a sua «descontracção»,mesmo sabendo quealguns artistas gostam dedar um ar de extravagância.Foi mau. ■Mesmo depois dos avisosdo 2.º comandante aosseus agentes, em como nãose tolerará mais o desvirtuamentodo papel da Polícia,muitos deles continuam afazer tábua rasa aos «apelos»de Paulo de Almeida. Istovem a propósito do caso deum cidadão perseguido porsupostos agentes da corporação,que o têm procuradomascarados, à madrugada,na sequência de um conflitode gravidez entre duasfamílias, no Rangel. O visadojá participou do caso emvárias esquadras policiaisdo município, mas, curiosamente,ninguém o atende,o que deixa implícita apossibilidade das incursõesilegais do «esquadrão» seremdo conhecimento daschefias. Pelo menos, a nívellocal. ■A responsabilidade pelostumultos de quarta-feira,na cadeia de Viana, deveser assacada ao ministériodo Interior. É que eles foramprotagonizados porex-militares a quem foiprometido enquadramentonos serviços prisionais,mas que, em face de umaqualquer barreira burocrática,caíram no desesperopor terem visto mais umavez o emprego pelo binóculo.Ao que consta, depois deconvocados para saberemquem tinham sido os escolhidos– mil em vários milhares-, foi-lhes comunicadoque não seria desta tãologo assim. Como é lógico,em se tratando de pessoasjá desesperadas, daí para arevolta foi um ápice. Nãose deve brincar com a fomedos outros. ■Fuma mais de quarenta cigarros por diaBebé viciado em tabacoArdi Rizal tem apenas dois anos, mas é já umcampeão em maus hábitos. Sentado no seucarrinho de brincar preferido, fuma mais de40 cigarros por dia.A criança, nascida na Indonésia, fumou o primeirocigarro quando tinha 18 meses e a partir daí não largoumais o vício.Foi o pai, Mohammed, quem lhe deu o primeiro cigarro.A mãe, Diana, diz: «é completamente viciado. Senão lhe damos cigarros, fica zangado, grita e bate com acabeça nas paredes. Diz-me que se sente doente».Este mau hábito custa aos pais de Ardi cerca de quatroeuros por dia. Além de que a criança exige fumar apenasuma marca de cigarros.As autoridades indonésias já propuseram aos pais dacriança oferecer-lhes um carro se Ardi deixar de fumar.No entanto, o pai, um pescador, mostrou-se pouco preocupado,dizendo: «Ele parece bastante saudável. Nãovejo qualquer problema».De acordo com um estudo da «Central StatisticsAgency», na Indonésia, cerca de 25% das crianças dostrês aos quinze anos já experimentaram cigarros, sendoque 3,2% são fumadores activos.Pai leiloa filho«Ofertas abertas». O cartaz colocado no corpo do miúdoque está acorrentado a um poste anuncia o objectivodo pai. Sem dinheiro, após a morte da mulher, Yong Tsuitentou leiloar o filho para trabalho escravo numa cidadedo centro da China.Yong Tsui decidiu arranjar dinheiro para ter uma casaleiloando o trabalho do filho de 8 anos. O leilão foi levadoa cabo na rua, com a criança amarrada a um poste.Junto da criança, uma placa anuncia o nome, a idade ea capacidade para executar trabalhos árduos.O problema aconteceu quando, questionado por algunstranseuntes, começou a explicar que o filho quasenão comia e acabou por ser agredido por quem discordavado negócio.As autoridades chinesas tomaram conta do caso, tendosob os seus cuidados o pequeno rapaz, em Wuhan, nocentro da China.Em declarações à Polícia, Yong Tsui explicou quedecidiu leiloar o filho porque não tinha dinheiro e pretendiaconseguir algum para poder pagar a casa ondevivem.«Ele não tem trabalho, não tem casa nem dinheiro.Disse que não estava interessado no dinheiro, que sóqueria encontrar uma casa para o rapaz», explicou umagente da Polícia ao correspondente de um jornal.

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